A barragem tremulou e as rachaduras surgiram e se espalharam pelo concreto das comportas como a trilha de um rio desenhado em um mapa topográfico.
As paredes começaram a se deslocar como uma barriga se estufando e então o inevitável aconteceu.
— Ela vai se romper! – Gritou Rubinson.
A água esguichava pelas fissuras, uma, depois duas, então quatro e a barreira se rompeu. Penny e Valquíria alcançaram a sala de máquinas, os outros vinham logo atrás. O piso começara a ceder quando Jales, Tobias e Salomão chegaram à porta. Tobias agarrou-se ao corrimão e esticou seu braço para que Rubinson e Alice o alcançassem.
Rubinson agarrou as mãos de Alice, o chão sob seus pés se abriu e ele a arremessou para Tobias em um último esforço. Tobias a apanhou pelo antebraço e no mesmo instante a barreira desmoronou por completo. Alice gritou debatendo seus pés no nada enquanto Tobias a puxava para cima. Rubinson caiu e desapareceu na caótica e ensurdecedora escuridão de águas furiosas.
— Paaaai! – Gritou Penny contida por Jales.
— Ele se foi, – disse ele – Se foi como um herói.
Salomão ajudou Tobias a trazer Alice de volta, Penny se livrou de Jales e correu para a sala de controle.
— Estão todos bem? – Perguntou George.
— Seu desgraçado! – Gritou Penny socando-o no queixo.
— Penny, ele não teve culpa. – Jales a conteve outra vez.
George limpou o filete de sangue com as costas da mão e a olhou atônito.
— Penny, eu...
— Ele morreu, morreu por culpa sua.
George Pessoa procurou cada um dos que estavam lá.
— Onde ele está? Cadê o Rubinson?
— Ele salvou a minha vida – disse Alice.
— Eu só consegui puxá-la por que ele se sacrificou – completou Tobias.
— A barreira se rompeu — disse Valquíria – e ele caiu, Deus do céu.
Penny se debruçou em prantos sobre o peito de George.
— Se não abríssemos as comportas eles todos chegariam até nós, Penny. – Justificou-se a abraçando. – Eu só fiz o que seu pai achava certo. Você sabe que eu o amava.
— Eu sei – disse ela – mas...ele não merecia isso.
Lucas pegou a mochila com suprimentos e armas que eles haviam separado.
— Nós todos perdemos muito nos últimos tempos, mas agora é a hora de sairmos daqui.
Penny assentiu para George
— Você está com as chaves? – Perguntou George Pessoa a Lucas.
Lucas enfiou as mãos nos bolsos e retirou alguma coisa.
— Dois Jipes esperando por nós – Respondeu exibindo o molho de chaves.
— Então vamos logo cair fora desse maldito lugar de uma vez por todas – Disse Tobias batendo nos ombros de Pessoa.
George liderou-os pelas escadas até o pátio e ao saírem puderam finalmente vislumbrar a devastação. A água ainda jorrava com força pelas comportas quebradas e as tábuas do deck debatiam-se sobre elas enquanto o vale se inundava.
Ali nascia o Lago Sem Nome.
— Só Deus sabe como vou justificar essa merda - Reclamou Lucas em um misto de horror e alívio.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sombreado
HorrorArtur Chagas é um adolescente nos anos 70 que se muda com a família para o vilarejo de Sombreado quando seu pai é transferido pela mineradora onde trabalha. Após um terrível acidente durante a explosão de uma das minas, uma força ancestral retorna...