7
2009
Javier
Milena fazendo 15
Javier 15 em dois meses
Dia da festa
Eu me lembro de um dos dias mais humilhantes da minha vida como se fosse ontem; eu tinha nove anos, Milena usava um casaco grosso, havia um gorro nele e mesmo assim ela ainda usava uma touca azul com um pompom no topo. Seus cabelos estavam soltos por baixo do tecido. Fazia frio, muito frio. Meu corpo tremia, cada parte dele estava gelado, meus dentes batiam, mesmo que eu tentasse disfarçar, porque eu não tinha roupa que me esquentasse o suficiente, então a professora me levou ao achados e perdidos do colégio e me deu dois moletons que algum aluno algum dia havia perdido.
Me lembro de ficar pensando sobre aquilo por um longo tempo, no fato de um garoto perder uma peça de roupa importante e sequer se importar em procurá-la, como se não fizesse diferença. Um leque de opções sobre o que vestir antes de sair para a escola. Talvez cinco ou seis casacos para escolher. Talvez um a mais ou a menos não fizesse nenhuma diferença ou não fosse importante o suficiente para que perdessem cinco minutos dos seus tempos procurando por ele.
Não foi humilhante para mim entrar na sala e ter metade dela rindo do fato de eu estar vestindo algo que ficava grande em mim, mas do olhar que Milena me lançou quando me sentei na cadeira ao seu lado. Me lembro de ficarmos em silêncio pelo resto da aula, porque eu não era capaz de olhar em sua direção, principalmente porque a ouvi fungar e eu tinha certeza que ela estava chorando por mim.
Então eu me sentia daquela forma novamente, não por não ter o que vestir em seu aniversário de quinze anos, mas pelo olhar que ela direcionaria para mim assim que me visse atravessar o salão de festas. Eu gostava de como ela me olhava, de como se importava comigo, e tudo isso não era sobre o que ela pensava das minhas roupas e sim sobre o que ela sabia que eu pensava sobre elas. Ela me conhecia melhor do que ninguém.
Eu não queria e nem gostava de fazer parte daquilo, só de pensar em estar em uma festa com centenas de pessoas ricas e bem vestidas que me julgariam e me olhariam torto ao me ver, já me fazia querer desistir, mas eu não o faria, por ela, porque sabia o quanto era importante para Milena que eu fosse, que estivesse lá, porque ela também odiava aquilo. Eu me joguei na cama, derrotado, sabia que não tinha como mudar de ideia, era tarde demais, ela havia me feito jurar. Eu precisava ir.
Um estouro alto vindo da cozinha me chamou atenção, em seguida ouvi Miguel praguejar, então soube que era só mais uma manhã igual as outras, portanto, eu esperaria no meu quarto por um bom tempo até que eles não estivessem mais lá e eu pudesse tomar um gole de café em paz. Minha mãe gritou com ele e em seguida um barulho de algo quebrando ecoou através do cômodo. Talvez fosse nosso último copo de vidro. Ótimo, para que servem os copos senão para arremessá-los durante uma briga?
O último ano havia tornado a nossa convivência insuportável, de modo que eu sequer saía do meu quarto se não fosse para ir comer algo ou ao banheiro, porque tudo era motivo para uma discussão, para brigas, e então ele caia para cima dela ou de mim de novo, e de novo, um maldito círculo vicioso. Além é claro, da quantidade de drogas que eu encontrava sobre a mesa de centro. As fileiras de cocaína, as buchas de pedra, as latas que ele usava para se drogar. Uma fila infinita delas. E está aí o motivo no qual eu não tinha a porra de uma roupa descente, porque minha mãe estava ocupada o suficiente se drogando. Ah, que ótimo, agora vamos falar um pouco dela e de como ela havia chegado naquela situação de merda? Pois bem, Alma sequer me olhava nos olhos, estava pouco se fodendo enquanto Miguel enfiava a mão na minha cara e me chamava de lixo e me fazia limpar sua sujeira.

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JAVIER/ Amazon
RomanceQuando Javier, o menino novo da turma, entrou pela porta, Milena se viu encantada pelo garoto extraordinário, envergonhado, perdido e falando outro idioma. Em um par de dias, os dois se tornaram melhores amigos e conforme cresciam, o sentimento o fa...