Capítulo 2

92 24 5
                                    


Será que Jacob iria matá-lo por chegar atrasado?

Victor tentava não pensar nisso enquanto se observava no espelho do elevador conforme subia para o último andar da sede central da ordem Capuz Escarlate. Nem tivera tempo de tomar banho, encontrar uma roupa quase–limpa demonstrou ser uma tarefa particularmente difícil. Seus cabelos loiros estavam começando a encaracolar nas pontas, algo que odiava. Lhe dava uma aparência infantil, somado com o seu rosto afilado e nariz empinado, de tal modo que sua mãe o chamava de "pequeno anjo" quando era pequeno... Podia ser um apelido fofo naquela época, mas não deveria ser algo a ser aplicado no presente. Era um Capuz Escarlate, ou seja, devia exibir uma aparência ameaçadora.

–Eu ainda irei te raspar...–Ameaçou ao seu cabelo. Pelo menos era alto e musculoso, graças ao treinamento. Não tão musculoso quanto queria que fosse. Contraiu os músculos do braço, avaliou criticamente o resultado. Começou a fazer poses. Flexionando os braços e fazendo cara de malvado. Ainda bem que não havia ninguém no elevador a não ser...

Levantou os olhos para o teto, tinha esquecido da câmera. Perfeito. Bem provável que Jacob agora além de achar que ele era irresponsável também concluiria que se tratava de um doido.

A porta do elevador se abriu. Uma jovem mulher o esperava. Tinha seus cabelos de coloração esverdeado, meio que apagado ou desbotado, amarrados em um firme rabo de cavalo. Sua pele era branca, não como uma pessoa caucasiana, sim pálida. Seus olhos apresentavam íris de coloração azuis com vestígios verdes, Victor sempre se perdia naqueles olhos, afinal pareciam misteriosos e encantadores como o próprio oceano. O rapaz sacudiu a cabeça, tentando se libertar do leve marasmo que o dominava.

–Sheina, para de usar seu charme em mim!

–Eu não estou fazendo nada. –Respondeu em um tom monótono e entediado. Sheina não usava nenhuma maquiagem, o seu terno negro pouco deixava transparecer as curvas de seu corpo, mesmo assim, ela era bela, ou melhor, sua natureza a fazia bela, afinal, se tratava de uma sereia – Não tenho culpa se você é facilmente influenciável.

Victor lhe lançou um olhar contrariado.

–Ainda mais, você não faz o meu tipo. –Resmungou.

–Eu sei disso, o seu tipo está mais para alguém com menos peito e mais músculo, não é mesmo? Além de ter um presentinho entre as pernas. –O rapaz tentou não parecer embaraçado com aquele comentário, não que fosse mentira, porém Sheina não precisa ser tão direta!

–Vai ficar dentro do elevador o dia todo ou vai para a sala do senhor Grimm?

Victor saiu emburrado e acompanhou a sereia até o escritório. Por que Jacob a mandou para escoltá-lo? Bem provável que esse seja parte do seu castigo. Não tardo muito até que eles alcançaram a última sala do longo corredor. Na verdade, aquele andar todo era destinado ao diretor da ordem dos Capuz Escarlate. Ao longo do caminho passaram por diversos quadros e esculturas que representavam os valorosos caçadores do passado. Victor tentou não deter a sua mirada para uma pintura em particular.

O quadro era grande e se localizava logo ao lado da porta do diretor. Era uma jovem de cabelos loiros amarrados na forma de trança, em sua mão havia uma balestra, tratava–se de uma espingarda com o arco–e–flecha acoplado, a caçadora apontava a dita arma em direção aos inocentes observadores da pintura. Seus olhos verdes pareciam tão vivos que as vezes Victor esquecia que aquilo era de fato uma pintura. Além da mulher, havia um homem alto com cabelos castanhos penteados de forma desleixada que mais parecia que um tornado havia passado por sua cabeça. Exibia um sorriso confiante e o modo relaxado que segurava o rifle sobre o ombro lhe dava uma postura menos séria que a sua companheira. Ambos usavam o casaco de cor vermelha, símbolo da ordem Capuz Escarlate. Na base da figura havia uma placa de prata a qual estava escrito: Elizabeth Jägered e Erick Lébedev.

Capuz Escarlate - Legado do LoboOnde histórias criam vida. Descubra agora