Capuz Escarlate - Legado do Lobo

Capítulo 7

Viajar de carro era muitas vezes melhor do que trem, Victor concluiu facilmente esse fato, afinal já tinha viajado, devido a sua antiga missão, usando o transporte ferroviário de Arcadia, não que os trens fossem de todo ruim, mas é que grande parte da população os utiliza, de modo que estão sempre lotados e como a Ordem, mais precisamente Jacob Grimm, acredita na contensão de despesas, os caçadores ficavam como os piores lugares, algumas vezes dividindo espaço com a carga e até mesmo como os animais.

Já estava escurecendo e a autoestrada não apresentava iluminação, de modo que no exterior estava totalmente escuro a nãos ser pelos carros e caminhões que a trafegavam. Um dos entretenimentos do jovem caçador durante aquela viagem era ver os olhos de Klaus que se iluminavam quando expostos a luz dos faróis de algum veículo que vinha em sentido contrário. Era fascinante ver o reflexo da luz em suas pupilas. Isso era mais uma prova de sua natureza não–humana. O caçador viu que mais um carro se aproximava, olhou ansioso para Klaus esperando que o evento acontecesse. Logo, o rosto de lobo se iluminou, seus próprios olhos de íris douradas pareciam faróis, faiscando. Infelizmente o efeito durava poucos segundos, já que a velocidade de ambos os veículos era alta, Victor tinha que ser rápido para ter o vislumbre do fenômeno. Estranhamente, o jovem caçador se sentia bastante satisfeito consigo mesmo por mais uma vez ter conseguido flagrar o efeito, era um passatempo muito tolo, de fato, mas pelo menos o divertia.

–Tem algo estranho na minha cara? –Inqueriu Klaus, mirando de relance o humano. Victor virou o rosto, rapidamente, para janela, fingindo observar a paisagem inexistente, afinal o que se podia ver era apenas a noite sem estrelas e uma lua minguante parcialmente coberta pelas nuvens densas.

O lobo emitiu uma risada abafada.

–Se me achas atraente só precisa dizer!

Victor sentiu as bochechas esquentarem, agradecia, internamente, pela a escuridão que estava ocultando a vermelhidão de seu rosto.

–Não é isso, idiota! –Resmungou, fazendo desenhos com o dedo na janela, tentando ignorar o lobo, algo que aos poucos descobria ser impossível.

–Se está entediado pode ouvir música ou mesmo analisar mais os relatórios do caso.

–Não estou entediado. –Continuou a resmungar.

"Droga! Estou parecendo uma criança mimada!" Pensou, resolveu esquecer seu embaraço e tentar se concentrar em algo produtivo. O interior do veículo parecia transparecer a personalidade do lobo, ou seja, um maníaco por organização e limpeza. Havia vários pendrives etiquetados e organizados meticulosamente, cada um parecia conter um estilo musical diferente e até áudio–livros. Também havia revistas em quadrinhos guardadas em um compartimento abaixo do banco, todos encapados com plástico protegendo o material como se esse fosse algo mais importante do mundo, o caçador nem pode folheá-los para saber qual seria o conteúdo de tal tesouro pois o lobo ficava lhe lançando olhares nervosos como se Victor pudesse, de alguma forma, destruí-los com o simples toque, logo para que evitassem um acidente, afinal era Klaus quem estava dirigindo e sua atenção deveria estar na estrada e não relacionados a segurança de uns gibis bobos, resolveu deixar aquela coleção para uma futura analise . A partir de todas essas observações, Victor concluiu que Klaus era um grande nerd... Lhe custava imaginá-lo como um membro da Ordem, mesmo que a jaqueta vermelha com o símbolo dos Capuz Escarlates que tinha ganhando devido ao seu posto como auxiliar, estava logo ali jogada no bando de trás.

Victor deixou seu olhar se focar em uma tela de plasma em meio ao painel do carro. Klaus tinha feito uma longa explicação a respeito do dispositivo, algo que o loiro pouco prestou atenção pois se tratava de um bla-bla técnico demais para o seu gosto, só sabia que era um aparelho que indicava, precisamente, aonde estavam no mapa de Arcadia, seu nome era FPG (Feitiço de Posicionamento Global). Na tela se podia ver a miniatura desenhada do carro e este avançava em direção ao limite das fronteiras norte do mundo. Arcadia era delimitada, em sua parte norte e leste, por uma cadeia de montanhas denominada Muralha da Névoa, como o nome já indicava, as montanhas eram como muralhas intransponíveis e cujos cumes não era visível, sendo envoltos pelas próprias nuvens do céu. Poucos se aventuraram a escala–las, pois eram extremamente verticais as suas encostas, além de não ter pontos de apoio, o que tornava todo o processo de subida perigoso e praticamente impossível. As muralhas eram envoltas de mistério, sendo ao mesmo tempo temidas e admirada. O que tem por trás da Muralha? Outro mundo? Outras terras? Outros povos? Algum dia poderemos subir e ver o seu fim? Esses questionamentos eram bem comuns e geravam constantes debates desde a população civil até os mais sábios magos e cientistas. Existia, também, outro obstáculo natural que delimitava as fronteiras de Arcadia. Na posição sudeste havia um deserto chamado de Dunas infinitas, novamente o nome deixava pouco a esconder sobre o que representava, tal como a Muralha, as Dunas também eram intransponíveis, pelo menos até o momento. Várias expedições já foram financiadas pela família Real para que explorassem o deserto, mas a falta de água e intenso calor não era as maiores preocupações daqueles que enfrentavam as Dunas e sim os monstros que lá habitavam. Seres que não estão classificados nas categorias comuns de humano e não–humano. Eram criaturas irracionais e mortíferas, a areia era seu habitat e seu reino, poucos sobreviveram para descrevê-las. Fora esses obstáculos, havia no Oeste o mar, esse sim estava sendo bem explorado, uma hora ou outra surgia a notícia da descoberta de uma nova ilha estampado nos jornais de Arcadia. O comercio e exploração marítima eram a moda do momento. Alsfeld estava localizada precisamente sob a sombra da Muralha, era difícil acreditar que uma pequena vila tenha sobrevivido tão distante dos centros urbanos, ainda mais na época das Grandes Guerras, aonde tal região era considerado selvagem e infestada de seres não–humanos incivilizados e ávidos por carne humana. Neste ambiente sombrio e inóspito foi o berço dos primeiros membros da Ordem...