Capítulo V

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Pedras no caminho? Eu guardo todas. Um dia vou construir um castelo.
Nemo Nox

Sophie

_Tudo bem.  Mas antes de irmos, acho que tenho a resposta para sua pergunta. _Eu disse de maneira firme e concentrada.

_Que pergunta? _Ele questionou, um pouco confuso.

_Você me perguntou se eu podia sentir o problema. E a resposta é sim. Posso senti-lo agora, e é inevitável.

......

_Merda. Merda. Merda.

_Ficar repetindo isso, não tornará a situação melhor._ Murmurei baixo o suficiente para que apenas Christopher me ouvisse, enquanto ele continuava a resmungar. _Em vez disso, só fará com que eles nos ouçam.

Apenas revirei os olhos enquanto Cris continuava a praguejar em voz baixa. Por uma fresta na pequena janela do sótão, observei os cinco híbridos que perambulavam pelo propriedade, parecendo procurar por alguma coisa. Por sorte, havia sentido a presença deles antes que eles nos visem. Isso nos deu tempo suficiente para nos esconder. Entretanto, o cheiro de fumaça ainda era forte ali, mesmo que o cômodo não tivesse sido atingido pelo incêndio que destruiu metade do restante da casa.

_O que acha que estão procurando?_Perguntei.

_Eu não sei. Sobreviventes talvez._ Chris respondeu. Pelo modo que estava inquieto, era óbvio que sua vontade era descer e lutar. Mas eu sabia que ele não me deixaria sozinha ali, assim como não me deixaria descer também. Então estavamos presos.

_Acho que estão se espalhando._ Eu disse, enquanto observava o grupo se separar e seguir em diferentes direções, adentrando a floresta._ Seria mais fácil pega-los agora que estão separados.

_Ótimo. Eu vou levar você para casa, e depois volto para pega-los junto com os outros que deveram estar aqui em breve, Nick deve estar chegando a qualquer momento._ Cristopher declarou, sem me dar tempo para argumentar.

Ele não se importou em usar a portinhola que usamos para subir, invés disso, abriu a janelinha e passou   seu corpo por ela, usando o telhado como apoio antes de pular uma altura de quase seis metros. Eu fui logo atrás dele.

Assim que estávamos no chão, ele agarrou minha mão e começou a correr em direção ao caminho pelo qual haviamos vindo mais cedo, se fossemos rápidos, chegaríamos em pouco tempo ao local onde ele havia deixado nosso carro, que estava a uma considerável distância daquele lugar. Entretanto, eu estanquei no lugar e virei para a direção oposta, impedindo que ele continuasse.

_O que pensa que está fazendo? Precisamos ir._ Christopher resmungo um pouco irritado.

Eu não respondi. Meu corpo estava paralisado enquanto era assolado por um turbilhão de emoções que não pertenciam a mim. Medo, Raiva. Dor. Era como se tudo aquilo me atingisse de uma única vez, com força total, e isso me fez cambalear. Chris me segurou antes que eu desmoronasse.

Eu não conseguia respirar. Era como se uma tonelada tivesse sido jogada sobre minhas costas, tornando impossível trazer o ar para dentro dos meus pulmões. Os lábios de Chris se mexiam de forma urgente enquanto segurava meus ombros e me fazia encara-lo, mas eu não conseguia ouvir o que ele estava dizendo. Até seu rosto parecia desfocado.

Senti outros passos se aproximando. Por um momento achei que os híbridos haviam voltado, mas então o rosto de Nick substituíu o do meu irmão, e suas mãos seguirão para meu rosto. Pela minha visão periférica pude reconhecer a presença das gêmeas que estavam com Jack e Charles.

_Sophie? Sophie? Você precisa respirar, Sophie!_ A voz de Nick ecoava em minha cabeça. Por um momento, me  surpreendeu o fato de ele não se encomodar em usar meu novo nome diante dos outros.

Eu me afastei do seu toque e recuei. Uma forte sensação de urgência tomou conta de mem, me impulsionando a correr. O medo era uma sensação tão presente que chegava a ser palpável, mas eu sabia que aquilo não vinha de mim. Era como um rastro fresco me guiando em direção a floresta. E então eu o segui.

