9. A maneira certa.

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Penelope tem vinte e cinco anos quando ela aprende a amar da maneira certa.

São necessárias seis horas de terapias semanais e muitas idas e vindas do seu relacionamento com Savannah para entender que o amor é volúvel... Mas também é resiliente.

Ela é mandada da Bélgica para a Noruega devido a empresa que ela trabalha, então da Noruega para o Japão, e mesmo assim ela ainda ama sua prima mais nova como na primeira vez que a pegou no colo. É difícil, ela confessa. A vida corrida de ambas e os fuso horários incompatíveis tornam a comunicação quase impossível, mas não inexistente.

Elas ainda conversam o tempo todo. Às vezes por telefone (nas madrugadas de Penelope) às vezes por Skype (nos finas de semana de Savannah), mas toda a burocracia não importa muito. Penelope sempre consegue dar o seu jeito de trazer a menina para passar as férias com ela por que o amor, ela aprende, é sentir e matar a saudade, às vezes.

O amor também é perdão.

Ela acorda um dia em meados de março com o seu telefone tocando. É Alfredo, seu pai, e ele gostaria de tomar um café com ela.

- Como você descobriu que eu estava aqui? - Ela pergunta.

- Savannah me contou.

Ela descobre que o homem havia se casado de novo com uma Nova Yorkina chamada Lilian e que juntos eles tinham uma bebê de seis meses chamada Willow. Sua garganta logo entope com a emoção... A semelhança lhe parecia assustadora.

- Willow por causa...?

- Foi o nome mais parecido com William que conseguimos encontrar.

O homem logo se emociona.

Ele escuta a história de vida de Penelope em silêncio, ocasionalmente a interrompendo para esclarecer uma ou duas coisas que não lhe faziam muito sentido. Mas logo se calava de novo. No final, seus olhos verdes caramelados, tão parecidos com o da própria Penelope, estão úmidos.

- Sinto muito, minha querida... Eu jamais imaginei que tivesse abalado tanto você. Eu jamais imaginei que tivesse abalado tanto sua mãe, também. - A atual primogênita da família acena compreensivamente, já muito emotiva com o assunto. - Eu não sabia que a depressão era uma doença tão séria. Alá tem minhas palavras com verdade. Eu teria feito totalmente diferente se soubesse naquela época.

Ele não fez, mas estava fazendo agora.

Alfredo se desculpa por abandonar Penelope em um internato de bruxas com lágrimas nos olhos. Ele sabe que não fora uma ação digna de pai, mas mesmo assim lhe conta como a morte da ex mulher havia o feito perder a cabeça. Como havia o feito ficar frio e distante ao ponto de achar que Penelope estaria melhor longe do pai horrível e covarde que ele era.

Ela não aceita isso como desculpa, é claro, mas o perdoa por que o amor é perdão, e Penelope entendeu a muito tempo que não valia a pena guardar rancor de alguém.

Todo mundo comete erros, mas todo mundo precisa reconhecê-los e concertá-los, uma hora. Alfredo concertou o dele em uma manhã de março, às nove e quarenta da manhã com a própria filha em um café de esquina na cidade mais famosa do Japão.

Penelope saiu de lá com um convite para jantar e a promessa silenciosa de, um dia, fazer parte de uma família novamente.

Amor é companheirismo.

É agosto de 2036 quando Penelope saí de uma reunião de negócios. Seus saltos negros estalando no asfalto enquanto as mãos abanam o ar freneticamente para chamar um táxi antes dela parar, em choque, quando o grito esgoelado de um bichinho chama sua atenção.

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