Capítulo 5 - A Floresta Dançante

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Tive outro sonho na noite seguinte, eu estava diante das muitas árvores que cobriam um caminho mal feito pela floresta, em pé, olhando-a sem piscar os olhos, até que as árvores esticaram para cima diante de mim, o barulho de galhos quebrando e folhas ainda verdes caindo no chão fizeram-me acordar assustada.

Olhei ao redor no quarto escuro procurando algum feixe de luz para reconhecer algum objeto inanimado dentro do quarto. No canto da parede surgiu uma sombra que, assim como as árvores, cresceu até o teto, suas mãos de galhos se aproximavam da minha cama devagar e novamente o barulho estrondoso de galhos quebrando e folhas se descolando deles podia ser ouvido, abafando o som dos grilos e cigarras em sua serenata do lado de fora. A sombra expandiu e eu gritei, tão alto que em minutos vovó estava diante de mim em um pulo, com a vela acesa nas mãos trêmulas.

— O que foi querida? — falou finalmente, analisando meu rosto. — Mais um pesadelo?

— T-tem a-alguém n-no q-quarto! — apontei para o canto da parede, onde já não havia sinal das grandes mãos de galhos.

Vovó aproximou-se da parede, tocando-a com as mãos quentes. Analisou-a por alguns minutos e voltou a olhar para mim.

— Não há nada aqui minha querida. — seu olhar tinha um ar de preocupação.

— E-eu vi! — disse trêmula. — E-era uma sombra e-enorme! Eu...

— Venha, vamos mudá-la de quarto com seu primo Fred!

Levantei devagar, olhando novamente para a parede. Saímos e fomos até o quarto ao lado, onde Fred dormia. Vovó deu duas batidinhas na porta, esperando despertá-lo. Ele estava com a porta entreaberta, jogado no colchão surrado, babando e roncando. Ao ouvir e sentir nossa aproximação cautelosa, abriu os olhos e enxugou o canto da boca com as costas da mão, olhando-nos com os olhos semicerrados, tentando entender a situação inusitada.

— Fred, querido, troque de quarto com sua prima. — disse sem rodeios. — Acredito que aquele quarto não é mais seguro para ela nesse momento.

Fred assentiu, levantou-se e vestiu a camisa velha que encontrou jogada na poltrona e se dirigiu, ainda sonolento, ao seu novo quarto. Vovó trocou as roupas de cama por roupas limpas e me ajudou a deitar, cobrindo minhas pernas, apoiou o copo com a vela na cabeceira ao meu lado.

— Não se preocupe, Zelenka, vamos protegê-la. — disse com os olhos baixos.

— Vão me proteger de quem? — disse firme. — Ou, do que?

— Posso estar errada quanto a quem... — tentava racionar de forma lógica. — Ou o que está te tirando o sono, querida, mas estou certa de que podemos despistá-la de alguma forma. — falava devagar. — Acredito que ficaria mais segura com seu tio Klaus, na Alemanha...

— Vovó, não quero ir para a Alemanha! — disse em fúria. — Meu lugar é aqui!

— Você ficará mais segura lá... Vou falar com ele de manhã e tentamos te enviar para lá no primeiro trem disponível. — lamentou. — Pelo menos até que os casos sejam solucionados. — levantou-se e saiu. — Boa noite.

Fiquei sem reação, sentada na cama sem conseguir mexer um músculo sequer. Eu não podia ir embora, não agora! Eu precisava ajudar a encontrar as crianças. Não conhecia o tio Klaus, não queria ir para a Alemanha! Precisava encontrar uma solução, e rápido.

Na manhã seguinte pulei da cama e me vesti, corri para a cozinha procurando a cesta cheia de folhas e frutas. Vovó preparava uma torta de maçãs. Olhei ao redor e não vi vovô tomando seu chá, Fred também não estava. Onde estavam todos?

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