Not for us [posie]

4. Ignalusa.

Na porta do quarto de Cassie, flores, ursos e fotos de seus momentos felizes são constantemente deixados em memória da garota durante a semana seguinte ao suicídio.

Seus pais, arrasados, processam a escola por negligencia, e os alunos, ainda com a memória macabra do cadáver, estão cada vez mais silenciosos, sentindo a energia pesada da morte assombrando os corredores do colégio.

Campanhas inteiras são feitas contra o suicídio. Todas as turmas recebem um palestrante e a maior parte das classes Júniores se sensibiliza para criar cartões de apoio para alunos que estivessem na mesma situação de Cassie, espalhando as notas pelos quadros de avisos, páginas do Facebook e paredes dos corredores. Emma conseguiu que seu pedido para novos psicólogos fosse posto em prioridade e, embora também tivesse sido indiciada a uma visita ao tribunal, continuava ajudando Alaric com a escolha dos novos profissionais.

Dizer que o suicídio de uma garota estragou a animação do baile é um eufemismo. A morte de Cassie arruinou qualquer sentimento de festividade, o que levou a única atividade extracurricular de Josie para o espaço.

Pessoalmente, depois daquela noite ela estava feliz pelos preparativos do baile serem adiados. Ela não estava com cabeça para pensar em muita coisa, realmente, repassando aquele dia como um loop sem fim. Se ela tivesse interrompido quando a garota foi conversar com Emma, no dia do seu suicídio, Cassie ainda estaria viva? Se ela tivesse ido checá-la no escritório da psicóloga, ela estaria viva? Se Josie tivesse prestado mais atenção nos pedidos de Emma, ela estaria viva?

Penelope estava errada. Ela não é devotada o suficiente, prestativa o bastante ou fiel do jeito certo. Ela não é qualificada para liderar um conselho de bruxas e ela definitivamente não tentaria aceitar qualquer parte negativa da sua personalidade porque quantas outras pessoas precisariam morrer para Josie aprender que qualquer tipo de egoísmo só faz mal para ela?

Dessa vez, ela aprendeu.

Ela pediu sua retirada oficial do Conselho e, uma vez que o grêmio não tinha mais motivo para se reunir devido ao cancelamento da festividade, ela voltou para sua rotina segura.

Ela não tem mais problemas para dormir; ela começou a tomar algumas pílulas que a ajudavam e o único efeito colateral era o peso nos músculos e o sentimento sonolento.

Lizzie percebe (e reclama) mais rápido do que ela consegue dizer "ignalusa", mas Josie não se importa com os resmungos ou com o desconforto. Para quem já passou três dias consecutivos sem dormir, um pouco de incômodo é melhor do que nada.

Ela também começou a perceber que suas escapadas constantes para o quarto tem chamado a atenção dos seus amigos, então ela tenta fazer o melhor que pode em relação à isso, acordando mais cedo para conversar com Lizzie e gastando mais tempo do que deveria no almoço para ouvir as loucuras de MG.

Certa noite, ela esbarra com Rafael voltando da enfermaria; lábio rachado, supercilio sangrando, o início de uma provável enxaqueca incomodando. Ele reclama sobre as brigas constantes dos lobos recentemente e parece levemente cansado de ter que separar brigas e cuidar de hematomas, dando os vestígios de cansaço e frustração que Josie começou a entender melhor do que percebeu, nos últimos dias. É quando Josie o olha. Realmente o olha.

E sobre a ponta dos pés, o beija.

O calor humano agradável, confortável, lembrando-a de como era a sensação de estar nos braços de alguém de novo enquanto, aos tropeços, eles entram no primeiro armário que conseguem encontrar.

Estar com Rafael naquele momento parece bom; ela não se sente solitária e com certeza aprecia, mas depois que acaba, ela ainda se sente frustrada... E um pouco tosca, também.