CAPÍTULO VII - TWO GHOSTS

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Frederick acordou sentindo os raios de sol tocando seu rosto, mas ainda sim era um dia frio. Levantou-se dolorido, havia sido outra noite em que ele dormira no sofá sob vários papéis da investigação que passara a madrugada toda analisando, tentando encaixar peças de um quebra-cabeças que parecia não querer ser revolvido, ou talvez ainda estivesse incompleto. Seus olhos foram desviados para Sirius e o labrador bocejou vindo em sua direção animado ao perceber que ele havia aberto os olhos e finalmente acordado.

— Não tenho sido um bom amigo pra você cara... — comentou ressentido por não estar conseguindo dar muita atenção para o animal nos últimos dias enquanto corria seus dedos por sua pelagem negra.

Levantou-se animado, tomando como incentivo os escassos raios de sol e o cachorro que o acompanhava, caminhou até a enorme janela da sala, que iluminava todo o ambiente, apoiando-se no parapeito pôde perceber que a movimentação na rua ainda era calma naquela manhã de sábado.

Acordar cedo tinha se tornado um hábito desde que saíra da casa de seus pais, assim como começar o dia com uma boa xícara de café. Sentia-se bem estando sozinho, não de uma maneira solitária, apenas sabia apreciar sua própria companhia, o que muitas vezes não era possível mesmo que a casa de seus pais fosse grande o bastante para se manter distante dos outros habitantes.

Além da companhia de Fleming, sentia falta de como a geladeira e os armários da casa estavam sempre cheios, odiava fazer compras além de sempre esquecer desta tarefa, e por isso bufou irritado dando-se conta de que não conseguiria fazer seu café já que mais uma vez os armários estavam vazios. Teve que se contentar com a única coisa que havia sobrado em sua geladeira, uma maçã que ele torcia para que estivesse boa pois já sentia seu estomago roncar. Caminhou até o armário onde guardava a ração de Sirius dando uma mordida na fruta, encontrando o saco ainda pela metade.

— Pelo menos não esqueci a sua — constatou sorrindo encarando o cachorro enquanto despejava os grãos no recipiente do animal que abanava o rabo agradecido.

Resolveu procurar a coleira de Sirius enquanto o cachorro devorava a ração rapidamente, aquele era seu dia de folga e sentia que devia um passeio a si mesmo e também ao animal que não havia saído do apartamento desde que chegaram ali, além de precisar urgentemente fazer compras. O cachorro se agitou assim que Frederick tirou a coleira vermelha do fundo de uma das poucas caixas ainda espalhadas pelo chão da sala, pulando em cima dele e quase o derrubando.

Em poucos minutos ele estava pronto, vestido com um conjunto de moletom preto e os tênis de caminhada. Sirius esperava na porta ainda inquieto, latindo ocasionalmente como se tentasse apressar o ruivo. Demorou alguns minutos até que Frederick se lembrasse onde havia deixado as chaves na noite anterior, não estava acostumado a ser tão desorganizado mas com o caos que andava sua vida e todas as coisas que tinha em mente parecia impossível se estruturar.

Caminhou até a porta de madeira escura, prendendo a guia na coleira antes de abrir-la, ele e Sirius desceram os dois andares de escadas, o cachorro o arrastava desajeitadamente extremamente animado como se tivesse um enorme estoque de energia para gastar fazendo-o rir e tentar acalmar o animal quando finalmente chegaram na rua e começaram a correr.

Logo nas primeiras passadas ele notou que havia sentido falta daquilo, era como se sua mente se desligasse por alguns instantes e seu corpo assumisse todo o controle, sentia falta de toda aquela adrenalina e da sensação pungente que queimava seus pulmões em busca de oxigênio. A cada nova passada sentia que um pouco da tensão acumulada ao longo daqueles dias era deixada para trás. Naquele momento Frederick não se importava para onde estava indo, corria sem rumo pelas ruas vazias da cidade deixando que seus pés o levassem para algum lugar distante da confusão em que se metera.

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