Mãe

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Segunda-feira, 20 de novembro, 07:21

Ana POV

Quase um mês desde que começamos a trabalhar no ep, um mês até minha formatura e seis meses sem a Letícia.

Os médicos já tinham dito que ela não respondia a nenhum tratamento que eles testavam, ela não acordava, ela não melhorava, ela praticamente não existia, e talvez esse fosse o fim, talvez Letícia não acordasse mais, talvez ela ficasse em estado vegetativo permanente. Foi isso que o médico dela falou, e pelo que dava pra ver, era isso mesmo, não tinha escapatória. Às vezes eu queria não entender nadinha de medicina e traumas e nada sobre como funciona o corpo humano.
Os médicos até deram a opção de desligarem os aparelhos, mas a família dela não concordou, eles tem muita fé na sua recuperação, já eu, não tenho tanta certeza.

Sei que existem vários casos de pessoas que acordaram do coma depois de muito tempo, mas pra mim já não fazia sentido, ela não apresentava nem um pouquinho de melhora, não se mexia, mal respirava. Perdi toda a minha fé, infelizmente, não acredito que ela volte pra mim. Talvez eu realmente não devesse saber nada sobre medicina, mas se não soubesse, não teria conhecido meu grande amor.

Tentei me ocupar ao máximo nesse último mês, focar só no ep e no que seria daqui pra frente, estava tentando deixar o passado pra trás, já que relembrar só estava me machucando.

Não foi muito difícil, já que tinha muito trabalho no estúdio. Eu não sabia que gravar quatro músicas levava tanto tempo. Além disso minha mãe veio passar umas semanas comigo.

Minha mãe é a pessoa que eu mais escuto nessa vida, tudo que ela diz eu guardo pra mim, todo dia aprendo coisas novas com ela.

Hoje acordei bem mal com tudo o que estava acontecendo, não consegui dormir quase nada na noite anterior, minha cabeça está a mil.
Eu precisava muito dos conselhos da minha mãe, só ela é capaz de me entender, mas como vou pedir ajuda pra superar isso se ela nem sabe do meu namoro com a Letícia? Nem sei se ela apoiaria isso, minha família é extremamente religiosa, e, querendo ou não, religiosos costumam ser super preconceituosos. Mas eu preciso, preciso de uma luz, não aguento mais não saber o que ela me diria.

Saí do meu quarto em direção a cozinha, dei de cara com ela preparando o café.

- Bom dia, pretinha! - disse ela, feliz e com aquele sorrisão no rosto.
- Bom dia, "preta". - disse com tom sarcástico, pois esse era o apelido pelo qual meu pai a chamava.
- Dormiu bem?
- Mal, quase não consegui pregar os olhos.
- O que aconteceu, Ana? Tem dias que estou percebendo que você está assim, pra baixo, sem expressão. O trabalho no estúdio está te fazendo mal?
- Não, mãe, não tem nada a ver com o estúdio.
- O que foi então? O que você tem, filha?
- Mãe, eu preciso conversar com você sobre algo sério, tem dias que isso tem me tirado o sono.

Ela saiu da frente da pia é veio em minha direção, sentamos no sofá.

- Pode falar, Ana, você sabe que estou aqui pro que precisar.
- Então, não é algo tão simples e fácil de aceitar, escondo isso de vocês faz uns quatro anos e não aguento mais mentir, eu preciso da sua ajuda, mãe.
- Ana Clara, você está me deixando nervosa, o que foi? fala logo!

Eu podia ver a curiosidade misturada com o medo no rosto dela, eu não sabia se era o certo a se fazer, eu não sabia se ela iria me aceitar, mas o medo de perder o amor da pessoa que eu mais amava era algo que me fazia pensar se realmente valia arriscar.

- Mãe, eu não sei como te contar isso, tenho medo de perder o que temos, nossa relação, nossa união.
- Ana, eu sou sua mãe eu vou estar aqui pra você independente de qualquer coisa, pode falar.
- Então, sabe aquela minha amiga que sofreu acidente uns meses atrás?
- Sim, a Vitória me contou sobre isso.
- Pois é, mãe, ela não é minha amiga, ela é minha namorada.

Pude ver sua expressão mudar completamente, mas mantendo o carinho com o qual ela me olhava desde que era pequena.

- Eu já imaginava, filha.
- Já?
- Ana, mãe sempre sabe das coisas, quando aconteceu o acidente, você ligava pra mim desesperada, fui percebendo os sinais, aquilo não era só desespero de amiga, era algo mais.

Fiquei em silêncio e encarei o chão, não imaginava que ela soubesse, nem que não ficaria irritada, muito pelo contrário, ela estava super tranquila.

- Ana, não tem nada de errado se é o que te faz feliz, se é amor, é o que importa. Eu sei que agora está doendo pelo estado em que ela se encontra, me deixa ser mais presente, me deixa mais perto de você, quero te ajudar a fazer a dor passar. Não é fácil de aceitar, você sabe, mas eu sou sua mãe e estarei aqui por você, eu sei que essas coisas não se escolhe, ninguém escolhe sofrer, e eu vou te ajudar sempre que você precisar.

Olhei pra ela, e aquele olhar carinhoso, aquele sorriso torto e aquele amor todo que ela sentia por mim falava mais alto.

- Mãe.
- Diga, filha.
- Ainda bem que tu existe.

Nos abraçamos e ela fez aquele cafuné que eu estava morrendo de saudade.
Minha mãe é a única pessoa que me entende, e agora eu sei que não vou perder esse amor tão cedo.

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⏰ Última atualização: Apr 28, 2019 ⏰

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