Capítulo VII

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"Até mesmo na escuridão, podemos ter a esperança de novamente encontrarmos a luz."

_Larissa V.

(Sophie)

A paisagem passava como um borrão pela janela do carro. Christopher tinha sua total atenção na estrada adiante. Eu admirava a paisagem. Enquanto Alice, Carli, e o pequeno Max que nos acompanhava,  conchilavam no bando de trás, já que não tinham muito o que fazer. Os outros estavam no carro que vinha logo atrás.

A viagem levava mais de quarenta e cinco horas de carro. Mas Nick não quis pegar um avião, então saímos de Boston assim que o dia amanheceu e seguimos viagem, parando apenas poucas vezes, para comer e suprir nossas necessidades básicas, e nos contentamos em pernoitar em um hotel de beira de estrada, apenas para podermos nos alongar um pouco. Chris não se importava em dirigir durante todo o percurso, afinal não éramos simples humanos e não nos cansávamos com a mesma facilidade.

Não levávamos muito de nossas coisas. Apenas o necessário e essencial. Uma mala pequena com poucas roupas e poucos pertences indispensáveis para cada um. O resto de nossas coisas seriam providenciadas assim que chegássemos ao nosso destino.

No último ano, já fizemos isso umas três vezes antes de nos estabelecermos em Boston, então todos nós, já estamos acostumados a deixar tudo para trás e começarmos novamente. Principalmente eu, já que não tenho muito do que me desfazer, ou sentir falta, uma das poucas vantagens de não se ter recordações de um passado, já esquecido.

_No que esta pensando?_ Chris perguntou enquanto, pelo canto de olho observava minha inquietude.

_Em nada especifico. Apenas tenho a sensação de que já estive aqui antes._ Respondi.

_Estamos quase chegando a Portland, que é vizinha de Davenport. Por isso a sensação de familiaridade.

_Davenport é onde vivi, antes de quase morrer e perder a memoria, não é?_ Perguntei de forma cautelosa, já que sabia que Chris não gostava de falar do assunto.

_Sim._ Ele respondeu apenas, sem desviar os olhos do trajeto, mas pude perceber seus punhos se fecharem com mais força no volante. Este assunto sempre o deixava desconfortável e despertava ainda mais minha curiosidade.

_E Lucian Black é o alfa que comanda Davenport, não é?_Tentei novamente, ainda prestando atenção em suas reações.

_Sim. Mas por que o interesse neste assunto agora?_ Ele questionou, olhando prevemente para mim. E então voltando a se concentrar na estrada.

_Por que você sempre hesita em mencionar o nome dele perto de mim?_ Perguntei por fim, sem conseguir conter as perguntas que rodavam minha cabeça, nas últimas horas._  Isso significa que eu o conheço, não é?

_Todos conhecem você em Davenport, Irmã. A cidade é pequena, não existem segredos entre eles._ Ele respondeu com um suspiro, Christopher já me conhecia bem o suficiente, para saber que eu não esqueceria ou deixaria de lado este assunto.

_Mas isso não justifica o mistério que vocês mantem a respeito de Lucian Black. Já ouvi muitas vezes você e Nick conversando sobre ele. O que tem de tão importante em relação a este homem, que vocês não querem que eu saiba?

_Desde quando se tornou tão perceptiva?_ ele indagou, tentando me distrair do assunto em questão.

_Desde que passo tanto tempo com vocês, e ainda assim escondem segredos de mim._ Retruquei.

_Isso não é verdade.

_Então vocês não se importariam, se eu quisesse conhece-lo, não é?

Ele me olhou de relance, com surpresa e algo mais nos olhos, que não pude decifrar, mas eu podia sentir sua ansiedade e tensão. Entretanto, Chris sempre foi bom em conter suas emoções, então logo se recuperou do efeito que minhas falavras tiveram sobre ele. Sua reação, já me dizia o bastante, e confirmava minhas suspeitas, sobre ele estar escondendo algo de mim.

_Sabe que isso não seria possível. É arriscado de mais._ Ele declarou.

_Não vejo o porque. Afinal você mesmo me disse nas poucas vezes em que tocou no assunto, que eles pensão que estou morta. Tudo que eu prescisaria fazer, seria ter cuidado para que eles não me reconhecessem.

_Não seria tão simples. E você os subestima. Ninguém entra na cidade sem o conhecimento deles e principalmente lycans. A segurança aumentou ainda mais, depois do que aconteceu com você. Seria impossível entrarmos sem sermos detectados, até mesmo para nós.

_Aposto que você pode pensar em alguma coisa. Além disso, ninguém precisa saber quem ou o que somos._ Eu disse, dando a ele um olhar significativo. _Ouuuu, você poderia facilitar as coisas e me falar mais sobre eles, principalmente o que esta escondendo, pensei que devesse existir confiança entre nos_ Resmunguei.

_Eu confio em você. E não estou escondendo nada._ Ele retrucou, mas eu sentia que estava mentindo, e era nestas horas que algumas das coisas que eu podia fazer se tornavam úteis.

_As vezes você esquece que posso ser um detector de mentiras ambulante, não é?_ Falei com escárnio. Não gostava nem um pouco que mentissem pra mim, e é por isso que Nick e Chris se especializaram em meias verdades.

_Eu não estou mentindo, eu juro! Omissão não é de fato uma mentira! _Ele se apressou em dizer, e eu via a sinceridade nos olhos dele, tão parecidos com os meus.

_Então me diga, que omissão é essa?

_Apenas tenha paciência irmãzinha. Tem certas coisas que ainda não estão no momento certo de você saber, e que não somos nós que temos que te dizer. Então tenha paciência, logo logo você saberá por si mesma._ Ele respondeu, com um ar de mistério. E eu estreitei meus olhos para ele em resposta.

_E quando será este momento? Você e Nick não podem me esconder e proteger para sempre, sabem disso não é?.

_Em breve. E você não pode nos impedir de tentar.

_E quanto aos nossos pais?_ Tentei novamente.

_O que tem eles?

_Eles estão em Davenport, não estão?

_Sim.

_E você não tem curiosidade em conhece-los?

_Eu já os conheço.

_Eu me refiro a falar com eles, e não apenas observa-los de longe.

_Isso é sobre nossos pais ou sobre Lucian Black?

_É sobre minha vida, e as pessoas que fizeram parte dela. Você não acha que se eu ao menos vê-los, isso talvez me ajude a lembrar? Eu nem mesmo sei como eles são!

_Ahrg você não vai esquecer este assunto não é? _Ele questionou por fim.

_Não. Você sabe que não.

Por um momento ele ficou em silêncio,  e então começou a praguejar baixinho. Por fim suspirou e olhou para mim, antes de voltar novamente, seus olhos para a estrada. Nenhum de nós disse mais nada durante todo o percurso.

Quando enfim chegamos a Portland, já era quase meio da tarde, então seguimos direto para uma casa afastada da cidade, que Nick havia reservado para nos. Entretanto, ele nos disse que não ficariamos mhito tempo ali, e que o lugar era apenas provisório. Assim que chegamos, os meninos começaram a descarregar nossas coisas.

Eu fiquei parada em frente a casa e observei os detalhes da construção de pedra. A residência parecia antiga, mas estava muito bem conservada, e tinha seu charme. Me perguntei como Nick a conseguiu, mas deixei estes pensamentos de lado e segui para a entrada. Assim que passei pelo hall, Chris me interceptou e segurou meu ombro.

_Tudo bem, sobre aquilo...vou ver o que posso fazer. _Ele disse apenas, antes de se virar e seguir pelo corredor.

Ascensão_Trilogia Wolf Black (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora