CAPÍTULO III - THE LESS I KNOW THE BETTER

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Kevin não queria admitir que estava nervoso. Do lado de fora da escola uma chuva forte caia, fazendo com que todos os alunos fossem obrigados a se reunir no ginásio, buscando se afastar da enorme quantidade de policiais que estavam circulando pelos corredores. A grande massa de adolescentes curiosos e agitados reunidos fazia um barulho insuportável e para Kevin era momentaneamente impossível permanecer ali. O garoto saiu em busca de um lugar mais tranquilo, onde poderia relaxar e fumar um cigarro. O portão que interligava o ginásio aos vestiários logo entrou em seu campo de visão e ele não pestanejou antes de ir em direção a ela, deixando os amigos para trás, enquanto Irvine reclama sobre ele sempre fazer saídas repentinas.

Diferente do ginásio o vestiário estava silencioso, Kevin suspirou ao constatar que era o único ali enquanto dava passos calmos em direção ao banco de concreto localizado entre as cabines. Levou uma das mãos aos bolsos tirando o maço de cigarros e também o isqueiro, encarou o objeto enquanto deslizava o polegar sobre o desenho de dragão em alto relevo na superfície prateada que brilhava na luz fluorescente do lugar. Um sorriso tomou conta do seu rosto quando a lembrança de como havia ganhado aquele objeto emergia em seus pensamentos. Uma lágrima escorreu pelo seu rosto quando se deu conta da saudade que sentia de Anson.

— Kevin? — perguntou Eleanor encostada na porta do banheiro masculino fazendo com que Kevin fosse rapidamente afastado de seus pensamentos, limpando com rapidez as lágrimas que antes estavam em seu rosto. — Eu sei que é uma pergunta meio idiota, mas você está bem? — questionou enquanto andava em direção ao garoto e sentava-se ao seu lado. Ele apenas afirmou com um gesto e logo algumas outras lágrimas escorreram enquanto ele mantinha a cabeça baixa. A garota olhou para ele em busca de respostas e percebeu o pequeno objeto de metal que ele segurava — Você sabe que nós podemos conversar sobre tudo, certo? — ele apenas acenou novamente e ela preferiu esperar que o moreno se sentisse confortável para contar o que havia despertado sua tristeza.

— Ele te contou como foi que eu consegui esse isqueiro? — Kevin quebrou o silêncio em menos tempo do que Eleanor esperava, limpando o rosto com a manga da camisa. A menina apenas negou encarando-o com atenção. — Nós estávamos em um bar jogando sinuca uma vez — sorriu com a cena voltando em sua mente — Eu vivia perdendo meus isqueiros e digamos que aquele dia eu não estava no melhor dos meus humores - comentou sorrindo para a garota — Algumas doses me fizeram acreditar que era uma boa ideia começar uma briga com um cara que eu achava que tinha pegado meu isqueiro antigo.

— Realmente um ótimo motivo — ela riu desaprovando a atitude desnecessária de Kevin e ele a acompanhou, uma risada fraca porém sincera.

— Anson teve um trabalhão pra apaziguar as coisas no bar, porque além de eu estar muito bêbado pra conseguir brigar eu tinha escolhido um cara enorme pra implicar. Então ele decidiu que não aguentava mais essa história dos isqueiros e que eu devia ser mais responsável. Era tarde da noite e ele também não estava sóbrio, aí pensou que era uma ótima ideia me dar um isqueiro menos comum pra que eu não me confundisse e não arranjasse mais problemas. No outro dia eu estava na casa do meu avô, não quis ir pra casa bêbado pra ouvir sermão dos meus pais, e ele apareceu lá pra ensaiar com a Florence e me deu esse isqueiro. — finalizou erguendo o objeto na direção da garota. — Eu sinto falta de como ele resolvia as coisas pra gente, sempre tinha uma ideia sabe? Mesmo que nem sempre fosse boa.

— Kevin, para de falar como se ele tivesse morrido. Daqui a alguns dias ele sai do hospital e as coisas vão voltar a ser como antes. — Eleanor disse, tentando convencer não só o garoto mas a si mesma.

— Todas elas? — questionou encarando os olhos azuis de Eleanor, que abriu a boca tentando formular uma resposta sem obter sucesso. — Nós não conversamos direito desde o que aconteceu com ele.

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