Epílogo

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Seis anos depois
  
  --Alex não corra você vai se machucar!

--Mãe ele não me obedece. - replico segurando alguns papéis enquanto Alex corria com um aviãozinho nas mãos.

--Olha mamãe estou voando! - ele vem na minha direção rindo.

--Está? Mais é claro que está. - o abraço o rodando, enquanto ele ri .

--Tess você poderia arrumá-lo, preciso fazer uma coisa antes.

--Claro querida. Vamos garotinho!

--Zuuuuuum... - ele corre galopando pela casa.
   Pego o papel e escrevo a primeira e a última carta em anos. Desde de que nós nos mudamos para Atlanta, essa seria a primeira vez que Alex iria a Boston. Hoje dou aula em uma das melhores faculdades de Seattle enquanto ele estuda em período integral. Ele é a minha luz e não consigo imaginar minha vida sem ele. Apesar de tudo, me sinto sufocada por  seus avós paternos não saber a existência do neto. Às vezes me convenço de que o passado era realmente o passado, e quando eu ia ao telefone e o tirava do gancho eu me lembrava daquela noite sufocante e das palavras mais amargas que me disseram: Isso tudo é culpa sua garota!   
Hoje eu decidiria acabar com o meu segredo,  e de minha mãe.

--Tchau vovó! - ele disse antes de entrar no carro.

--Isso precisa ser feito mãe. É um direito deles, cabe ou não aceitarem. - ela acenou me abraçando.

--Tem certeza de que quer fazer isso sozinha querida?

--Tenho.

Apesar dos anos a alcançando Tessa continuava linda e irradiante.
Depois de longas horas de viajem eu e Alex nos hospedamos em um hotel em Boston. Depois que o coloquei pra dormir eu fui até o terraço do quarto, parecia que o inverno tinha acabado pra valer, e a noite perfumada de primavera estava mais aquecida pela garrafa de vinho Barolo que eu havia pedido. Peter dizia que a vida era curta demais para não se tomar um bom vinho sempre que eu arregalava os olhos ao vê o preço da garrafa que acabaria em apenas uma noite. Esta é uma das muitas coisas que eu admirava nele, seu gosto refinado. Ele é generoso e trabalhador demais para ser considerado um esnobe. Mas com certeza, ele é um esnobe, já que sempre estudou em escolas de elite e circulou altas rodas sociais. Também me sinto à vontade neste mundo___ mas eu sempre tinha vivido à beira dele, antes de Peter me levar para dentro deste turbilhão de jatinhos, iates e casas de veraneio em Nantucket e St.Bart.

--Boa noite. - murmuro como o aparelho celular no ouvido.

--Como você está minha Champ? - ele me deu este apelido depois que o venci num jogo controverso de Scrabble em nosso terceiro encontro, então dobramos o jogo e eu o venci novamente, zombando dele o tempo todo. Dei risada e cometi o erro fatal de contar que "Champ" seria o nome de uma panda que eu gostaria de adotar.Ficando assim um apelido carinhoso.

--Estou bem. - digo sorrindo.

--Já estou com saudades.

--Em uma semana estou de volta.

--Eu sei... Quel soulagement . - Peter murmura, talvez ele seja o único cara que eu conheça que pode se sair bem falando em francês sem parecer terrivelmente pretensioso, talvez por ter passado grande parte de sua infância em Paris, filho de uma modelo francesa e um diplomata americano. Mesmo depois que se mudou para o Estados Unidos, aos 12 anos, ele só podia falar francês dentro de casa. Seu sotaque tão perfeito quanto seus modos. Aos 36 anos e eu aos 32 nos casamos depois de dois anos de namoro. Eu era apaixonada por ele, mas não amava.

--Vou desligar . Alex acordou. -menti.

--Ok. Descanse querida. - mas eu não estava cansada, na verdade eu não queria falar com ninguém, eu queria apenas aproveitar a sensação de se estar em um lugar que você pode dizer que é seu.
     Na manhã seguinte estaciono minha BMW na calçada dos avós de Alex. Matt e Marian.

--Alex você fica aqui fora.Quando eu te chamar você entra. Tudo bem?

