Quem quer segurar Javier no colo e não soltar mais?
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Capítulo 4
Milena
2004/ 30 de abril. Aniversário Milena.
10 anos.
Sexta-feira.
Penteei meus cabelos e calcei meu All Star branco, então alcancei a alça da minha mochila e saí do quarto correndo, atrasada, como sempre. Eu desci as escadas em direção a cozinha, então peguei uma maça na fruteira e me curvei sobre a mesa, alcançando minha xícara de café, bebendo alguns goles depressa, evitando o olhar da minha mãe, enquanto meu pai sequer havia erguido a cabeça detrás do jornal.
Uma manhã normal.
— Feliz aniversário, Milena. — ele disse, olhado sobre o jornal.
— Obrigada, pai. — ele mudou de página, voltando sua atenção para qualquer coisa que estivesse lendo.
— Feliz aniversário, filha. — minha mãe me puxou para um abraço, fazendo minha mochila cair desajeitadamente sobre o tapete abaixo da mesa.
— Oh, obrigada, mãe. — respondi, um pouco nervosa. Minha mãe me abraçava poucas vezes na vida, geralmente em datas especiais. Natal, páscoa, aniversários, dia das mães – que na verdade era eu quem abraçava.
— Não entendo porque é que teimou em usar a mesma mochila do ano passado. — ela revirou os olhos, colocando uma mecha do cabelo escovado – sim, as sete e meia da manhã –, para atrás da orelha.
— Não preciso que gastem dinheiro com uma mochila nova se a minha ainda está boa, e além do mais, eu gosto dessa.
— Podemos comprar uma igual. — ela insistiu.
— Não faz sentido, mãe. — eu juntei minha mochila pela alça e a coloquei nos ombros. Não queria dizer a ela que sim, eu certamente gostaria de uma mochila diferente, mas que depois que conheci Javier, eu havia percebido que não precisava, porque existia um milhão de coisas mais importantes do que seus colegas repararem que você pode comprar uma nova todos os anos.
— Você vai com esse tênis no dia do seu aniversário?
— Meus pés e eu continuamos os mesmos no meu aniversário, mãe.
— Eu sei, querida, mas você deveria se arrumar mais. Por que não amarra os cabelos?
— O que há de errado com meus cabelos?
Minha mãe era uma pessoa boa, mas me irritava a forma na qual ela me tratava, como se eu fosse uma boneca na qual ela gostasse de vestir. Gustavo, meu irmão mais velho, foi "uma tentativa de menina", ou pelo menos é assim que minha mãe se refere a ele quando perguntam se ela queria engravidar. Sim, ela até queria, mas não imaginou que viria um menino, por isso, quando ele tinha dois meses e alguns dias, ela estava gravida novamente.
— Não há nada de errado, maninha. — Gus chegou por trás de mim e colocou o braço sobre o meu pescoço, como se tivesse me dando um golpe mata leão, então me puxou para trás, fazendo minha maça rolar pelo chão. — Feliz aniversário. — ele disse quando estávamos no chão, enquanto eu tentava sair do seu aperto.
— Você é ridículo! — eu gritei, fazendo-o gargalhar ainda mais.
Eu amava meu irmão. Amava a forma como ele me tratava, como ele me enxergava naquela casa, como ele era o único que me via de verdade. Que assistia a filmes comigo. Que me abraçava constantemente e que graças a Deus existia, porque tudo era mais fácil de suportar ao lado dele.

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JAVIER/ Amazon
RomanceQuando Javier, o menino novo da turma, entrou pela porta, Milena se viu encantada pelo garoto extraordinário, envergonhado, perdido e falando outro idioma. Em um par de dias, os dois se tornaram melhores amigos e conforme cresciam, o sentimento o fa...