Capítulo VIII

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Algumas coisas mudam e evoluem. Outras jamais sairão do lugar.

(Lucian)

Enquanto andava com passos lentos, pela calçada de pedra, eu observava a vida a minha volta. O pequeno café na esquina, no qual levei Sophie uma vez. Uma loja de artigos femininos, de esportes, de pesca e outra de artesanatos. Um restaurante, um mercado, uma farmacia, e até mesmo um pequeno cinema, entre muitos negócios espalhados pela cidade.
Uma mistura de mordernidade e preservação histórica, Davenport sempre preservou o melhor de sua identidade.

Era uma cidade tranqüila, um bom lugar para se criar uma família. E minha alcatéia sempre fez o melhor para preservar a segurança e o bem estar daqueles, que ali viviam. Conforme eu passava, algumas pessoas acenavam em minha direção, com reconhecimento, alguns pareciam surpresos e satisfeitos em me ver, já que eu estive um bom tempo longe, mas agora eu estava de volta, e meu retorno simbolizava segurança para eles. Todos ali, sabiam quem e o que eu era, e até mesmo os humanos demonstravam respeito com relação a mim.

As ruas não estavam movimentadas. era domingo, e todos os comércios estavam fechados. Mas ainda assim podia ver alguns pais e filhos, passeando pelo centro da cidade. Muitos aproveitariam o tempo bom, para ir ao parque ou a praia. Eles pareciam alheios ao perigo que nos espreitava, e eu preferia que continuasse assim.

Deixei o centro da cidade, e segui sem rumo para a o lado oposto. A caminhada longa, nem mesmo me deixou cansado ou ofegante, mas me ajudava a pensar. Não demorou muito para que os comércios cada vez mais distantes um dos outros, desse lugar a grandes construções residências. Passei pela escola, e pelo parque ladeado pela floresta onde tive que procurar Sophie, no dia que Skar se transformou diante dela. Quando cruzei uma ponte de pedra, e alcancei o lado mais afastado da cidade, enfim me dei conta de para onde estava indo inconscientemente.

Atravessei os altos portões de ferro negro, e a trilha em meio as lápides antigas, que competiam espaço com a vegetação, muitos dos túmulos estavam cobertos por musgo e flores naturais. As árvores dispostas em trechos específicos forneciam sombra para os visitantes, E perto de uma delas, um pouco mais afastada das demais, uma lápide mais nova que as outras se destacava. Havia um arranjo de rosas brancas em um pequeno vaso ao lado dela. As flores estavam frescas, e eu sabia que Miranda e Megan as traziam quase todos os dias.

Me ajoelhei na grama verde e tracei com a ponta dos dedos as inscrições gravadas no marmore branco. "Sophie Elisabett Harver. Amada filha, companheira e amiga.
"Ac tandem animo tibi spe. Cui fulsit plus quam alia."" Foi Ryah quem pediu que colocassem o sobrenome Harver em vez de Halle. E foi Megan que escolheu o epitáfio. E eu entendia perfeitamente o que ela quis dizer com aquela frase. Quando traduzida aquela frase em latim queria dizer, "E mesmo no fim, você foi coragem e esperança. Cuja luz brilhava mais forte do que qualquer outra."

Sophie trouxe luz para minha vida, e mudou meu mundo. Ela era teimosa, determinada e corajosa, e estava disposta a arriscar sua própria vida para salvar alguém que amava. E apesar de não ter sido o suficiente, eu sabia que ela ficaria satisfeita apenas por ter tentado. Katherine estava enterrada próxima dali. Duas vidas tinham sido perdidas naquela noite. Três com o sentinela que a garota híbrida atacou para chegar até elas. Eu havia falhado em proteger minha companheira. E tanto ela como sua madrinha haviam pagado por minha falha. Não importava o quanto os outros insistisem em dizer que eu não poderia ter feito nada para mudar o que aconteceu. Eu jamais poderia me livrar do sentimento de culpa.

_Achei que ficaria mais fácil. Achei que com o tempo, a dor se tornaria apenas uma lembrança _Murmurei como se ela pudesse me ouvir.

_Você fez com que eu me sentisse vivo, desde o primeiro momento em que a vi. E então você  se foi. E levou tudo o que restava de bom em mim. E talvez eu mereça sofrer por ter falhado com você...por ter quebrado minha promessa de protege-la... mas eu daria qualquer coisa, eu faria qualquer coisa para poder ter apenas mais um único minuto com você. Para poder ver seu sorriso uma última vez e para poder dizer o quanto te amo, e o quanto vou continuar te amando até o fim. Queria que você pudesse saber disso. E queria poder trocar minha vida pela sua Sophie. Queria que você pudesse ter mais uma chance, mesmo que tivesse sido longe de mim. Porque qualquer coisa seria melhor que isso...

A dor parecia me sufocar, e meu lobo lutou com as amarras metais com a qual eu o continha. Eu não havia me transformado desde  a noite em que a perdi. Pois temia perder de vez o controle se fizesse isso. Nossas emoções se intensificavam sempre que estavamos em nossa forma de lobo. E já era difícil de mais para mim,  na forma humana, então eu lutava contra todos os meus instintos.

_Ai esta você! Até que enfim te encontrei, estava a horas te procurando. _ A voz de Meg me pegou de surpresa e reconheci seus passos se aproximando, antes mesmo de me virar e olhar para ela, quando a mesma parou ao meu lado.

_Por que estava me procurando? Eu disse que queria um tempo sozinho.

_Eu sei, mas os Fileys acabaram de chegar, pelo menos o que restou deles. Achei que gostaria de saber. _Ela respondeu, dando de ombros.

Eu suspirei e então caminhei em direção a saída, com minha irmã logo atrás de mim. Meg havia vindo de carro então peguei as chaves com ela e assumi a direção. Assim que entrei e coloquei o sinto de segurança, percebi a expressão desanimada dela ao olhar para os portões do cemitério.

_Como consegue? _Ela perguntou em voz baixa depois de um minuto em silêncio._ Como consegue lidar com a falta que ela faz?

_Não consigo, apenas tento conviver com isso. Porque sei que você e Emily precisam de mim, e sei que ela não iria gostar que eu desistisse tão facilmente. _ respondi pensando em sua pergunta.

_Mas a mamãe desistiu, ela desistiu quando perdeu o papai. _Ela retrucou, e havia tristeza em seus olhos. Raramente tocavamos neste assunto, pois ele era difícil demais para todos nos.

_Alguns não são tão fortes para lidar com isso.  E agora que sei como é, eu não a culpo.

_Sinto falta deles. E sinto falta dela também. Queria que ela tivesse me dito o que estava acontecendo. Queria ter percebido antes que ela fugiu. Queria te-la impedido. _As palavras dela mexeram comigo, e só então me dei conta de que minha irmã se sentia tão culpada quanto eu.


Ascensão_Trilogia Wolf Black (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora