Capítulo 8 - Baba Yaga

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Já amanhecia, continuei andando para qualquer lado, sem saber as direções corretas. Eu precisava encontrar o casebre com pés de galinha o mais rápido possível para tentar comer alguma coisa. Um rugido alto e estrondoso ecoou, me abaixei tentando olhar de onde vinha. De repente uma enorme figura apareceu caminhando, os pés como cascos, na cabeça um longo e forte chifre na cabeça, a face coberta por um esqueleto de cervo e as mãos em galhos. Vestia um manto prego longo que cobria quase completamente os cascos e a corcunda coberta por musgo de onde brotavam os cogumelos coloridos. Olhei curiosa, a criatura parecia tranquila, o nariz quase encostando no chão, farejando alguma coisa. Era a criatura com quem sonhei dias atrás, à alguns passos de mim, era o Leshy, protetor da floresta dançante.

Saí de trás de uma árvore devagar, andando em direção a ele, que olhou para mim quando ouviu o barulho do galho se partindo embaixo dos meus pés, me encolhi com medo. A criatura bufou alto, balançando a cabeça de um lado para o outro e então ciscou o casco no chão. Dei alguns passos para trás com cuidado. O Leshy deu alguns passos, cambaleante, na minha direção, cada passo que ele dava nasciam inúmeros cogumelos nas pegadas.

Me aproximei devagar, me lembrando do que vovó havia dito sobre essa criatura "Não se pode irritar um Leshy, criaturas da floresta podem ser incrivelmente bons para nós ou terrivelmente maldosos!". Ele me olhou com curiosidade, não tinha olhos como os nossos, eram buracos fundos, e em seguida bufou baixo sentindo meu cheiro. Ele se aproximou devagar, tímido e temeroso, vendo a sua investida decidi imitá-lo e novamente a voz da vovó "Diz a lenda que eles podem ajudar as pessoas que se perdem na floresta a encontrar o caminho de volta". Era isso! Eu precisava passar confiança e quem sabe assim ele me levasse para casa.

Muito próximo de mim o Leshy se abaixou e estendeu a mão na minha direção, dela brotou um punhado de cogumelos, como os que tinha nas costas e que fazia brotar no chão. Assim que toquei a sua mão, alguns lobos surgiram ao redor, olhavam de longe e respiravam ofegante, a língua para fora. Ao contrário de Baba Yaga, o Leshy não costumava ter muito contato com pessoas, eles viviam dentro da floresta como animais selvagens, muito embora não fossem animais.

Com cuidado, tirei uma flecha e entreguei para ele, que deu um pulo e dois passos para trás, assustado. Mantive a mão no alto com a flecha e esperei que ele se aproximasse, assim o fez, cheirando minhas mãos e a flecha tosca. Virou a cabeça averiguando o que havia em baixo as mãos, levantando-as com as garras de gravetos e se afastou, tomando a única flecha oferecida rapidamente, temendo ser capturado. Sorri, então ele relaxou.

Ao contrário do que eu acreditava, ele não conseguia me entender. Poucos gestos e resmungos eram compreendidos, seja por mim ou por ele. A minha esperança de sair de lá com sua ajuda estava minando, dificilmente ele me ajudaria a encontrar a fazenda. Ouvimos alguém se aproximar, alguns passos e galhos quebrando, então ele correu para dentro da floresta e sumiu, deixando muitos cogumelos pelo chão, mas já haviam tanto que era impossível segui-lo.

Eu continuava caminhando para dentro da floresta, o dia ia amanhecendo, as corujas não piavam mais, os grilos terminavam suas serenatas da madrugada, as cigarras igualmente se calavam, a lua dava espaço para o brilhante sol, quente e acolhedor. A floresta sinistra e completamente escura agora se transformava em um lugar totalmente verde e cheio de aromas e cores.

Meus olhos estavam cansados, meu corpo inteiro doía seja pelos sustos, por não comer ou me hidratar o suficiente, seja por não ter conseguido dormir direito. Os dias tinham sido curtos, as noites longas demais, noites sem fim. Os pássaros cantavam no alto das árvores, voando de galho em galho, as lebres corriam para dentro dos arbustos e se escondiam. Meus olhos pareciam fechar as vezes e eu me sacudia para abri-los com muita dificuldade, mais alguns dias sem dormir e eu mal saberia diferenciar meus pesadelos da realidade.

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