Capitulo 10

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                                     Depois que Julie finalmente terminou o milkshake e simplesmente parou de me fazer perguntas decidirmos ir embora. Me levanto pegando minha bolsa só pensando na minha mãe deveria está louca por ter percebido que sumi.

                                     Mas sinceramente não estava ligando muito para minha mãe no momento já que agora tinha falado para Julie sobre meu segredo. Finalmente agora tinha com quem falar sobre as coisas abertamente, tirando minha psicóloga, é claro. A psicóloga eu sei que ela é apenas uma profissional que tenta me ajudar, agora Julie não, Julie era minha amiga.

               - Ei, Annie. - Olho para menina já quase perto do balcão. - Tem como você pagar pra mim? Fiquei zerada depois das comidas e ursinhos de pelúcia na festa da cidade.

              - Eu não sei como você conseguiu comer um milkshake ainda. - Pego a carteira enquanto a menina dava risadas. - Saco sem fundo.

                      Eu termino de pagar e logo depois saímos da lanchonete onde o vento frio da noite bate em meu rosto. Ainda bem que não estávamos no inverno, mas essa cidade sempre está frio então não tem muita diferença.

                     - Annie, posso te perguntar uma coisa? - Diz Julie tirando o silêncio enquanto caminhávamos na rua quase deserta.

                    - É claro.

                   - Eu sei que já te fiz muitas perguntas mas, como é? - Ela faz uma pausa me olhando. - Como é ver essas coisas?

                   - Acho que normal. - Dou de ombros. - Acontece a tanto tempo que acho normal.

                  - Mas você sabe que não é né?

                  - Eu sei Julie, mas já tentei fazer de tudo para que parasse. - Encaro ela e depois desviando o olhar. - Remédios, conviver com mais pessoas, me trancar dentro de casa, tentar dormir o dia inteiro. Já tentei de tudo,  mas não para. Talvez seja o meu destino.

               - Eles já te tocaram alguma vez?

                      Que pergunta mais estranha, mas nunca tinha reparado nisso.

  
             - Não. - Franzo um pouco a sobrancelhas. - Acho que não. Porque quer saber isso Julie?

             - Sei lá. - A menina da de ombros. - Curiosidade.

                             Por um momento fica um silêncio constrangedor, escuto as solas dos nossos sapatos baterem contra o asfalto da rua mas ela volta a dizer.

            - Eu queria ver também.

            - Ah não queria não! - Meu tom de voz aumenta. - É horrível Julie! Eles me atormentam, quando não é em escola, lanchonete, casa, rua é nos sonhos.

            - Você viu ali na lanchonete? - Ela pergunta me encarando.

            - Vi. - Dou um suspiro. - Não fale besteira, ver essas coisas é horrível.

                      

                   ***

                                  Quando finalmente chegamos na festa da cidade novamente, fico aliviada por saber que ainda tem bastante gente e que talvez meus pais não tivessem simplesmente ido embora e me deixado sozinha para ir a pé. Vejo algumas crianças rindo no carrossel com os pais. Eu me lembro de pouca coisa quando era criança mas umas das poucas coisas que lembro era o quanto me divertia com meus pais. Já hoje nós parecíamos mais inimigos.
                                 

AnnieOnde histórias criam vida. Descubra agora