Rabisco o papel com força. O sexto papel. O sexto papel que tento escrever e não sai absolutamente nada. Da ultima vez que fui na doutora ela disse que deveria escrever o que sinto, isso faria me sentir melhor ja que não consigo falar. "Escrever seria bom para colocar tudo para fora, por isso muitas pessoas tem o seu proprio diário."
A voz suave dela volta em minha cabeça. Respiro fundo tirando a folha do caderno e jogando na lixeira do meu quarto.
- Agora vai. - Sussuro para mim mesma colocando o lapis firme no papel.
"Querido diário, minha psicóloga disse que se eu colocar um monte de baboseiras no papel eu vou me sentir melhor."
Rabisco o papel novamente dessa vez com raiva. Tiro a folha e jogo na lixeira. Outra folha.
- Foda-se. - Abro a gaveta da minha mesinha e pegando meu caderno de desenho. Isso sim me sentiria bem melhor e sei que não vou gastar tanta folha assim. Encaro minha lixeira transbordando. - Eu sei que você vai me agradecer mãe natureza.
Comecei a desenhar quando tinha apenas 9 anos. Desde então nunca quis parar. Na verdade, muita coisa começou quando tinha apenas 9 anos e nunca que pararam. Meus pais, Cassandra e Max tinham o costume de me levar a praia todos os feriados e foi lá que tudo começou. Eu comecei a ver coisas que não eram reias. Quer dizer, para os outros não são reais, já para mim parece real até demais. A gente era uma familia feliz até acontecer aquilo, depois tudo mudou, eles se afastaram, minhas idas ao psicólogo aumentaram e nem preciso falar sobre a quantidade de remédio que tomo no momento. Minha mãe pensou em se mudar depois dos acontecimentos. Achava que era a casa o problema. Até eu explicar que não era so dentro de casa que via as coisas. Minha presença parece que era incomodo na maioria das vezes, meu pai eu mal vejo ja que na maior parte do tempo ele esta trabalhando. E a minha relação com minha mãe... bom, nunca foi tão boa, mas depois de tudo foi so ladeira a baixo. Eu sei que ela me acha doida e por isso, mesmo eu crescendo ela me trata como criança. As vezes confesso que so queria sumir.
Na escola quase ninguém me olha por ser esquisita, quer dizer, todos me acham esquisita, talvez eu seja, nunca vi alguém ver o tipo de coisas que vejo, tirando relatos no youtube ou nos canais de televisão que claramente é tudo uma farsa. Unica pessoa com quem posso contar realmente é a Julie, minha melhor amiga. Sei que posso contar com ela para tudo. Tudo mesmo.Seus pais se mudaram da Califórnia para cá à uns dois anos atrás, somos amigas até então. Ela tem cabelos castanhos, magra e pele parda. Se não fosse minha amiga e a conhecesse tão bem, diria que ela seria perfeita para filmes de meninas que mora em cidades pequenas. Não que moramos em uma cidade muito grande. Quinze mil habitantes na verdade. Eu sinceramente não vejo a hora de terminar os estudos para sair daqui. Essa cidade fria me dá arrepios as vezes.
Paro e observo o desenho se formar. Eu não quero me gabar mas eu sou muito boa nisso, quem sabe depois de sair dessa chatisse de cidade meus quadros não fique em uma galeria?
Algo faz barulho na minha janela me fazendo pular e olhar rapidamente para o lado. Espero alguns segundos encarando aquele quadrado que refletia a luz, volto novamente para meu caderno de desenho encostando meu lapis na folha. Faz novamente o barulho. Saio da minha mesinha do quarto e meu coração dispara por algum motivo, olho devagar da janela do meu quarto para baixo na rua entre as cortinas. Julie acena me chamando naquela rua de asfalto molhado que havia chovido mais cedo. Reviro os olhos e soltando o ar que nem sabia que segurava. Garota doida.
Desço as escadas de pressa passando na cozinha observando minha mãe que preparava o jantar.
- Devagar Annie. Está atrasada para pegar o trem é? - Ela diz quase gritando.
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Annie
HorrorOlá, meu nome é Annie, tenho apenas 17 anos e eu poderia facilmente falar que sou uma menina comum que mora em uma cidadezinha e que sou meiga e gentil, mas estaria mentindo. Estaria mentindo porque é dificil ser comum quando se tem que lidar com me...