Insolúvel

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Às vezes sinto vontade de não acordar, passar o resto da vida na minha cama até o dia em que a morte resolver me fazer uma visita. Não há nada aqui dentro, nem lá fora, não existe mais ninguém que eu me importe, todos se foram, todos morreram. Tudo isso por culpa daquela vadia - a grande e poderosa presidenta Willow - que destruiu todo o Comando P, pois segundo ela estávamos contra os seus princípios e regras idiotas e que um grupo do nosso comando havia planejado um ataque a Base. Mas isso não foi o suficiente, pois restaram trinta por cento do nosso pessoal que acabaram ficando conhecidos como Insolúveis. E eu sou um deles, eu sou um insolúvel.

- Bom dia - sussurro olhando para foto que contém todos aqueles que um dia eu amei.

O "cantarolar" de uma criatura que eu não faço a mínima ideia de qual espécie seja, já que não costumo sair muito para observar o que me cerca, é o meu despertador ultimamente. Olho pela janela e vejo os inúmeros e majestosos pinheiros que cercam o pequeno cubículo cujo me serve muito bem de moradia. O som do animal começa a me irritar de tal forma que não penso duas vezes ao pegar meu arco e minha aljava contendo quinze flechas, tudo feito artesanalmente assim que eu havia fugido do Comando P, caso precisasse ter que lutar para garantir minha proteção.

Dou alguns passos até a porta, recuo ao tentar abri-la. Faz tanto tempo que não vou lá fora, não respiro ar fresco, que não escuto o cantarolar dos pássaros assim como eu e Cecília fazíamos todas as manhãs quando terminávamos nossas refeições matinais. E é isso que se passa na minha cabeça, uma espécie de flashback surge entre meus pensamentos e nos mostra, eu e ela, deitados embaixo de uma árvore e observando as nuvens e seus diferentes formatos. Então, desperto.

Giro a maçaneta e dou de cara com uma imensa tempestade de neve que há pouco tempo não estava ali, analiso a neve densa, então deixo o som me guiar até uma pequena coruja que está berrando de dor, talvez algum animal tentado caça-la deve ter a ferido. Vejo um brilho no seu olhar, ela parou com aquele maldito som, agora está totalmente focada em mim. Outra visão surge, um cara negro, forte, aparentando ter quarenta anos me guia para fora de um grande monumento, uma enorme construção, escuto o som de um tiro e vejo seu braço sangrando, tento ajuda-lo, mas ele sussurra para que eu corra em direção a floresta e me joga em direção ao chão, só consigo ver seu braço sangrando e exibindo uma tatuagem em forma de uma coruja enquanto uma dúzia de soldados correm na sua direção invocando uma chuva de tiros.

- Hoje não será seu dia. - murmuro para a coruja

- Proteja-se! - a voz do homem ecoa na minha mente - Sobreviva!

Pego a coruja, envolvo ela no meu casaco, e caminho até tropeçar em um pequeno tubo que está subterrado pela neve, consigo ver boa parte do objeto e presumo que faz pouco tempo que está ali, ponho no bolso e sou pego de surpresa

- Acho que não deveria mexer naquilo que não lhe pertence.

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