Um dia, Alfredo e eu estávamos na sala de estar. Nós pintávamos os desenhos das revistas de colorir. Em um momento, eu me levantei do chão. Aproximei-me da estante. Coloquei a revista de colorir perto de um amontoado de jornais.
Nisso, eu vi o álbum de fotos da família que estava na estante. Eu o abri e comecei a olhar o que estava dentro dele. Havia fotografias de três rapazes onde Félix estava entre eles. Meu pai parecia ter uns 17 anos na foto. Em outra fotografia, eu vi a imagem dos meus primos. Olhei fotos dos meus pais e de Alfredo.
Em uma delas, meus pais estavam de pé no quarto. Eu estava no colo da minha mãe enquanto Alfredo de 1 ano de idade se encontrava ereto em cima do criado-mudo. Félix o segurava. A fralda de Alfredo havia caído no momento da foto e as partes intimas do meu irmão ficaram expostas na imagem. Eu sorri quando olhei aquela antiga fotografia. Era engraçado ver a imagem do meu irmão de quando ele era um bebê.
Havia uma foto antiga de um homem de cabelos negros também. O sujeito era um índio como eu. Ele trajava um paletó listrado. Não havia ninguém junto dele na imagem. Eu não havia pensado nele antes. Mas fiquei curioso naquele momento. Pela primeira vez, desejei saber quem era o homem daquela foto.
Minha mãe foi para a sala de estar. Ela ligou a televisão e se sentou no sofá. Eu me aproximei de Mariane. Apontei meu dedo indicador para a foto do homem e falei:
— Quem é esse homem de terno listrado?
Mariane olhou para a fotografia. Alfredo parou de pintar. Ele se levantou do chão. Meu irmão se aproximou de nós e observou a foto. Minha mãe pegou o álbum e respondeu:
— É o teu avô paterno. O pai de Félix.
— Você tem fotos da minha avó paterna? — perguntei.
— Não — respondeu ela.
— Por quê? — perguntei.
— A mãe de Félix morreu há muitos anos. Não tiveram tempo de tirar uma foto dela — respondeu minha mãe.
— Meu avô paterno ainda está vivo? — eu indaguei.
— Sim — ela respondeu.
— Qual o nome dele? — perguntou Alfredo.
— Murilo — Mariane respondeu.
— Qual o nome da mãe de Félix? — perguntei.
— Daiane — respondeu minha mãe.
— Onde meu avô paterno mora? — perguntou Alfredo.
— São João das Missões, no estado de Minas Gerais — ela respondeu.
— Meus avós maternos estão mortos também? — perguntou meu irmão.
— Minha mãe teve complicações na gravidez e morreu quando eu tinha 3 anos. Ela daria a luz ao terceiro filho quando morreu. Meu pai se casou de novo depois que ela faleceu. Ele está vivo ainda e vive em São João das Missões até hoje. Eu morei com meus tios quando fiquei órfã de mãe. O nome da minha mãe era Ieda. Meu pai se chama Neemias.
— Você não tem nenhuma foto dos meus avós maternos? — perguntei.
— Não — ela respondeu.
— Murilo e Neemias são os meus únicos avôs vivos — disse Alfredo.
Eu reconhecia os traços físicos da família na imagem do meu avô paterno. Murilo se parecia muito com a minha tia Carlota. Às vezes, eu perguntava sobre os pais de Félix para Mariane. Ela nunca me falava sobre detalhes da infância de meu pai. Eu sabia que ele tinha cinco irmãos. Meus pais passaram uma parte da vida deles em São João das Missões, no estado de Minas Gerais.
Dos cinco irmãos de Félix, eu vi apenas duas: Carlota e Graziela. Ambas moravam em Porto Alegre. A propósito, Mariane tinha meios-irmãos que eu não conhecia. Eu nunca vi meu avô materno.
***
Certa tarde de domingo, Alfredo e eu fomos para a área que havia em frente a nossa casa e começamos jogar basquete. Nesse instante, Ernâni e Alan saíram da residência deles. Os dois pararam perto da cerca lateral. Eu olhei de relance para os dois vizinhos por alguns segundos, mas não parei de jogar. Alfredo os ignorou também. Ernâni falou:
— Alan e eu podemos brincar com vocês
Meu irmão e eu paramos de jogar naquele instante. Alfredo falou:
— Só Alan pode participar.
— Vocês ainda estão chateados comigo porque eu bati em vocês na última vez em que brincamos juntos? — disse Ernâni.
— Claro que sim — eu falei.
— Você só sabe nos bater — disse Alfredo.
— Eu serei bonzinho dessa vez. Por favor, vamos fazer as pazes — disse Ernâni, sorrindo.
Nesse momento, Ernâni juntou os seus dedos indicadores e falou:
— Corta aqui.
Nesse momento, Alfredo separou os dedos de Ernâni com a mão. Eu fiz o mesmo em seguida. Reatamos a amizade com o nosso vizinho. Ficamos de mal com Ernâni várias vezes antes, mas sempre voltávamos a brincar com ele depois de alguns dias. Não guardávamos mágoas, não sabíamos odiar pois ainda éramos crianças.
Meu irmão e eu demos um voto de confiança para Ernâni de novo como fizemos em outras ocasiões.
Logo após, os nossos dois vizinhos se juntaram a nós na partida de basquete. Brincamos juntos até às 16 horas.
Às 22 horas daquele dia, eu me deitei em minha cama. Mariane, Alfredo e eu havíamos feito uma oração no quarto antes de dormirmos. Ela apagou a luz e saiu do cômodo. Eu me embrulho e dormi. Naquela madrugada, eu tinha um pesadelo onde eu me encontrava na sala de aula do colégio onde eu estudava. A professora escrevia no quadro enquanto meus colegas jogavam bolas de papel uns nos outros. eu era o único que estava copiando no caderno. De repente, meus colegas de turma e a professora começaram a se tornar translúcidos como se fossem vidros. Eu me assustei quando percebi que eles se tornavam casa vez mais transparentes. A imagem deles parecia se apagar gradativamente. Em um dado momento, não havia mais ninguém na sala exceto eu. De repente, a garota de roxo apareceu em frente à mesa da professora, sorriu para mim. A assombração esquisita estendeu sua mão direita e disse: "Venha comigo, Hugo".
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O Segredo de Hugo
ParanormalA vida de Hugo era quase normal a não ser pelo fato de ele ser rejeitado na escola. Um dia, ele passa a escutar sussurros misteriosos que as outras pessoas não escutam. O garoto pensa que está ficando louco. Hugo tem alguns sonhos lúcidos onde uma g...