— Bom dia, Maithê! — a voz de Adam reverbera da cozinha, não há indícios de mau humor, nem de irritação. Ele está sem camisa, diante do meu fogão, fazendo panquecas. Vários ingredientes estão organizados no tampo da pia, há uma vasilha suja e uma pilha de panquecas em um prato no fogão.
— Bom dia! — devolvo baixo, pois quem está irritada agora sou eu, por ter esse cara invadindo a minha cozinha, preparando panquecas como se estivesse na sua própria casa, vestido apenas com um short fino de pijama.
Quanto desrespeito, porém uma cena linda de se ver.
Por fim, tomei um comprimidinho de calmante que Júlio costuma receitar para os meus dias difíceis e acabei pegando no sono rapidamente, com a porta do quarto trancada. Embora tenha tido uma experiência maravilhosa com Adam, me arrependi muito por ter agido de forma impulsiva e carnal. Existem muitos detalhes que impossibiltam esse tipo de envolvimento, como por exemplo eu não estar preparada para algo a mais, mesmo que esse algo inclua apenas sexo.
Estou em uma fase da minha vida pessoal que apenas gira em torno da Ashley e da minha profissão, ao qual depois de tantos anos, estou colhendo os frutos do meu plantio. Foi difícil chegar onde cheguei, vendendo minhas roupas de porta em porta, em barraquinha na praia, enfrentando momentos difíceis durante a crise, aprendendo a aplicar o dinheiro que minha madrinha deixou apenas no necessário. De tudo, o pior foi o preconceito, por as pessoas não valorizarem o nosso trabalho dos próprios conterrâneos.
Há uma julgamento muito forte com relação às caiçaras, por viverem em uma comunidade simples, serem da classe baixa, alguns até mesmo sem educação escolar, vindos de famílias de pescadores. Ficou na cabeça das pessoas a imagem de crianças pedintes, de adultos que viviam pela cidade ou pelas praias mendigando uma ajuda, mas, graças a Deus, por conta do passar dos anos, das mudanças, do trabalho da minha madrinha para ajudar esse povo sofrido, muita coisa mudou, mas as pessoaa parecem querer não ver, pois é mais fácil manter o estereótipo. Talvez seja uma característica do ser humano em si — não apenas da minha região — querer ser superior diminuindo as outras pessoas pela classe social.
— Fiz panquecas para o café da manhã. — diz desligando o fogão.
— Percebí! — abro a geladeira em busca de um iogurte.
— Achei o pó de café, mas não encontrei a cafeteira.
— É que eu preparo de forma tradicional, no coador de pano. — Adam faz careta, como se eu estivesse falando uma sandice. Giro no calcanhar tirando o lacre da garrafinha rosada depois de agitar, indo até o armário, abrindo a parte de baixo para pegar uma chaleira. — Pode deixar que eu mesma faço.
Ligo a torneira, enchendo com água a chaleira de inox, ligando o fogão e colocando-a para esquentar. Durante o processo vou bebendo o meu iogurte de morango, ignorando Adam que está de pé com os olhos presos em mim. O pote com o café está junto co a farinha de trigo e os outros itens que foram utilizados para o preparo do café. Pego a garrafa térmica, o coador e posiciono na pia, pego uma colher para pegar o café.
Em um gole maior termino de beber o conteúdo do potinho, lavando-o na pia para não ficar resquicios do produto. Dou umas sacolejadas e caminho até a área de serviço, abrindo a lixeira vermelha, onde deixo as embalagens plásticas. Gosto de separar todas as embalagens, descartando-as de acordo com o tipo, para facilitar quando o carro da reciclagem passa. Foi algo ao qual mamãe me conscientizou desde sempre, por morarmos em uma cidade com praia, é normal os turistas abandonarem seus lixos de qualquer forma, em qualquer lugar. Não culpado apenas eles, pois muitos de nós não possuem essa educação com o lixo, na verdade, nesse país não fomos ensinados a tratar o nosso lixo com cuidado. Todas as vezes que consumo alhum produto, faço questão de separar e quando estou fora de casa e não encontro lixeiras com coletores separados, costumo trazer para descartar aqui. É a minha pequena dívida sendo paga com o planeta terra.
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Nascida para Amar
ChickLitDona de seu próprio empreendimento, Maithê se vê alcançando tudo o que sempre buscou durante todos os seus vinte e cinco anos. Batalhadora e esforçada, sempre dera valor ás pequenas e simples coisas da vida. Morando em uma cidade praiana, assiste...