Senti a força emanar por cada célula do meu corpo, me impulsionando a ir em frente, cada vez mais rápido. Um humano não seria capaz de me alcançar, mas podia sentir os outros um pouco atrás de mim. Ainda assim, não demorou para que eles fossem deixados para trás, já que naquele momento, eu era muito mais rápida, e muito mais forte do que qualquer um dos outros, independentemente de ser passageiro ou não, afinal eu não tinha nenhum controle sobre isso. Eu podia sentir a confusão e preocupação que sentiam em relação a mim.

Conforme corria, mais intenso a urgência de chegar ao meu destino, ficava. Era a segunda vez, naquele dia que eu sentia isso, entretando a sensação era duas vezes maior. Meu instintos me guiavam para a origem de todas as emoções que me aflingiam, mas eu não estava nem um pouco preocupada com o que eu iria encontrar.

Somente quando parei, é que me dei conta de que ainda prendia a respiração. O ar entrou em meus pulmões como uma onda de alívio, apesar de eu nao estar nem um pouco ofegante pela corrida excessiva.

Eu observei a vegetação a minha volta, sem saber exatamente o que estava procurando. Só então reparei na cabana de caça, a alguns metros a minha frente, mas não foi isso que chamou minha atenção. Próximo dela, havia uma gigantesca árvore, e no topo de seus frondosos galhos, enquilibrava-se uma velha casa da árvore, do tipo,  que se via nos filmes que Christopher tinha me feito assistir.

A estrutura parecia intacta, apesar de precária. Não pensei duas vezes antes de ir até ela e começar a escalar. A madeira estralou sobre meus pés,  assim alcancei o primeiro patamar, e a passos cuidados, me aproximei da pequena porta de entrada. Foi necessário que eu me abaixasse para poder entrar.

Assim que eu entrei, a pesar da pouca iluminação que era provida apenas pela luz que passava  pelas frestas nas paredes e no telhado, eu pude ver o menino que estava encolhido no canto mais distante. Ele tinha a cabeça baixa entre os joelhos enquanto os abraçava.

Seus rosto se ergueu em minha direção, quando cheguei mais perto. Seus pequenos olhos estavam vermelhos pelo choro, e por seu cheiro, reconheci que era lycan, apesar de não ser maduro o suficiente para se transformar. Pelo seu pouco tamanho, deduzi que não tivesse mais do que  seis ou sete anos.

_Esta tudo bem._ Eu disse, assim que cheguei perto o suficiente para toca-lo. _Ninguém vai machuca-lo. Esta tudo bem agora.

O garoto me olhou de forma temerosa, e então aceitou a mão que estendi a ele. Eu o ajudei a se levantar e então o guiei até o lado de fora. Suas pequenas mãos se agarraram a mim, como se sua vida dependesse disso, e eu soube do que ele tinha medo. Era óbvio que os híbridos de mais cedo, estavam atrás dele. E era deles que ele se escondia.

_Eles não vão pega-lo. Eu não vou deixar. Confia em mim?_ Eu disse de maneira firme, me ajoelhando para que ficasse da altura dele.

Ele balançou a cabeça em concordância. E então o puxei e indiquei para que ele subisse em minhas costas. Ele obedeceu e fez o que pedi sem protestar. Assim que ele estava firmemente preso a mim, eu pulei, a altura não foi nenhum proplema para mim.

_Você está bem?_Perguntei assim que estávamos no chão. Sua expressão ainda era assustada mas ele balançou a cabeça em afirmativa.

Não demorou muito para que eu sentisse os outros próximos a nos.  E apesar de saber que eram meus amigos, foi inevitável não puxar o garoto para trás de mim, e me curvar protetoramente em frente a ele. Um rosnado escapou por entre meus lábios assim que avistei os outros.

Eu não sabia o que estava acontecendo comigo. Mas todos os meus instintos gritavam para proteger a criança a qualquer custo.

Ascensão_Trilogia Wolf Black (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora