Pub do caolho, o nome em si só poderia ser uma brincadeira, ainda mais quando se conhecia o dono do dito pub, um ciclope de nome Caolho. Na verdade, seu nome verdadeiro não era esse, mas como poucos conseguiam pronunciá-lo por se tratar de uma palavra da língua antiga, ficou esse apelido estranho tendo em vista que um ciclope caolho nunca existiria. Caolho detinha o seu único olho em meio a sua testa, apresentava uma íris avermelhada típica de seres da sua raça. Além disso, também era calvo, outro traço comum dos ciclopes, algo que Caolho odiava e por isso usava uma peruca de cabelos negros cujo penteado fazia com que o ciclope parecesse que utilizava uma tigela peluda como capacete. Na opinião de Victor, se Caolho pretendia sair do status encalhado a primeira coisa que deveria fazer era se livrar daquela peruca ridícula.
–Eu não pedi isso...–Reclamou o caçador ao ver o copo de suco que lhe foi servido por Caolho.
–Eu não sirvo a menores de idade, sabes disso.
–Talvez devesse marcar um oftalmologista, seu único olho deve estar com defeito! Se não percebeu, eu já tenho 18 anos!
–A idade física não equivale a mental. –Falou o ciclope com um meio sorriso que deixava momentaneamente a vista seus vários dentes pontiagudos.
–Como é que é? –Victor se levantou do banco em que estava sentado no balcão do bar, queria demonstrar o seu tamanho e o quanto tinha crescido, mas era meio difícil fazer essa comparação, ciclopes tem três a quatro metros de altura de modo que eles veem todos os humanos como baixinhos.
–Deveria ficar feliz que não te dei um copo de leite, dizem que isso ajuda as crianças humanas a crescerem. Pensando bem, vou trocar o suco por leite...
Victor protegeu o seu suco, impedindo que a grande mão do não–humano o pegasse. Já era humilhante demais ter recebido uma bebida sem álcool, pior seria receber leite!
–Você está meio desatualizado sobre como a sociedade humana se organiza, para a sua informação 18 anos já me define como um adulto. –Enfatizou, não iria admitir ser tradado como um garotinho, tinha conquistado sua independência...Pelo menos em parte, seus tutores ainda eram responsáveis por suas finanças até que alcançasse os 21 anos.
–Eu não me importo com o que vocês humanos definem como adulto ou não. Esse é meu pub e são minhas regras, filhote. Além do mais, não quero ter problemas com os seus padrinhos.
–Você andou falando com os Grimm? Eles te proibiriam de me servir bebida?
Caolho deu uma risada, os copos sob o balcão tremeram com o ressoar do som rouco emitido pelo ciclope.
–Eu me lembro de você quando tinha esse tamanho. –Indicou o dito tamanho unindo o dedo polegar e o indicador em uma mão. Victor corou, sabia que Caolho era um dos velhos amigos de seus pais, aliás, fora naquele mesmo pub que seus pais se conheceram e começaram a namorar, ou a brigar, já que sua mãe tentou prender o seu pai por ele estar metido em apostas e jogatinas que ocorriam no pub do Caolho, um caçador não deveria se meter nessas coisas, ainda mais ser organizador e claramente roubar nos jogos. Deste primeiro encontro conturbado surgiu a faísca do amor. Quem diria, não é mesmo? Eles eram totais opostos. – Eu ainda te vejo como um filhote, não importa o quanto argumentes. Nisso eu e os Grimm concordamos.
–No que? Em se negarem em ver a minha maioridade? –Resmungou tomando um trago de seu suco.
Caolho voltou a gargalhar, para o desconforto e irritação de Victor.
"Talvez eu devesse buscar outro Pub..." Pensou decidido, mas relutava em fazê-lo. Aquele ambiente era por demais familiar, quase como um segundo–lar.
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Capuz Escarlate - Legado do Lobo
Mystery / ThrillerA ordem Capuz Escarlate, desde da terceira grande guerra, mantém a paz entre os humanos e os não-humanos. São a balança, a espada e o escudo da nação de Arcadia. Todos os admiram e os temem. Sua marca: um capuz de coloração vermelha tal como o sang...