PRÓLOGO

2.9K 264 58
                                    

Bom diaaaaa! Cá estou com Javier, meu espanhol lindo e fodido para apresentá-lo à vocês! Espero do fundo do meu coração que gostem dele, porque esse garoto merece todo o amor do mundo! 


Pequena Ariel está a venda na Amazon e hoje tem sorteio do físico no meu IG, portando, segue lá,  @autoraflocks e participe! 


Amo vocês! 


QUAIS DIAS ACHAM MELHOR PARA POSTAGENS? 


Comentemmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm <3 

PRÓLOGO

Brasil.

2019

Quanto você é capaz de suportar até que não suporte mais? Eu me perguntava aquilo todos os dias desde que vi enterrarem meu pai aos cinco anos de idade. Depois quando minha mãe casou novamente e depois quando eu me vi atolado na maior merda da minha vida. A única coisa boa entre o momento em que eu perdi a pessoa que mais amava e a tragédia que marcará minha vida para sempre, foi a morte do cara que me arruinou a vida, antes de eu arruiná-la de vez.

Sei que não é saudável comemorar mortes, e sim aniversários, mas é que aquele filho da puta de merda morreu exatamente no dia em que ela completava xx anos, então todo ano aquela data significava algo para mim, por muitos motivos, meu divisor de águas. Eu só não fazia ideia que Miguel era o menor dos meus problemas e que eu ficaria sufocado por tanto tempo poucos anos depois de me sentir tão livre.

O vento forte de julho soprando sobre meu corpo molhado pela chuva me causando tremores era a única coisa que me fazia acreditar que eu não estava morto. Não que eu não estivesse, porque em partes era exatamente como eu me sentia, como se meu sangue tivesse parado de correr dentro das minhas veias e meu coração parado de bombear. Eu não estava morto, mas àquela altura gostaria que estivesse.

Eu fechei meus olhos, caminhando pela beira da rua lamacenta que parecia não ter fim, usando as mesmas roupas de seis anos atrás e que pareciam antiquadas se comparadas às roupas das pessoas em que topei até aquele momento e muito mais justas no meu corpo do que quando as comprei.

Eu abri os olhos e encarei outro farol que chegava cada vez mais perto, o carro passando por mim tão rápido que uma rajada de vento acertou minha pele exposta, fazendo meu queixo bater em resposta ao frio maçante. Eu enfiei as mãos nos bolsos da frente da minha calça e toquei um maço de cigarro e um isqueiro velho com as pontas congeladas dos meus dedos, então os tirei para fora, fazendo uma concha com uma das minhas mãos, tentando proteger o fogo da chuva, então puxei com força, prendendo em meus pulmões, a fumaça cancerígena que me causava conforto e me fazia respirar com mais facilidade, controlando minha ansiedade, fazendo com que minha mente se concentrasse naquele objeto em minhas mãos e nos movimentos repetitivos que eu precisava fazer.

Toda a minha pele exposta ao frio queimava em protesto, ardendo, abrasando, incinerando, me lembrando, enquanto eu puxava outro trago, trancando a respiração por um longo tempo, antes de olhar para o céu escuro e castigador, perguntando se de fato existia um Deus lá, através dele, porque se realmente existia, por que é que ele não me enxergava?

O que é que eu havia feito a ele? E foda-se se parece clichê ou dramático demais, mas certamente eu não havia pedido a minha mãe para que abrisse suas pernas e me colocasse nessa porra de mundo, então por que eu era um maldito desgraçado? Por que eu conseguia destruir qualquer coisa que eu tocasse, mesmo que lutasse para fazer a coisa certa?

Não fazia ideia quanto tempo eu levaria para chegar, apenas sabia para que lado eu deveria ir. "Siga a direita" foi o que o homem disse para mim, então eu segui, não porque eu confiava em alguém, porque eu sequer confiava em mim, mas sim porque ele era minha única opção. E eu segui, segui a direita, mas não fazia ideia de quanto tempo havia se passado. Talvez quatro horas. Andar era libertador, porém cansativo. Meu corpo não estava acostumado, havia se limitado a muito pouco nos últimos anos, correr de um lado para o outro era muito diferente do que andar por horas seguintes sem saber onde chegaria, sem saber sequer se chegaria.

Eu não tinha um maldito real no bolso e meu único celular estava sem bateria há tanto tempo que eu não fazia ideia se ligaria um dia de novo. Eu coloquei a mão no bolso novamente, enquanto puxava mais uma vez o ar, sentindo meus pulmões enxerem, então soltei a fumaça para cima, encarando o céu tempestuoso novamente, entes de olhar para a tela do meu celular velho. Fazia tanto tempo que eu não o via que parte da minha consciência acreditava que tudo o que havia vivido havia passado de um sonho.

Pesadelo.

Eu apertei mais uma vez o botão, na expectativa de que a luz da tela se iluminasse, mesmo que eu tivesse certeza que não o faria e que mesmo que fizesse, minha linha havia sido cancelada há muito tempo. Seis anos. Seis malditos anos, Javier. Mesmo assim, parte de mim tinha esperança, e ter esperança para um homem como eu, era ridículo, porque isso significava que todas as merdas que derrubaram você, não foram o suficiente para não deixá-lo levantar. E eu não queria mais levantar. Eu estava cansado de tentar.

Um relâmpago rasgou o céu escuro e o topo dos pinheiros ao meu lado se iluminaram, no mesmo segundo em que eu jogava a minha bituca no chão e a voz de Milena atravessou os meus ouvidos como se ela tivesse ao meu lado, me policiando por foder com o meio ambiente, como se eu me preocupasse com toda aquela merda de aquecimento global ou o que caralho estivesse acontecendo com a porra do nosso planeta porque eu não estarei mais aqui para ver e provavelmente nenhuma parte de mim.

Eu fechei os olhos ao mesmo tempo em que dava meus passos pesados e arrastados, tentando buscar em minha memória o som de sua voz, a entonação que usava para me policiar, mas foi tão rápido e lacônico que não deixou que meu cérebro registrasse e fazia tanto tempo que eu não a ouvia que eu me sentia morto. Eu me sentia morto por ela. Por Gus. Me sentia morto por nós, pelo o que aconteceu, por tudo o que eu disse e muito mais pelo que guardei para mim.

Eu me sentia morto.

Sem ela.

Seis anos sem ela.

Morto.

E não fazia ideia de quanto tempo mais eu precisaria andar até que eu chegasse no lugar onde não seria bem-vindo, mas que era o único que eu tinha para ir, sabendo que ninguém esperaria por mim, porque eu era tão fodido quanto a minha história.

Pesadelo.

JAVIER/  AmazonOnde histórias criam vida. Descubra agora