2 anos depois
O galo cantava, já era dia. As coisas eram muito movimentadas na fazenda durante todo o dia, cada um era responsável por fazer algo específico, meu avô ia até as feiras para vender as verduras, frutas e grãos que conseguíamos produzir na fazenda, minha avó era responsável por todo o serviço doméstico, meu primo de consideração Wilfred, cinco anos mais velho que eu, era responsável pela plantação e colheita, coisa que ele fazia com maestria, já que praticamente tinha nascido na fazenda. Eu fiquei responsável por cuidar dos bichos e era a minha diversão favorita em dias de sol.
Wilfred era um rapaz esbelto graças ao serviço braçal e costumava ser cobiçado pelas vizinhas, que independentemente da idade investiam fortemente na paquera trazendo doces para agradá-lo. Algumas vezes ficavam horas assistindo-o trabalhar entre risadinhas e acenos tímidos de longe através da cerca. Algumas eram mais ousadas e se dependuravam na cerca para puxar assunto, assuntos que ele gentilmente aceitava falar. Apesar da movimentação paqueradora diária no ambiente, a vizinhança era muito silenciosa e pacata.
Me levantei e me vesti, passei pela cozinha onde encontrei minha avó preparando as verduras pro almoço, separava as folhas e frutas amassadas pros animais. Me aproximei dela e lhe dei um beijo no rosto com um abraço apertado, ela riu.
— Bom dia, baba! — disse agarrando-a por trás, distribuindo beijos no rosto.
— Bom dia, querida. Dormiu bem essa noite? — jogou uma grande quantidade de folhas na cesta de palha.
— Dormi sim. Que tal uma roda hoje? — disse instigando-a, cutucando seu braço com meu cotovelo.
— Seria ótimo! Vou pedir pro Fred pegar lenha e separar para fazer a fogueira. Em dias de primavera é bom passar um tempo lá fora diante da fogueira. — alegrou-se com a ideia. — Faça o favor de levar comida pros porcos, vá! — jogou mais uma grande quantidade de folhas na cesta que peguei em seguida.
— Já estou indo, mandona! — mostrei a língua e recebi uma "folhada" na cabeça.
Saí pela porta de madeira e esbarrei em Fred.
— Fred, seria pedir demais você separar um pouco de lenha pra fogueira de hoje?
— Bom dia, Zen. Sem problemas! — disse animado. — Inclusive tem algumas sobrando ali fora, se quiser são suas. — passou por mim sem camisa, desfilando os músculos definidos de um bom trabalhador do campo. Os braços que tiravam o fôlego da plateia animada que assistia de longe através da cerca com baba no canto da boca.
Fui até os porcos e distribui as folhas no comedouro despertando a atenção dos porcos mais velhos que correram pra cima dele enchendo a boca de folhas e frutas frescas. Verifiquei os cavalos e troquei a água deles, alimentei as galinhas e os patos. Ziav vinha atrás, toda pomposa roçando o rabo na minha perna e miando.
— Quer comida Ziav? — perguntei sem esperar uma resposta, Ziav miou alto. — Você não perde a oportunidade de conseguir um almoço fácil, né? — entreguei a ração de cereais pra ela que comeu na minha mão.
O dia seria assim, alimentando os animais, separando grãos e colhendo frutas pra torta de sobremesa. De tarde, depois do almoço a baba nos serviu um chá quente de maçã e umas frutas frescas. Eu não podia mais esperar a hora da fogueira! Depois de muito trabalho a hora tão desejada chegou, para nossa alegria do dia. Nos sentamos diante do amontoado de lenha partidas enquanto Fred nos trouxe mais um gole de chá, acendendo em seguida a fogueira com facilidade de um camponês nato.
Vovô não tinha chegado ainda, seríamos só nós três, como sempre. O sol estava se pondo e o dia escurecendo, a fogueira ficava cada vez mais alta e brilhante diante de nós. Baba tomou um gole de chá e começou a contar uma história que ouvia quando era muito pequena, ela dizia que sua avó era pagã e como tal, levava as lendas muito à sério. Todos os dias contava para ela e as irmãs a história dos seres da floresta. Histórias que as fazia tremer de medo, outras sonhar acordada. Cada noite era contada diante da lareira uma nova lenda, como ela estava fazendo conosco hoje e como fazia nesses dois anos, mas agora de forma mais moderna, dizia aos risos.
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BABA
Mystery / ThrillerApós o acidente que levou seus pais a morte, Zelenka vai morar na pequena e romântica Rybachy localizada na Lituânia com os avós em uma pacata fazenda gótica cercada por lendas do folclore eslavo. Com uma série de acontecimentos misteriosos em Rybac...