Capítulo 7 - Casa com Pés de Galinha

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Tudo havia desaparecido diante dos meus olhos, a escuridão tomou conta. As velas estavam apagadas, a fumaça serpenteava no ar, as gaiolas agora estavam todas vazias, não conseguia ouvir as crianças, não havia um ruído. Pisquei, tentando encontrar alguma forma no breu que fosse reconhecível, meus olhos se adaptavam à escuridão total. Andei devagar, tateando tudo o que eu encontrava pelo caminho, mas não encontrei nada que me fosse familiar.

— Droga! — reclamei, topando de cara com a parede de madeira.

Eu estava dentro da barriga da coisa, eu tinha sido engolida pela grande boca, mas sua barriga era como um portal, que me transportou para uma outra realidade. Eu estava no mesmo lugar. Era como um pesadelo.

De repente ouvi a voz da vovó Svetlana chamando meu nome, a voz dizia "Venha, Zelenka", e estava cada vez mais baixa e mais distante. Me virei, tentando encontrar o ponto onde de onde a voz saía, tateei ao meu redor, ouvindo meus passos pesarem na madeira velha e ranger. A voz novamente soou tranquilamente pelo ar "Zelenka...", repetindo meu nome mais algumas vezes, cada vez mais irritada e diferente da voz da vovó até se tornar uma voz firme e rouca de gralha, soltando uma risada fina, alta e estridente.

Estremeci, com medo. Continuei procurando no escuro alguma coisa familiar, tateando todos os objetos que encontrava pela frente até que tropecei em algo que estava no chão e cai, gemi. Imediatamente as luzes das velas acenderam, deixando o lugar completamente claro e reconhecível novamente. Protegi meus olhos assim que a intensidade da luz chegou aos meus olhos, me adaptando à repentina claridade.

As crianças não estavam mais lá, aquela coisa as havia levado! Corri até as grades, uma por uma, buscando algum rostinho conhecido, não encontrei sequer um fio de seus cabelos. Desci correndo as escadas do sótão e na cozinha tudo estava perfeitamente normal, o fogo crepitando na lareira de pedras. Corri até a porta, aflita, averiguando o lado de fora completamente escuro, quase caí, as pernas enormes de galinha estavam lá completamente eretas e espreguiçadas, só pude ouvir o barulho dos grilos e do vendo bater nas folhas secas das árvores, cuja copa estava agora à menos de um centímetro dos meus olhos. Me segurei rapidamente ao batente da porta, a altura me deu vertigens, me afastei entrando novamente na casa e esgueirando pelos móveis, atônita.

O dia já amanhecia quando a casa estremeceu, permaneci acordada durante toda a noite, quase desmaiando de sono, apoiava o rosto nas mãos, em cima da mesa, tentando me concentrar e não fechar os olhos. De repente a casa começa a descer rápido até o solo, como uma grande caixa que caía do céu, caí da cadeira e me segurei com força no chão para não voar até o teto, sentia meu corpo subir junto com todos os móveis enquanto todo o resto era puxado pra baixo.

— Wow! — gritei alto, tentando me segurar em qualquer coisa imóvel. — Droga! Droga! Droga! — disse aos berros, vendo todas as coisas balançarem, irem de um lado para o outro e subir até o teto com violência.

Em um movimento brusco, fazendo voar terra para todos os lados a casa sentou-se no solo. Tudo parou de se mover no mesmo instante, todas as coisas ainda permaneciam no mesmo lugar de sempre, pareciam ter uma espécie de imã que as colocava automaticamente no lugar depois de subidas e descidas bruscas. Me levantei correndo, indo de janela em janela, estávamos novamente em terra firme, soltei o ar dos pulmões aliviada. Algo dentro de mim gritava euforicamente, louca para sair pela mata e nunca mais ver aquela casa esquisita novamente.

Corri até a porta, abrindo-a com violência. Olhei ao redor e não pude acreditar que estava novamente lá embaixo. Corri, colocando minhas botas na terra preta barrosa, vasculhada e cheia de musgo. Sapateei, gritando de alegria, girando ao redor de mim mesma com os braços abertos. Parei de repente, lembrava das crianças que haviam sido levadas. A preocupação tomou conta de mim novamente, eu precisava encontrá-las, mas não fazia ideia de como achá-las! Se tinham sido levadas da casa poderiam estar em qualquer outro lugar no meio da floresta.

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