VI Outono de 1956 - 16 anos antes.

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A luz pendulando no lustre sobre os olhos de Alice os ofuscou assim que ela os abriu.

Ela podia sentir a presença, estava lá como o ar que ela respirava, mas a cegueira branca tornava-os em finos e pavorosos traços alucinógenos.

A silhueta de um homem com uma faca nas mãos e o rosto distorcido como um cadáver sob águas turvas acompanhado de outras duas figuras igualmente desfocadas.

Eram o padre Rufus, ou aquilo que tomara conta de seu corpo, Rosita com o ódio escorrendo de seus dentes cerrados, e o que restara do senhor Lamar, com a garganta cortada e uma brecha escura no lugar do olho perfurado pela bengala de Claus.

Alice tentou gritar.

Seria inútil.

Não havia mais força para gritar ou lutar, então talvez a recompensa da entrega fosse uma morte limpa.

Alice clamou o perdão do criador e fechou seus olhos.

A resiliência é uma dádiva.

Rufus pôs a mão em sua testa e ela pode sentir a lâmina fria a tocando perto do seio.

— Você está segura agora, ghá – disse ele – Eu só preciso que você erga seus braços um pouquinho pra eu checar sua temperatura – disse a voz colocando o termômetro em sua axila.

Alice piscou os olhos e os esfregou.

Ele tinha barba e cabelos grisalhos assim como marcas da terceira idade sob os óculos redondos, mas o porte espantosamente atlético fazia Rubinson, o médico que cuidava da população de Escondido, um homem ainda bastante charmoso.

— Onde eu estou? – A voz de Alice saiu em um misto de alívio e confusão.

— Você estava correndo sozinha no breu da estrada da colina. – Respondeu George Pessoa logo atrás do doutor. Seus cabelos eram negros, volumosos e bem penteados. Não tinha mais do que 35 anos. – Por sorte eu saí pra patrulhar a área e te encontrei. Você praticamente desfaleceu em cima de mim.

— Eles estão vindo, a gente precisa sair logo daqui. – Disse ela se sentando sobre a mesa forrada lhe servindo de cama.

— Calma, querida – Penny tinha olhos e cabelos castanhos até os ombros, era a filha de Rubinson e esposa de George. Ela segurou as mãos de Alice tentando acalmá-la

– Deixe eles virem, meu bem. Nós temos um plano.

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