Prólogo

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Triunfam aqueles que sabem quando lutar e quando esperar.

Sun Tzu

Eu podia sentir o perigo se aproximando. A cada minuto que se passava, mais perto ele ficava. Não podia correr e não havia onde se esconder. Meu corpo permanecia estático. Não era o medo que me entorpecia, nem raiva ou qualquer outra coisa que eu pudesse sentir naquele momento. Era apenas a consciência de que eu deveria ficar exatamente onde estava. Eu não estava no controle de minhas ações, então agia como se eu fosse uma sombra de mim mesma, eu obedecia.

O brilho da lua era minha única fonte de luz. Entretanto, eu não me preocupava com a escuridão e a floresta não me assustava. Aquela era minha casa, meu refugio. Fazia parte de quem eu era. Mas ai entra a questão: Quem eu sou?

Podia sentir tudo a minha volta. Desde o cheiro da chuva até o cheiro do sangue que cobria a palma de minhas mãos e a roupa que eu usava. O sangue era familiar, mas eu não sabia dizer de onde vinha, ou porque ele estava em mim. No começo, sempre que isso acontecia, eu entrava em desespero, mas agora, isso não me assustava mais, pois eu sabia o que viria a seguir. Era a mesma coisa todas as noites. Aquilo não era real. Era uma invenção de minha mente. Uma ilusão apenas. Entretanto eu sentia que tudo isso tinha um significado.

Foi então que eu o vi, surgindo dentre as arvores. Primeiro achei que era a ameaça desconhecida que eu sentia, mas não era. O lobo negro se aproximou a passos cautelosos, como das outras vezes. Não havia perigo ali, de alguma forma, eu sabia que ele não iria me machucar. E então ele parou em frente a mim, ele era grande. Tinha o triplo do tamanho de um lobo normal, e jamais desviava seus olhos dos meus. Era como se ele quisesse me dizer algo importante através daquele olhar. Havia uma profunda dor e tristeza refletida ali, e isso fazia com que eu sentisse a necessidade de consola-lo.

Eu avancei um passo, e estendi a mão para toca-lo, mas acho que o assustei, já que ele recuou e então sumiu em meio a escuridão. Me deixando novamente sozinha. Eu não tinha para onde ir e sabia que não iria encontra-lo novamente. Então apenas me sentei sobre um tronco de arvore caído, e encarei o sangue que manchava a extensão de meus dedos. Podia sentir as lagrimas escorrendo por meu rosto, mas não sabia dizer o porque de estar chorando.

Então lá estava ele. Nikolay se sentou ao meu lado, tirou um lenço de linho do bolso de sua calça e pegou minhas mãos, limpando o sangue delas. Não o questionei sobre o que ele estava fazendo. Pois já sabia a resposta.

_Odeio isso _Eu disse por fim, quebrando o silencio entre nos._ No fim sei que isto é apenas um sonho. Mas ainda assim, tenho a sensação de que algo esta faltando.

_Eu sei que odeia. Mas tudo o que precisa fazer é acordar pequena. _Ele respondeu apenas.

_Quero respostas. Quero saber, por que estou aqui? Eu machuquei alguém? Quem é o lobo que apareceu agora a pouco? E do que estamos fugindo?

_Todos nos queremos alguma coisa Sophie, mas nem sempre estamos prontos para as respostas que buscamos. _Ele apenas me chamava de Sophie, em situações como esta. Entretanto aquele nome não significava nada para mim, tanto quanto o novo nome que me deram. E eu sabia que não teria as respostas que tanto buscava.

_Eu apenas estou cansada de não saber. Não sei quem eu sou. Não sei nada sobre mim, e ainda assim aqui estou eu. O mesmo sonho repetidas vezes, mas sem nenhum proposito...

_Tudo tem um proposito. Você precisa aprender a ter controle sobre si mesma. Suas emoções e sentimentos tornam você mais forte, mas se não se controlar, vai acabar perdendo o controle sobre elas, e sobre quem você é.

_E quem eu sou?

Quem eu sou? Quem eu sou? Quem eu sou? Quem eu sou?
....

Aquela pergunta ainda martelava em minha mente quando abri meus olhos. Eu já não estava mais na floresta, e não estava mais coberta pelo sangue. Invés disso, estava em minha casa. Ou pelo menos no lugar que aprendi a chamar de casa. Ainda eram oito da manhã, mas já podia ouvir a movimentação do lado de fora.

Joguei as cobertas para o lado e me levantei, o chão frio sob meus pés descalços era reconfortante. Meu quarto era o mais afastado dos outros. E era o único além do de Nick e das gêmeas que tinha seu próprio banheiro.

Lavei meu rosto e encarei meu reflexo no espelho sobre a pia do banheiro como fazia todas as manhas na esperança de algo tivesse mudado. O rosto que me olhava de volta, ainda era estranho para mim. Eu era uma desconhecida para mim mesma. Sem lembranças e sem passado. É estranho não saber quem você é, nem seu nome ou de onde você veio. Este é o meu caso. Tudo o que eu tinha era a sensação de vazio dentro de mim. Como se algo tivesse sido arrancado. Tudo o que sei é o que me disseram. Mas não é o suficiente. Eu precisava saber mais. Só assim eu encontraria o controle do que Nick tanto falava, até mesmo em meus sonhos, sobre mim mesma.

Meus cabelos escuros estavam cortados na altura dos ombros, contrastavam com o rosto pálido, e também havia os olhos azuis que pareciam sem vida em contraste com as olheiras, de mais uma noite mal dormida.

Aquela era eu. Ou pelo menos, fazia parte de quem eu era. E eu não estava sozinha nisso, nunca estive sozinha, desde o momento em que acordei, sem saber o meu próprio nome.

No fundo sabia que iria encontrar o que eu estava procurando, tudo o que eu precisava fazer, era seguir os conselhos de Nikolay e ter paciência. Eu iria encontrar minhas respostas, e recuperar aquilo que foi tirado de mim, custe o que custar.

Ascensão_Trilogia Wolf Black (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora