Eu sabia que minha vida depois da escola ia virar uma loucura, eu só não sabia que tipo de loucura seria. Eu sentia falta da Julie, depois do baile nunca mais havia a visto. Se é que eu ia ver ela novamente. Queria saber como que as coisas ficaram naquela escola e por mais que Ben tinha sido um babaca comigo eu também sentia sua falta. Uma vez minha mãe me disse que o Sheriff Carter saiu da cidade em busca de outra vida para fugir da história de Julie, será que ele ainda era Sheriff? Se bem que eu não acredito na minha mãe, nem um pouco, não mais. Ela também disse que Sophie foi para a faculdade superando tudo, inclusive Ben. E se realmente isso for verdade eu deveria pensar que ela era inteligente, ia se dar bem e que ela merecia. Mas não, eu não penso assim, eu queria que ela sofresse, eu queria que ela tivesse a vida que eu tenho para punir todas as maldades que ela ja fez, não só comigo, mas com todos daquela escola. E eu acho que ela não merecia, a ultima pessoa que merecia ir pra faculdade tendo uma vida totalmente feliz como se nada tivesse acontecido seria Sophie. Eu queria que ela morresse, não faria falta nenhuma pra esse universo patético e injusto.
Escuto uma voz suave na minha cabeça me chamando, não so uma vez mas umas três vezes repetidamente, até que na quarta eu paro de olhar para o ponto fixo da parede branca e volto para a Doutora sentada na minha frente. Os cabelos pretos e curtos dela me faz crer que ela era bem jovem.
- Você está prestando atenção? - Ela pergunta sem desviar o olhar.
- Claro. - Digo engolindo em seco.
- Do que eu estavamos falando?
- De como eu deveria controlar meus sentimentos. - Faço uma pausa. - E colaborar para que eu possa melhorar.
- É... eu realmente estava falando isso, mas a uma hora atrás. - Ela respira fundo jogando o caderno na mesa de centro que sinceramente era unica coisa que me agrava naquela sala, o resto era tudo sem vida e sem decorações. - Olha Annie, você esta aqui a seis meses e até agora não progredimos nada, você precisa escutar as coisas que falo, se não voc...
- Se não você não vai melhorar! Você já disse isso um milhão de vezes. - Interrompo a mulher quase gritando. - Eu não sou louca! A minha mãe é.
- A sua mãe so quer o seu bem Annie. - Ela junta as mãos apoiando no joelho. - Você anda conversando com ela? Eu vi no refeitório semana passada quando ela veio te ver você não disse nenhuma se quer palavra, só ela que tenta conversar com você.
- Eu não quero falar com aquela vaca! Ela quer fuder a minha vida! Ela só soube fazer isso até agora. - Grito e tento me soltar da cadeira onde as algemas machucavam meus braços. - Vocês acham que vão fazer o meu bem? - Minha garganta doi por gritar estridente. - Quando eu sair daqui, porque eu vou Doutora, pode não ser hoje nem amanhã, nem depois de amanhã ou até mesmo daqui um ano quem sabe. Mas quando eu sair, eu vou matar ela e logo depois você. Bem lentamente.
Os olhos da Doutora são de medo e preocupação. Obviamente eu não teria coragem de matar a minha própria mãe, por mais os defeitos que ela tinha, a não ser se fosse preciso. Ja a Doutora eu a mataria facilmente, até mesmo com sua própria caneta em cima da mesa. Sinto alguém segurar meus braços tirando as algemas enquanto me contorço dificultando tudo. Me leva para fora da sala enquanto caminhamos no corredor onde tem algumas enfermeiras passando. Inclusive uma das que eu mais odeio passa me encarando enquanto sou carregada, toda vez ela vem com aquela maldita injeção que me faz dormir por horas, as vezes dias. Eles abrem a porta do meu quarto rapidamente e me jogando la dentro me fazendo cair no chão. Vou até a porta mas eles fecham rapidamente e escuto a fechadura sendo trancada e percebo que não tem mais ninguém ali e eu grito me debatendo contra o local. Caio no chão novamente mas começo a chorar.
- Eu preciso sair daqui. - Falo baixo para mim mesma enquanto encaro meu caderno de desenhos que minha mãe havia trazido para que eu podesse me distrair.
Me levanto lentamente e vou até ele abrindo e foleando as folhas, vejo os desenhos que tinha feito antes de chegar ali porque aliás, desde o dia que eu cheguei não consegui desenhar nada. Não é tão legal quando você não vê mais nenhuma alma penada. Até porque depois de tudo percebi que todos os meus desenhos se tratava disso. Passo as folhas vendo um desenho de Willy quando ele estava na minha varanda. Os outros desenhos são de apenas fantasmas que vi mas logo depois foi embora e claro, um desenho de Rosie, da primeira fantasma que me ajudou na praia. O ultimo desenho chega, o que me faz ficar sentimental. Deito minha cabeça no caderno.
- Julie... - Sussurro.
Como nunca havia percebido que Julie estava em meu caderno juntos com os desenhos de espíritos que via? Eu sinto tanta falta dela. Será que vou voltar a vê-la? Sinto uma lágrima escorrer em meus olhos e logo depois adormecendo ali mesmo.
***
Escuto um barulho enorme vindo atrás de mim o que me faz acordar rapidamente. Olho para trás e tem cara alto parado em minha porta.
- Hora do jantar mocinha. - Ele diz com a voz grave.
Fecho meu caderno apressada e guardando na gaveta da mesa, como se ele não pudesse ver. Ele coloca as algemas novamente em mim. Essas malditas algemas.
A única coisa que me faz ficar um pouco alegre é que a hora do jantar era unica hora que eu mais gostava. Eles seguram meu braço com as algemas enquanto caminhamos no corredor novamente, observo cada detalhe todos os dias quando passo por ali, aliás eu ia ter que fugir um dia, então preciso saber para quais lugares o corredor vai, a rotina das enfermeiras que passam por ali ou até mesmo o horário de café dos guardas. Não que eu já não tivesse tudo pronto na minha cabeça, eu só precisava de uma ajuda. Se Julie estivesse aqui ela talvez poderia me ajudar.
Entro na sala de jantar da clínica onde era meio antiga, confesso, com algumas coisas de madeiras e as decorações talvez do século dezenove, mas todas as pessoas que ficavam naquele lugar horrivel estavam ali e era onde a gente podia esquecer tudo que estava acontecendo e sorrir um pouco. Os guardas tiram minha algema e me deixando ali onde vejo algumas pessoas sentada no sofá verde conversando, outras dançando ao som do piano que um senhorzinho sempre tocava toda noite. Uma vez tentei conversar com ele, mas tadinho, era caduco de tudo. Meu olhar se distrai e percebo meu amigo que vinha em minha direção sorrindo. Ele era incrível, uma das melhores pessoas que conheci na minha vida. E dessa vez eu sei que ele não era um fantasma, ele era real. Finalmente eu podia dizer que realmente tinha um amigo de verdade, carne e osso.
- Me concede essa dança Senhorita Annie. - Ele diz sorrindo me dando o braço para que o segurasse enquanto encaro sua pele quase morena e seus olhos grandes. Percebo seus punhos machucados, talvez também por conta das algemas, já que antes de ontem ouvi gritos e socos vindo de seu quarto.
- Mas é claro... - Seguro seu braço. - Dr. Patrick.
Ele sorri maliciosamente, talvez por conta do "Doutor" usado antes de seu nome. Ele me puxa lentamente para o meio daquelas pessoas dançando.
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Annie
HorrorOlá, meu nome é Annie, tenho apenas 17 anos e eu poderia facilmente falar que sou uma menina comum que mora em uma cidadezinha e que sou meiga e gentil, mas estaria mentindo. Estaria mentindo porque é dificil ser comum quando se tem que lidar com me...