Ela, de novo?

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Acordei no dia seguinte, com uma dor de cabeça quase que insuportável e, é claro, junto com a dor, veio o arrependimento da noite passada, e, para fazer um combo, me lembrei do que houve.

Quando eu estava mal, eu costumava falar com Oliver ou Vic, e eles costumavam dizer que depois de um dia ruim, a melhor coisa que pode acontecer são os primeiros 10 segundos do dia seguinte, quando a gente acorda. É como uma amnésia temporária, onde se esquece de todos os problemas e está tudo bem, até que tudo venha à tona novamente. Eles estavam mais do que certos. É questão de segundos pro seu dia perfeito ficar ruim. Até trinta segundos antes, quando eu tomei consciência após uma calmamente noite de sono, achei que seria um dia bom... achei que eu levantaria, escovaria os dentes e iria para o quarto dela mima-la, provavelmente assistir um filme por baixo dos cobertores, sem preocupações extremas, mas, felicidade dura pouco, não é? Ela nem sequer sabia tudo o que passamos, na verdade, ela não se lembrava, eu acho que isso não deixa de ser ruim mas, se parar para comparar, não é pior do que a outra opção.

Depois de pensar um pouco, olhando para o teto, me sentei na cama, senti uma leve tontura. Permaneci sentado até passar, então fitei a janela do meu quarto. Ela estava aberta e uma brisa fria misturada com algumas gotas de chuva empurravam e molhavam minha cortina. Me levantei e fechei aquela janela, e me virei para a sacada, Lunna estava lá, enrolada em um cobertor e segurando uma caneca com as duas mãos, que estavam protegidas com luvas vermelhas e espessas.

Me encostei na parede do meu quarto, e a observei por alguns minutos, enquanto ela bebia o que quer que fosse. Ela tomou um gole da bebida, e a brisa bateu em seus cabelos, a fazendo ter um leve tique nervoso e engraçado. Ri baixinho, mas ela ouviu, e se virou em minha direção. Abri um sorriso, e ela corou, mesmo assim, percebi olheiras e um olhar triste em seu rosto. Fui até meu closet e coloquei um moletom quente, mas quando voltei, ela não estava mais lá.

- Poxa... — murmurei, e respirei fundo. Seria assim por tempo, e eu precisaria me acostumar, independente de quão ruim aquilo fosse.

Resolvi passar o dia no quarto. Fechei as cortinas, e liguei minha TV, e assisti alguns filmes. Quando fiquei com fome e desci as escadas, os garotos estavam na sala, todos quietos com seus celulares, menos Gabe, que dormia no colo de Isa, que também estava quieta, fitando um ponto fixo na sala, com um olhar triste. Quando percebeu minha presença, me fitou, e sorriu fraco. Fiz o mesmo, e voltei o meu caminho para a cozinha. Lunna estava lá, com seu pai, os dois sentados na mesa. Quando Mike me viu, sorriu e fez menção de que viria até mim, mas, apenas recusei com a cabeça, e ele permaneceu sentado. Lunna continuou lá, quieta e atenta ao que acontecia ao seu redor, mas ainda olhando para sua caneca de café, com aquelas luvas coloridas.

- Bom dia. — murmurei, e abri a geladeira, assim que a abri, fitei a aliança em meus dedos, então uma angústia me bateu e eu tive de conter o choro.

Ao mesmo tempo, Jack entrou na cozinha e percebeu minha expressão, veio até mim, e me abraçou forte. Nesse meio tempo, Lunna estava olhando nós dois, e ao notar a tristeza que brilhava em seu olhar, uma lágrima desceu em meu rosto, enquanto eu uma dor forte no peito, não era dor, era como se não houvesse absolutamente nada em meu peito, além de um ar gélido. Um sentimentalismo vazio.

- Tá tudo bem cara... — Jack sussurrou, e me soltou devagar, e eu limpei meu rosto. — Quer sair? — perguntou.

- Quero. — murmurei, e ele sorriu.

- Vai tomar um banho, aí depois a gente busca a Cope. — Jack disse, e eu assenti com a cabeça.

Olhei para Mike, e Lunna continuava me olhando, com os olhos repletos de lágrimas.

- Desculpa. — ela sussurrou, forcei um sorriso, e assenti com a cabeça. Não era culpa dela, e ambos sabíamos disso.

Peguei uma maçã na fruteira e fui para o meu quarto. Comi a maçã enquanto separava minha roupa, e fui tomar um banho. Me vesti e me sentei na minha cama, fitando minha aliança. Apesar de tudo, resolvi não tirá-la. Eu era um homem quase casado, mesmo que minha noiva não se lembrasse de mim. Peguei meu celular, desci as escadas e encontrei os garotos na sala, me esperando. Quando me viram, se levantaram, em silêncio. Toda casa ficou tão solitária, e calada depois do que aconteceu. Mesmo estando cheia de pessoas, acho que todos estavam se sentindo vazios, principalmente eu. Entramos no carro de Gabe, e fomos para um restaurante, e ao lado havia um bar, o mesmo bar de tempos atrás, a penúltima vez que vi Kate.

Flashback On

Depois do show, vesti uma roupa que eu havia trazido e resolvi beber um pouco. Liguei para um táxi, que chegou em alguns minutos. Peguei minha carteira e fui saindo do camarim.

- Onde vai? — perguntou Jus.

- Beber. — murmurei, e Justin suspirou com reprovação.

- Você tá casado agora, não acha que é melhor ficar sóbrio e evitar problemas?

- Relaxa, Justin. Depois eu volto para casa. Amanhã devolvemos a Cope. — murmurei e saí do camarim.

Corri até o táxi, e falei para ele ir para um bar qualquer. Chegamos em alguns minutos, paguei o taxista e saí. Entrei no bar, e me sentei na bancada. Bebi algumas cervejas enquanto olhava algumas fotos de Lunna em meu celular, até que uma mulher se sentou em meu lado.

- Uísque duplo, por favor. — ela disse, e rapidamente reconheci sua voz.

- Você só pode estar me seguindo, né... Kate. — murmurei, ainda fitando meu celular.

- A sua falta de fé em mim quase me ofende!. - constatou e eu ri, alto.

- O quê quer comigo? — perguntei, e guardei o celular no bolso, olhando para ela.

- Um abraço... se não for pedir muito. — murmurou, e eu ri.

- Sério? — perguntei, irônico.

- É pedir demais? Depois de tudo o que vivemos juntos, o que é um reles abraço, Kellin? — revirei os olhos, mas acabei abraçando Kate. Porém, quando nos soltamos, ela me roubou um beijo. Eu, alterado o suficiente, correspondi. — Eu sabia. Você ainda me ama, Kellin!

- Meu Deus. — murmurei, limpando minha própria boca. — Quando você vai começar a entender que você errou? — falei em tom de voz alto, e todos do bar olharam para nós. — Eu sou casado, eu não quero mais você, me deixa em paz. — gritei, e Kate ficou com lágrimas nos olhos. Ela olhou para o chão, e saiu correndo do bar. Depois de um tempo deixei de ser o centro das atenções, e voltei a beber.

Sometimes You Gotta Fall Before You Fly...Onde histórias criam vida. Descubra agora