Ana e Letícia são um casal apaixonado e cheio de sonhos, mas num piscar de olhos, algo pode atrapalhar a vida das duas, fazendo com que se afastem de uma forma devastadora.
Amanhã o acidente completa três meses e seguimos, sem respostas e sem Letícia. Os policiais arquivaram o caso, não conseguem chegar a uma pessoa que possoa ter feito isso. É como se quem fez isso tivesse evaporado, sumido do mapa sem deixar um fio de cabelo pra trás. O tio da Gabi foi inocentado, decidiu fechar o parque por um tempo até que a mídia pare de colocar "Dono de famoso parque de diversões seria o culpado pelo acidente da jovem estudante de pediatria?" em todos os lugares.
Falta pouco pra eu terminar a faculdade, só mais um TCC e estou livre. Me dói ver que eu estou conquistando meu objetivo de forma incompleta, afinal, o plano era eu e Letícia terminarmos juntas, montar nossa própria clínica e ter nossa própria casa. Eu não tenho ideia do que fazer quando terminar a faculdade agora que ela não está aqui.
Continuo compondo sobre nós, sobre nosso amor... Já tenho quase que um álbum inteiro se for levar em consideração a quantidade de músicas que fiz. Ela sempre disse que eu poderia ser cantora se eu quisesse, mas eu acho essa realidade bem longe da minha. Essas coisas são difíceis e já tínhamos tudo planejado...
Vitória está voltando pra casa, ela está em cartaz com uma peça maravilhosa que já rodou quase que o Brasil inteiro. Agora ela descobriu que também gosta de fotografia, imagens no geral, então perguntou se eu aceitaria que ela me filmasse cantando pra testar sua nova câmera, aceitei.
- Minha cantora está preparada? - disse Vitória abrindo a porta e puxando suas malas. - Viiiii! Que saudade. - corri pra abraça-la e ajudar a organizar suas coisas. - Eu também estou, muito. - E aí? Como foi no sul? - Ai Ana, foi a coisa mais linda do mundo, tu precisava ver o mundo de gente naquele teatro. - Que massa! Tô muito orgulhosa de você, parceirinha. - Obrigadaaa! - disse me dando um abraço rápido - Trouxe presentes! - Se em todos os lugares que tu for, tu trouxer um presente, eu vou ficar mal acostumada e você pobre. - Ah, então você não vai ligar se eu tomar essa garrafa de vinho sozinha.. - Agora você falou minha língua.
Sentamos na sala e tomamos vinho a noite toda, enquanto ela me contava sobre suas viagens e apresentações. Quando me lembrei que tinha um TCC pra apresentar no outro dia já era tarde demais, estava ficando bêbada. Me despedi da Vi e fui pro meu quarto. Tomei um banho demorado e fui direto pra cama. Encarei o teto por um tempo enquanto pensava sobre tudo o que tinha acontecido e que estava acontecendo na minha vida.
- Não sei mais o que fazer, não tenho planos, não tenho minha segunda parte, não me sobra nada aqui, além da Vi, que daqui a pouco sai desse apartamento minúsculo e vai pra uma casa grande e com um quintal bem grande pra ter animaizinhos, como ela sempre desejou. Eu estou tão orgulhosa dela, do que ela se tornou... Tem também meus amigos, Gabi e Léo, que adiaram o casamento pro ano que vem, na esperança de que a Letícia acordasse e pudesse fazer parte das madrinhas, junto comigo, Vi, Uiliana, Thais e Mari. Mari trabalha com eventos, é produtora, quase nunca para em casa, ainda mais agora que começou a trabalhar pra uma empresa grande com vários artistas.
Parei de pensar alto e resolvi olhar minha galeria de fotos pra ver se encontrava algo perdido, já que não estava com sono o suficiente pra dormir. E encontrei. Encontrei uma foto minha com a Lê, a última que tiramos, na festa da Vitória. Não pude segurar as lágrimas, sentia muita saudade desses momentos em que nos divertiamos sem nos preocupar com o que viria depois. Assim foi a última festa em que estivemos... Talvez se ela tivesse tido tempo de colocar o sinto, nada disso teria sido tão grave. É engraçado, naquele mesmo dia ela havia me dito "- Amor, coloca o cinto, não quero ossos quebrados caso aconteça um acidente." Os ossos quebrados tiveram tempo o suficiente pra se juntarem novamente, mas por que ela não acordou? Não podia ser diferente? Ela era a personificação de alegria, contagiava todos a sua volta, e, num estalar de dedos, tudo mudou.
