Two Ghosts

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Tem sido escuro, o mundo pós você é um lugar onde eu ainda não aprendi a respirar, vivendo em um grande ciclo, me enraizando em minha raiva de ter entregado tudo o que eu sou a você, cada segundo é insuportável, cada instante uma eternidade, me afundando no vazio da sua inexistência, meus pesadelos se tornando realidade, eu fui tolo em acreditar que algo em você era real, eu acreditei que pelo menos uma
vez eu não estava em ameaça, acreditei que não cairia, acreditei que podia ser um ser humano quando estava com você.

Me desculpe por acreditar, me desculpe por fantasiar, me desculpe por tentar, me desculpe por estar sangrando agora.





Biblioteca UCL
Quarta - feira,
12:30 P.M.

"Os olhos não estão aqui
Aqui os olhos não brilham
Neste vale de estrelas tíbias
Neste vale desvalido
Esta mandíbula em ruínas de nossos
reinos perdidos
Neste último sítio de encontros
Juntos tateamos
Todos à fala esquivos
Reunidos na praia do túrgido rio
Sem nada ver, a não ser
Que os olhos reapareçam
Como a estrela perpétua
Rosa multifoliada
Do reino em sombras da morte
A única esperança
De homens vazios."

- Homens Ocos, T.S. Eliot

— Harry? Eu te procurei por todo o campus — Louis disse se sentando na cadeira a minha frente da mesa onde eu estava, não tirei meus olhos do livro, e muito pouco lhe dei atenção — Harry? — Louis tentava chamar minha atenção
para ele, mas permaneci imóvel — O que está acontecendo?

— Louis, por favor, se quiser sexo, vá procurar outra pessoa, eu estou farto dessa sua encenação — finalmente o respondi, mas eu ainda não lhe dava importância, só continuei a ler o poema em minha frente.

— Que porra você está falando? — Louis bateu suas mãos na mesa se levantando.

— Ué? Me diga você, Louis — retruquei, fechando o livro com força e olhando para ele seriamente — Você anda por aí todo na sua pose de sensatez, esperteza e sabedoria, mas no final é decepcionante como todos, eu estou farto de tentar achar que existe uma saída pra mim desse terrível show de horrores. É, Louis, você me enganou direitinho, mas obrigado por ter estragado tudo, agora eu posso ser o escroto, insensível de novo! — dizia, me levantando e olhando para ele, em sua expressão assustada e pasma com todas as palavras que eu dizia sobre ele e, quando acabei, saí de lá notando que todos nos olhavam, ali era uma biblioteca e todos ouviram cada palavra que eu disse.

— Do que você está falando? — Louis perguntava, enquanto me alcançava e pegava em meu braç, me fazendo parar de frente para ele.

— Eu não sei, Louis, talvez de como eu sou incapaz de sentir alguma coisa por alguém, de como você não seria idiota de sentir algo por mim, que foram só umas transas, e nem foi pelo o que você disse, Louis, foi no tom que você disse, de desprezo, como se eu fosse um monstro, como se eu fosse totalmente descartável — respondia, enquanto ele me olhava confuso.

— Mas Harry, eu não... — Louis dizia,
tentando entender o meu desabafo.

— Louis, me escute, nada que sair da sua boca vai me fazer acreditar em você, eu estou enojado, eu não confio mais em você, eu irei te interpretar de outra maneira agora, então se poupe, não preciso mais do seu teatrinho — retruquei, sem nenhum pingo de pena de dizer cada palavra.

— Harry... Por favor me escute, por favor! — os olhos de Louis já se encontravam marejados e sua voz embargada.

— Não, chega, Louis, você foi infiel à todas as minhas expectativas, e quer saber? Eu não estou surpreso — disse, indo finalmente embora e o deixando com suas mentiras e culpa, eu derrubei minhas muralhas, e tudo que ele fez foi exatamente o que eu mais temia, ele me bombardeou, de forma mais suja e baixa, me fazendo acreditar que eu estava seguro quando estava com ele, nunca me despi assim para alguém, essa foi a primeira e única vez.


DON'T FALL IN LOVEOnde histórias criam vida. Descubra agora