O que estão achando do meu menino espanhol?
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Capítulo 2
Milena.
2002
7 anos / Antes de abril.
Eu me sentei na cadeira e cruzei os braços sobre a minha mesa limpa, ainda sem nenhum desenho a lápis, me perguntando quanto tempo ela ficaria daquela forma até o primeiro idiota rabiscá-la. Talvez uma semana, ou quem sabe uma hora? O sinal bateu, então tirei meu caderno cor de rosa e o coloquei sobre a mesa. Eu odiava rosa. Nunca gostei de cores vibrantes e chamativas, mas minha mãe insistia em me vestir como uma boneca, embora eu sempre reclamasse.
Eu estava ansiosa para o meu segundo ano na escola, queria que tudo acontecesse logo, queria conhecer a professora e rever o professor Gian de espanhol que nos deu aula no ano anterior. Eu procurei um lápis e o segurei entre os dedos, enquanto uma mulher atravessava a sala em direção a mesa da professora. Então ela olhou em volta, suas mãos da cintura, um sorriso nos lábios. Ela era linda, negra, os cabelos cheios e volumosos, sustentando uma pequena flor amarela na lateral. Ela olhou para mim e piscou, então sorri para ela, ao mesmo tempo em que batia palmas tentando acalmar a turma.
Ela se apresentou para a turma, seu nome era Jessy e em poucos minutos todos os alunos estavam agitados lhe enchendo com um milhão de perguntas. Jessy perguntou a todos o que queriam ser quando crescessem, eu respondi que não sabia. Eu não fazia ideia. O que ser quando crescer? Uma dona de casa como minha mãe ou administrar uma fábrica como o meu pai? Ou ser algo diferente? Não consigo imaginar meu pai aceitando na verdade, porque desde que aprendi a estender as palavras, eu o escuto dizendo que eu farei administração, embora eu não fizesse a mínima ideia do que aquilo significava.
No meio da manhã, alguém bateu na porta da nossa sala e ela entreabriu em seguida, então a professora foi até ela, conduzindo um garoto pelos ombros, enquanto conversava com uma mulher. Seus cabelos mal cortados e a forma como ele encarava seus pés impossibilitavam que eu visse seus olhos. O menino usava uma calça jeans velha com um pequeno furo no joelho direito e uma camiseta preta desbotada. Ele segurava a alça da mochila com força entre os dedos, enquanto se mantinha imóvel, quase como se não estivesse respirando. A professora disse algo para a mulher na porta antes dela sair, então se virou para nós e disse:
— Este é Javier.
Javier. Um nome lindo. Não me lembrava de já ter ouvido aquele nome algum dia. Era diferente, ele era diferente. Ele ergueu a cabeça, encarando com atenção cada aluno, seus olhos rolaram por toda a sala. Eram xxx. Era engraçado como ele podia ser tão contraditório, porque ao mesmo tempo em que eu pensava que ele estava morrendo de vergonha, parecia que ele era o rei da escola, só pela forma como ele encarava os alunos. Como olhava com atenção, cada um deles, como ele me olhou. Javier fixou os olhos em mim por dois segundos, então baixou a cabeça novamente, encarando seus tênis velhos, enquanto eu ouvia alguns comentários maldosos atrás de mim. Alguém comentou sobre sua roupa e um garoto a minha esquerda sobre ele parecer um mendigo. Ele eram idiotas, senti vontade de enfiar meu caderno cor de rosa na cara deles, mas certamente eu não faria aquilo, então me limitei a encará-los, forçando uma careta, fazendo com que eles rissem ainda mais.
— Javier veio da Espanha, não domina o português, então terá aulas de reforço na parte da tarde. Eu gostaria que vocês fossem acolhedores e o ajudassem a se comunicar.
Ele mantinha a cabeça baixa e eu me perguntei o quanto ele entendia. Será que havia compreendido o que Jessy havia dito? Talvez não, não, sem dúvidas não, porque ele não esboçava nenhuma reação enquanto ela falava. Mas, de qualquer forma, as risadas indesejadas não precisavam ser traduzidas, porque era nítido que eram para ele e me fazia querer gritar com todos eles.
— Se eu ouvir mais uma risada, vou levar com prazer para passar o resto da manhã ao lado da diretora. — ela disse, fazendo com que os alunos parassem de cochichar imediatamente. — Preciso de um aluno que se disponha a sentar todos os dias com Javier para ajudá-lo. Quem pode fazer isso? — ela perguntou e antes que eu pudesse pensar, minha mão estava levantada, então Jessy sorriu para mim, ao mesmo tempo em que Javier erguia a cabeça para me encarar novamente e um pequeno sorriso, muito pequeno, estampou seu rosto enquanto ele me encarava agradecido.
— Hola. — eu o cumprimentei após a professora juntar nossas mesas em um canto onde segundo ela, seria somente nosso, onde nós sentaríamos em todas as aulas.
— Hola. — Javier respondeu, retirando um caderno e um lápis de sua mochila. Então aproveitei para olhar para ele com mais atenção, seus cabelos eram realmente escuros e o topo caía para frente, alcançando a curvatura do seu nariz. De longe seus olhos pareciam quase negros, mas olhando de perto, com o sol entrando pela janela, eu podia jurar que havia traços de verde neles. Eram lindos na verdade, e não possuíam uma cor específica, porque não eram negros, castanhos nem verdes e sim uma mistura de todas elas que formavam uma única cor. Uma cor linda. A cor dos olhos de Javier.

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JAVIER/ Amazon
RomantikaQuando Javier, o menino novo da turma, entrou pela porta, Milena se viu encantada pelo garoto extraordinário, envergonhado, perdido e falando outro idioma. Em um par de dias, os dois se tornaram melhores amigos e conforme cresciam, o sentimento o fa...