Capítulo 20

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   Despertei o suficiente para saber que estive desmaiada, mas a dor ainda me envolvia conforme eu me lembrava do que acontecera na véspera da noite passada. Olhei para o quarto branco onde me encontrava. Eu estava em um hospital. Olhei para a janela de vidro e fiquei observando a tempestade lá fora. O vento aumentou de intensidade entre as árvores, açoitando o cortinado de cor de creme e nuvens de tempestade se aglomeraram, escurecendo o céu. A chuva inclemente bateu no vidro da janela. Um raio riscou no céu acizentado. Senti meus polegares enxugando as lágrimas do meu rosto depois da ficha cair : eu estava terrivelmente sozinha. 

--Ela acordou. - ouvi o som familiar de Tess. Distinguir o cabelo claro, e a pela dourada e um vestido colorido.

--Tess?
Senti seus polegares enxugando as lágrimas do meu rosto.

--Shh... Angel. Eu estou aqui. Não vou deixá-la.
Com um grande alívio e um soluço, estendi os braços e envolvi seu corpo, ela me puxou para o seu colo e me apertou em seus braços que eu tanta sentira falta.

--Quietinha. Minha flor. Tudo bem chore.
Tessa continuou a me acalmar com palavras doces.
Depois de me acalmar minha mãe falou: -- Sua novidade foi confirmada meu bem. Você está grávida. - ela sorriu. Passei as mãos pela barriga e pela primeira vez sentir uma felicidade enorme. Uma felicidade verdadeira.

--Você está de seis semanas. Isso significa que vou ser vovó! - ela me deu um beijo. - franzi as sobrancelhas depois que um pensamento ecoa na minha mente.

--Desculpe Tess, eu ia falar...

--Tudo bem meu amor.

--O que eu devo fazer ?Alex... - ela respirou fundo e então falou que eu era uma pessoa linda, talentosa e especial. A luz da vida dela. E que qualquer criança que viesse de mim seria tão brilhante e especial como eu. Ela disse que me ajudaria a criar o bebê___ ela faria sozinha se fosse preciso, se fosse o que eu queria. Então mencionou Alex, disse, que ele estava em um estado crítico, me explicou que a leucemia linfóide crônica geralmente ataca mais em adultos acima de 55 anos, é muito raro em crianças, adolescentes, e jovens como ele.Fizeram o RAI e foi constatado que a leucemia estava piorando cada vez mais, o câncer já tinha chegado aos pulmões, falou que ela não teve o prazer de conhecê-lo, mas que nós daríamos todo o amor para o bebê como ele daria. Eu sorri a abraçando.

--O trabalho pode esperar meu amor. - ela falou beijando minha testa. Depois me conformou em relação a morte dele. Disse que a vida passava, que era preciso ter forças suficiente para enfrentar tudo que estava por vir, que eu era uma pessoa forte e que conseguiria.

--Me promete que você não vai contar nada para a família dele. - eu digo:

-- Não importa o que nós decidirmos. - minha mãe concordou e então estendeu o braço e me ofereceu seu dedinho, uma prática que havíamos abandonado anos atrás. Nossos dedinhos entrelaçados, nosso juramento oficializado.
   Pelas duas semanas seguintes eu sentia desesperadamente a falta dele, e também havia o sofrimento, por não ter sido convidada para o enterro, embora eu também não quisesse na esperança de que mantendo distância, esse meu vício e dor por ele iria se curar. As vezes durante a noite eu me pegava chorando, durava até a madrugada e finalmente eu conseguia dormir. Ou quando não era isso, era os pesadelos, e aí eu acordava chorando e gritando. Agradecia a Deus por minha mãe sempre está comigo. Quando a dor se tornava insuportável eu corria até a cozinha em busca da faca, ou de qualquer coisa perfurante. Mas Tess não deixava, me segurava e chorava junto comigo, até ela passar a esconder qualquer coisa cortante em casa, incluindo vidro. Quando meus ataques acontecia ela sussurrava no meu ouvido:

--Uma vida cresce dentro de você, as células se multiplicando várias vezes, um coraçãozinho e seus ventrículos começando a se formar, você tem certeza de que quer fazer isso com ele. - e eu mexia a cabeça freneticamente chorando muito.
   Se tudo isso não fosse ruim o bastante, eu também estava sofrendo com ataques de náusea de manhã, de tarde e à noite, parecia que eu estava andando numa montanha-russa de ressaca.
Passava maior parte do tempo sozinha no meu quarto, com uma cesta de lixo ao lado da  minha cama, caso eu não conseguisse chegar ao banheiro. Ouvia música, folheava o álbum da minha infância, aquele com corações e borboletas, e uma foto sua na capa escrito princesa , folheava desejando que eu pudesse voltar para o começo do ano escolar, ou pelo menos do verão, uma época mais simples, mais feliz e virginal da minha vida que parecia ter sido há um milhão de anos. Minha mãe batia na porta várias vezes ao dia, me trazendo bolachas cream ckackers, sentava ao lado da minha cama e passava a mão pelo meu cabelo, encojando-me a ir para a faculdade. Eu ia. Faltava dois dias para as provas finais e com toda dificuldade eu pegava nos livros, mesmo que minha mente esteja confusa demais para pensar.
   Larissa nunca mais falou comigo desde da morte de Alex, se afastou completamente, evitava me olhar, sentava no fundo da sala,  as vezes eu me sentia melhor assim, mas quando a via com outras garotas dando gritinhos e beijando Marcelo na saída, ela jogava na minha cara o que eu não tinha, o que aconteceu, me fazendo lembrar que nunca sentiria aquela  felicidade se transbordando pelo meus olhos no final das aulas, nunca mais, que eu não iria mais pular e rodar de felicidade porque minha vida estava acabada. Eaí meu coração tomava um  um pânico avassalador que não importava a escolha que eu fizesse, eu iria me arrepender para sempre desabando em lágrimas na volta para a casa.
  Três dias depois as provas passaram e eu havia me formado, entretanto eu não senti vontade de ir para baile nenhum. Na manhã seguinte, Tess bateu na minha porta assim que o sol nasceu. Já estou acordada. Na verdade, eu provavelmente, dormir apenas duas horas a noite toda, o restante do tempo passei pensando se no final eu conseguiria ser feliz.
E consegui.

Nada é por acasoOnde histórias criam vida. Descubra agora