Not for us [posie]

5. Um pedaço de nuvem laranja.

Josie não é o tipo de pessoa que costuma confrontar seus próprios sentimentos. Particularmente, ela acha que as coisas possuem um jeito natural de se resolverem, você tomando ou não partido disso.

Mas ela sabe que precisa levantar e viver quando, depois de faltar três dias consecutivos de aulas, Alaric, muito preocupado, está sentado em sua cama enquanto Lizzie está de pé de frente para a penteadeira, fazendo um grande trabalho em fingir que não estava prestando atenção na conversa.

— Você tem certeza que está bem, querida? — Seu pai questiona. O cenho levemente franzido e a mão sobre seu joelho direito.

Josie força um sorriso.

— Claro, pai...

— Não está sentindo mais nada? Lizzie me contou sobre a virose... — Josie acena, trancando o olhar com a sua gêmea através do espelho.

Ela não queria que Alaric se preocupasse, então fez a bruxa loira prometer que não contaria nada e, se caso questionada, colocasse a culpa em alguma virose.

No início, Lizzie repudiou a ideia fielmente. Ela ainda insistia que tinha alguma coisa de errado com Josie e que elas precisavam de ajuda para resolver, mas a morena desconversou, culpando as pílulas pelo abalo emocional o que, é claro, não convenceu Lizzie. Mas depois de alguns argumentos válidos e explicar a situação toda com Penelope e Samantha na sala de aula, alguns dias antes, a gêmea loura atribuiu sua crise a um coração partido e respeitou sua vontade, mentindo quando foi questionada sobre as faltas de Josie.

No entanto, a julgar pelo modo como Lizzie desvia os olhos e endurece um pouco a mandíbula, ela ainda não estava satisfeita com a decisão de Josie.

— Eu não sei o que está acontecendo. Você já é a quarta pessoa a apresentar esses sintomas. — Seu pai suspira um pouco cansado e, de repente, Josie gostaria de se compadecer com a exaustão em seu rosto para se sentir empática e gentil outra vez. Ela gostaria de colocar a mão sobre a mão do seu pai e dizer que tudo ficaria bem, como ela geralmente fazia, mas ela nota que... Bem, ela não se importa.

— Talvez seja da estação. — Oferece, tirando os cobertores do corpo.

Ela oscila um pouco quando se levanta, fraca por ter passado os últimos dias deitada inutilmente sobre o colchão.

Alaric a ampara perguntando pela milésima vez se ela estava bem.

— Só um pouco fraca. Eu vou me sentir  melhor depois do café da manhã.

— Josie, eu...

— Nós combinamos de passar na enfermaria depois das aulas... — Lizzie finalmente se pronuncia com um sorriso mais confiante do que qualquer outra pessoa conseguiria nutrir sob o cenho profundo de desconfiança de Josie. — Não é, Josie?

Presa debaixo do olhar de curiosidade e surpresa do pai de ambas, a morena dá ombros.

— Claro, por que não?

Porque se fosse para eles pararem com os questionários, ela iria sem reclamar.

•

Naquele dia, Josie decide que vai ser diferente.

Ela coloca uma calça jeans skinny preta e recupera seu cardigã amarelo preferido do guarda roupa. Suas botas de canela mais bonitas são tiradas do armário e ela tem a preocupação sincera de aplicar corretivo às olheiras, delinear os olhos e preencher suas  orelhas com um conjunto delicado de brincos dourados. Ela não pode fazer muito para disfarçar os ossos aparentes das bochechas, no entanto. A dieta limitada por conta da falta de apetite do último mês começou a dar resultado, expondo mais algumas das suas costelas e salientando ainda mais as saboneteiras já profundas sob a pele do seu pescoço.