X Outono de 1956 - 16 anos antes.

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A barragem tremulou e as rachaduras surgiram e se espalharam pelo concreto das comportas como a trilha de um rio desenhado em um mapa topográfico.

As paredes começaram a se deslocar como uma barriga se estufando e então o inevitável aconteceu.

— Ela vai se romper! – Gritou Rubinson.

A água esguichava pelas fissuras, uma, depois duas, então quatro e a barreira se rompeu. Penny e Valquíria alcançaram a sala de máquinas, os outros vinham logo atrás. O piso começara a ceder quando Jales, Tobias e Salomão chegaram à porta. Tobias agarrou-se ao corrimão e esticou seu braço para que Rubinson e Alice o alcançassem.


Rubinson agarrou as mãos de Alice, o chão sob seus pés se abriu e ele a arremessou para Tobias em um último esforço. Tobias a apanhou pelo antebraço e no mesmo instante a barreira desmoronou por completo. Alice gritou debatendo seus pés no nada enquanto Tobias a puxava para cima. Rubinson caiu e desapareceu na caótica e ensurdecedora escuridão de águas furiosas.

— Paaaai! – Gritou Penny contida por Jales.

— Ele se foi, – disse ele – Se foi como um herói.

Salomão ajudou Tobias a trazer Alice de volta, Penny se livrou de Jales e correu para a sala de controle.

— Estão todos bem? – Perguntou George.

— Seu desgraçado! – Gritou Penny socando-o no queixo.

— Penny, ele não teve culpa. – Jales a conteve outra vez.

George limpou o filete de sangue com as costas da mão e a olhou atônito.

— Penny, eu...

— Ele morreu, morreu por culpa sua.

George Pessoa procurou cada um dos que estavam lá.

— Onde ele está? Cadê o Rubinson?

— Ele salvou a minha vida – disse Alice.

— Eu só consegui puxá-la por que ele se sacrificou – completou Tobias.

— A barreira se rompeu — disse Valquíria – e ele caiu, Deus do céu.

Penny se debruçou em prantos sobre o peito de George.

— Se não abríssemos as comportas eles todos chegariam até nós, Penny. – Justificou-se a abraçando. – Eu só fiz o que seu pai achava certo. Você sabe que eu o amava.

— Eu sei – disse ela – mas...ele não merecia isso.

Lucas pegou a mochila com suprimentos e armas que eles haviam separado.

— Nós todos perdemos muito nos últimos tempos, mas agora é a hora de sairmos daqui.

Penny assentiu para George

— Você está com as chaves? – Perguntou George Pessoa a Lucas.

Lucas enfiou as mãos nos bolsos e retirou alguma coisa.

— Dois Jipes esperando por nós – Respondeu exibindo o molho de chaves.

— Então vamos logo cair fora desse maldito lugar de uma vez por todas – Disse Tobias batendo nos ombros de Pessoa.

George liderou-os pelas escadas até o pátio e ao saírem puderam finalmente vislumbrar a devastação. A água ainda jorrava com força pelas comportas quebradas e as tábuas do deck debatiam-se sobre elas enquanto o vale se inundava.

Ali nascia o Lago Sem Nome.

— Só Deus sabe como vou justificar essa merda - Reclamou Lucas em um misto de horror e alívio.

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