JAVIER 11 PARTE 2

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Oi, cariños, saudades do Javi? 

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JAVIER

19 ANOS/ JULHO;

A dor é boa, ela me faz sentir vivo, mesmo que parte minha estivesse morrendo; eu diria que era a parte onde eu guardava esperança, porque a cada novo dia, tudo se tornava mais difícil e eu sequer sabia pelo o que esperar. E, mesmo que eu tivesse largado toda a merda na qual havia me envolvido assim que Milena e eu ficamos juntos em dezembro, nada entre a gente havia se tornado mais fácil por isso, porque depois que você se acostuma a ter dinheiro, é difícil se acostumar a não tê-lo mais. Nós brigávamos por esse motivo, porque eu ficava puto e me sentia um otário por estar duro, principalmente quando minha mãe usava as economias para comprar drogas.

Havia sido fácil para mim dizer que não queria mais, que não podia mais vender drogas, porque eu vendia para Gus, então, apesar dele ter ficado puto por eu dar para trás, ele no fundo compreendia. O problema era que, para ele, nada aconteceria tão simples assim, porque ele pegava o bagulho com pessoas grandes, metidas tão fundo naquilo que você acaba se perdendo, então, ele não só não saía, como também tinha que continuar pegando a mesma quantidade que pegava por nós dois para que ninguém desconfiasse de nada. Mas Gus já havia conseguido colocar outro no meu lugar, ele gostava do que fazia e mesmo que eu passasse boa parte do meu tempo insistindo para ele parar com o que fazia, eu sequer conseguia imagina-lo fazendo outra coisa porque o filho da puta tinha jeito com o negócio.

A agulha foi substituída por um papel toalha com água para refrescar minha pele judiada antes dela tornar a rasgar toda a extensão do meu braço esquerdo, então eu levei o baseado até minha boca e traguei a fumaça até que meus pulmões queimassem, me obrigando a tossir. Precisava que o efeito calmante da maconha fizesse efeito logo antes que meus neurônios explodissem dentro da minha cabeça, porque Milena estava me enlouquecendo. Gus estava me enlouquecendo. Minha mãe estava me enlouquecendo. Eu estava enlouquecendo.

Mesmo que Milena repetisse um milhão de vezes para mim que não fazia diferença, que ela não queria nada, que ela podia pagar ou o caralho que seja, eu odiava que não podia dar as coisas para ela porque era apenas um lembrete de que ela não tinha um futuro ao meu lado. Eu estava certo, sempre estive, mas eu apenas não conseguia ficar longe dela. Eu havia tentado, e acreditem, doeria menos se alguém arrancasse todos os meus ossos pela minha bunda.

E o fato dos seus pais a trancarem naquela casa como se fosse uma princesa em perigo, apenas dificultava as coisas, porque eu mal conseguia encontrar com ela e se não fosse eu me foder para entrar em sua casa no meio da noite, nosso relacionamento se limitaria a ligações noturnas.

E lá estava eu, no dia do meu aniversário, sentado no estúdio de tatuagens do André, tio do Matheo, tentando prestar atenção nas técnicas que ele me explicava a mais de três horas e que eu já estava cansado de saber, porque estava indo todos os dias nos últimos meses ao estúdio aprender a tatuar e aquilo era a única coisa no mundo que me fazia sentir no caminho certo, como se eu tivesse nascido para aquilo, apesar de àquela altura, estar parecendo um gibi.

— Você não está aqui. — André me encarou, largando a máquina sobre a mesa envolta a um plástico que a mantinha higienizada.

Siento. — eu me ajeitei na cadeira e ele alcançou o baseado, levando-o até a boca, fechando os olhos por um momento.

— Sabe... eu costumava ser como você.

— Bonito? — ele soltou uma nuvem de fumaça ao deixar escapar uma risada.

— Também. — ele se endireitou na cadeira.

— Está assumindo que sou bonito? — ele grunhiu. — Pensei que preferia cabelos loiros.

JAVIER/  AmazonOnde histórias criam vida. Descubra agora