Sexta-feira, 3 de maio, 06:50
Acordei atrasada, já deveria estar a caminho da faculdade, hoje vai ser um dia super corrido. Tomei banho correndo, peguei minhas coisas, Vitória me esperava na porta com um lanchinho na mão, que preparou quando viu que eu estava correndo contra o tempo, pra que eu pudesse comer no caminho. Chamei um uber e pedi pra que ele fosse o mais rápido possível. Ele consentiu e cortou o caminho, passando por lugares que eu nunca tinha visto, mas que ajudaram muito, afinal, chegamos em menos de 20 minutos.
Entrei na sala me desculpando pelo atraso, mas no final eu nem estava atrasada, todos tinham enfrentado trânsito, então nem tinham começado as apresentações. Eu estava muito nervosa, era a minha última avaliação e eu estaria formada, além de que eu seria a primeira a apresentar, já que meu nome começa com A.
Sucesso, fui aprovada, agora só faltava saber o que faria depois da formatura. Me despedi dos meus colegas e desejei boa sorte para todos os próximos. Saí de lá anestesiada. Não dava pra acreditar que tinha acabado. Concluí a faculdade.
Fiz um facetime com minha família enquanto estava dentro uber, indo até uma loja, para revelar uma foto e emoldurá-la. Todos vibraram com a notícia, minha mãe até chorou e prometeu me fazer a maior lasanha que eu já vi quando eu voltasse pra Araguaína.
Chegando no shopping, corri pra fazer tudo o mais rápido possível, queria ter tempo de entregar o presente. O atendente ficou encarando a foto por um tempo, até que teve coragem de perguntar.
- Desculpa a intromissão, mas essa é a estudante que sofreu um acidente, né? - É sim, e essa é, provavelmente, a última foto que ela tirou. - Vocês eram amigas? - disse com uma expressão triste no rosto. - mais que isso... - disse cabisbaixa. - Perdão, não quis te deixar triste, mas calma, vai ficar tudo bem, vão descobrir quem fez isso. - estendeu uma mão, segurando a minha, em sinal de respeito, e a outra me entregando o porta retrato.
Saí da loja correndo, estava super atrasada, não tinha muito tempo e queria fazer isso hoje. Fui direto pro hospital, precisava ver como a Letícia estava, fazia tempo que não conseguia visitá-la devido a quantidade de coisas que estava estudando pro TCC.
Cheguei na metade do horário de visitas, dava tempo de conversar um pouco, coisa que eu fazia mesmo sabendo que ela não estava acordada, mas acreditava que ela podia me escutar.
- Oi, meu bem, me atrasei, vamos ficar menos tempo que o normal juntas hoje... Bom, desculpa por não vir aqui com tanta frequência como antes, eu estava ocupada com o TCC, mas foi um ótimo motivo, afinal, eu consegui terminar tudo bem rápido e passei. É, eu concluí a faculdade, e tenho certeza que tu vai terminar daqui um tempo também, eu resolvi todos os problemas que precisava e tranquei pra ti, tá todo mundo só esperando você voltar.
Parei um pouco, sentei na beirada da cama e comecei a pensar enquanto acariciava suas mãos.
- Hoje fazem três meses que tu tá aí... Minha última lembrança sua é de nós nos divertindo muito na festa, comendo algodão doce na beirada dos brinquedos e nos afastando um pouco da galera pra eu te roubar uns beijos...
Falei mais um pouco sobre tudo o que estava acontecendo, sobre a peça da Vitória, a história dela querer aprende fotografia e afins, sobre a Gabi nas campanhas de várias lojas e em várias propagandas. A enfermeira bateu na porta pra avisar que eu precisava ir, disse que já estava de saída, só ia me despedir.
- Tenho que ir, ainda vou ajudar a Vi hoje, passei aqui rápido pra te deixar essa foto nossa. - suspirei - Essa última foto nossa. Eu volto em breve, prometo. Vou deixar o porta retrato na mesinha pra tu ver quando acordar. Tchau, eu te amo, muito. Estou te esperando voltar.
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