Eu deveria ficar?

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- Como assim 'quem é ele'? — Mike exclamou atônito. Lágrimas já se acumulavam em meus olhos.

- Sou eu, Kellin. — respondi, temendo o pior.

- Bem, eu sei que você é o Kellin Quinn da banda Sleeping With Sirens. O que eu não entendi é o que você está fazendo aqui.

- Ele é seu noivo, Lunna. — Mike disse. Tentei me aproximar, mas meus pés pareciam ser de chumbo e eu não consegui sair do lugar.

- Noivo?? — ela murmurou e levou o olhar até sua mão, onde estava a aliança brilhante. Rapidamente, os batimentos cardíacos dela se aceleraram e ela começou a ter um ataque de asma.

Uma enfermeira entrou no quarto para socorre-la. Eu tentei ajudar, mas ela recuava e me implorava com o olhar para que eu ficasse longe. Não aguentando mais aquilo tudo, usei o restante das minhas forças e saí correndo daquele lugar. Acabei esbarrando em Isabela, que estava do lado de fora.

- Desculpa. — murmurei rouco.

- Não tem problema. — ela encarou meu rosto avermelhado pelo choro — O que aconteceu?? Ela tá bem?

Funguei e deixei ela me puxar para um abraço apertado. — Ela não se lembra de mim!! — choraminguei. Me soltei do abraço — Preciso sair daqui.

Saí correndo, mas ainda pude ouvir ela me dizendo para tomar cuidado e não fazer nenhuma besteira.

Isabela's POV

Kellin saiu correndo, parecia devastado, mas eu o compreendia. Estava a um passo de entrar no quarto, quando Mike saiu de lá, acompanhado de um médico.

- O que ela tem? — perguntei, chamando a atenção dos dois.

- Perda de memória temporária. Ela não se lembra de nada desde a morte da mãe, só de ter vindo morar com o pai. Mesmo assim, as memórias mais recentes que ela tem estão confusas.

- Quanto tempo até voltar ao normal?

- Não tem previsão. Pode ser tanto como amanhã, ou só no mês que vem. — o médico respondeu.

- Tem algo que pode ser feito pra ajudar no processo? — Mike perguntou.

- Sim, claro. Cheiros, fotos, lugares... tudo pode ajudar. E acho que ficar em casa ajudará, e com o ela parece não ter nenhum outro problema, eu irei liberar ela agora.

Kellin's POV

Saí do hospital e fui até o bar mais próximo, e a primeira coisa que pedi foi uma garrafa da vodca mais barata. O celular ficou no carro, eu não queria ser incomodado por ninguém. Eu estava destruído por dentro, era difícil segurar as lágrimas. Duas garrafas depois, e eu ainda não me sentia entorpecido o suficiente, a dor não ia embora. Depois de algum tempo e muito álcool, cambaleei até o banheiro. Lá, encontrei uma mulher se olhando no espelho, passando batom. Era uma das mulheres que estava no bar com a maior cara de desinteresse nas pessoas. Ela parecia só estar afim de aproveitar quantas bebidas fossem pagas por velhos interessados em levá-la para qualquer quarto de um motel barato, mas ela sempre dava um jeito de afastá-los após conseguir o que queria.

- Você está no banheiro errado, moça. — falei e ela sorriu.

- Não. Você que está no banheiro feminino.

Olhei ao redor, o banheiro não tinha nenhum mictório e parecia mais organizado que o normal — Yeah, acho que me confundi. Desculpa. — comecei a me direcionar para fora do banheiro.

- Eu venho a este bar todos os dias. — falou sem se importar em me olhar.

- Hm.

- Sabe por que ele é tão cheio? — perguntou, guardando seu batom na bolsa.

- Não?!

- Porque ele é o mais próximo do hospital. — disse. Ela se virou pra mim, e notei que por trás das lentes dos óculos de armação grande estavam belos olhos, vesgos.

- Faz sentido. — murmurei, sem saber exatamente sobre o que eu estava falando. Uma outra mulher entrou no banheiro me olhou estranho, mas depois ignorou a minha presença completamente.

- Uma das poucas coisas que fazem sentido por aqui. — afirmou, pegando suas coisas e se aproximando de mim — Eu já escutei todo tipo de história por aqui.

- Espero que a maioria tenha sido interessante.

- Qual a sua história? — ela me deu um sorriso estranho, que arrepiou todos os pelos do meu corpo. Mesmo assim, não hesitei em responder.

- Minha noiva perdeu a memória num acidente de carro. Um acidente proposital, no caso.

- Eu atropelei meu filho. — Ela disse, direta. — Meu marido tentou me matar depois disso.

- Sinto muito.

- Eu também. — Ela disse e sorriu fraco.

- Quer uma bebida? — perguntei.

Ela assentiu — Claro.

Saímos do banheiro e nos sentamos na mesma mesa em que eu estava antes. Em meio várias garrafas de bebidas, conversamos sobre seu filho e sobre Lunna. Trocamos experiências e conselhos como verdadeiros velhos amigos. Depois de muito tempo, ela anunciou que teria de ir embora. Eu assenti e ambos fomos até o balcão, cada um pagou sua própria conta e saímos do recinto.

- Vai ficar tudo bem. — Ela disse, olhando para o além — Acredite. Tenha fé.

- Eu espero que sim. — encolhi os ombros — Não consigo me imaginar sem ela na minha vida.

- Até qualquer dia, Kellin. — Ela disse, indo na direção de seu táxi.

- Até qualquer dia. — e ela se foi, sem ao menos me dizer seu nome.

Depois de tanto álcool e conversas, e de tantas emoções ao longo do dia, eu me sentia exausto físico e mentalmente, e optei por chamar um táxi para mim. Fui todo o caminho em pleno silêncio, tenho sorte em não me tornar um idiota tagarela quando estou bêbado.

Entrei silenciosamente em casa, o que foi uma boa escolha. Lunna dormia no colo de Isa, que fazia um cafuné suave em seus cabelos. Olhar ela dormir tão calmente me tirou quase todo efeito do álcool.

- Oi. — Ela sorriu de lado — Amanhã nós conversamos. Vai descansar.

Assenti, dei um breve beijo na testa de Lunna e subi para o meu quarto. Sim, eu merecia um descanso. O problema, é que no momento em que me deitei com a cabeça no travesseiro, tudo o que aconteceu voltou a se passar em minha mente como um filme em câmera lenta. As lágrimas escorriam a cada lembrança que eu visualiza, e a cada momento meu coração apertava um pouquinho mais. Eu queria entender qual o motivo do destino de fazer aquilo, comigo e com Lunna. Queria saber se aquilo era um sinal para deixá-la livre. Não podia ser! Não se eu a amava tanto e ela me amava de volta. Então... por quê?

Depois de tanto me questionar, e de questionar a vida, acabei acontecendo olhando uma foto de Lunna no visor brilhante do meu celular.

Sometimes You Gotta Fall Before You Fly...Onde histórias criam vida. Descubra agora