--Tá bom mamãe. - o abraço.
Logo em seguida bato na porta. Sinto minhas mãos suarem e minhas pernas tremerem. A mãe dele abre, e seus olhos se arregalam. Talvez pela minha aparência, ou pelo susto mesmo.

--Bom dia senhora Caldwell. - falo. Ela continua em silêncio sem me responder até o pai dele aparecer atrás dela.

--Querida quem ... Angelick.

--Oi. -- sinto um ar pesado se instalar entre nós imediatamente.

--Entre por favor. - ela fala. Entro na casa grande de cores quentes e alegres.

--Sente-se por favor. - Matt oferece.

--Eu queria me desculpar por tudo que eu te falei naquela noite. Eu não devia, mas eu estava em choque... E... -ele começa a me bombardear 'direto como sempre'

--Tudo bem st.Caldwell eu entendo.

--Matt por favor.

--OK Matt. - ficamos um olhando para o rosto do outro.

--E você como está ? - ela pergunta.

--Eu estou bem, Seattle é uma cidade muito adorável. - ela sorri delicadamente e descobrir de onde o sorriso de Alex nascera.

--Na verdade eu vi por outro motivo. - me levanto e vou até o carro, trazendo Alex de mãos dada comigo.   Eles se levantam assustados e observam o garotinho sorridente, ficam impressionados pela aparência física, de se parecer tanto com o pai.

--Quero que conheçam o Alex.

--Ele, ele é... É... - ele gagueja vermelho.

--Seu neto.

--Mas como? - Marian pergunta.

--Naquela noite eu ia dizer mas... - olho para Matt que me lança um olhar verdadeiro se desculpando.

--Oh Matt olha só como ele é lindo, se parece tanto com o pai! - ela vem na direção dele com os olhos cheios D'água.

   É impossível não pensar no passado enquanto passo pelo viaduto apaixonado. Dirijo em direção ao cemitério. E penso em como aconteceu tão rápido, penso como deve ter sido estranho para Alex passar o dia sozinho com os avós paternos. Mas não posso negar a sensação de alívio profundo que deixei para trás. Eu tomei a melhor decisão por ele
  Ando lentamente até a sua lápide de ardósia,  passo as mãos pelo seu nome com os olhos fechados me lembrando da nossa primeira noite juntos. De como ele foi se apresentar para Elina, do seu sorriso... Lágrimas se escorriam pelo meu rosto pingando em sua lápide. Leio em voz alta a última carta que escrevi:

Sinto falta da sua pele bronzeada, seu doce sorriso, seus olhos tão brilhantes como os primeiros raios de sol
tão bons para mim, tão certos.
De como você me segurou nos seus braços naquela noite de setembro.
A primeira vez que você me viu chorar. Seu filho é uma graça tão cheio de si, tão lindo ... Tem os seus olhos, seu cabelo, seu rosto e o seu jeito. Amo você três metros acima do céu.
P.S sua Angel

Os pássaros dariam suas asas para andar de mãos dadas por cinco quadras. Todo amor é uma revolução. As árvores dariam seus frutos para dançar colados ao menos por uma noite. Não existe sacrifício, existe doação. Não existe renúncia, existe entrega. Não existe culpa, existe escolha. Ninguém entenderá o que vocês estão vivendo, além de vocês mesmos. O amor é um segredo a dois. Transforma tudo o que é errado em personalidade. Transforma tudo o que é certo em lembrança. O amor é coragem. Só pode ser feliz quem não esconde seu rosto. O amor é incurável. Não tem como trocá-lo por nada. É uma amizade cheia de desejo. Vocês não precisam de explicação porque se compreendem pelo olhar. Não precisam de paz, a confiança é o início da fé. Não precisam temer problemas, basta se abraçar dentro de um beijo. Vocês nasceram sozinhos, mas jamais ficarão de novo sozinhos. Estarão se acompanhando a vida inteira, até depois do fim. Se um esquecer, o outro vai lembrar. Se um vacilar, o outro vai amparar. São inteiros sendo dois. Mais inteiros hoje do que quando nasceram. A eternidade tem inveja de vocês...
E a nossa história de amor acaba aqui. Reflito um momento corriqueiro Concluo que não existe "E se..."   Porque nada é por acaso.

Nada é por acasoOnde histórias criam vida. Descubra agora