/foto: Mãe migrante, Nipomo, 1936 - Dorothea Lange/
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A noite se aproximava, e com ela, ainda mais preocupação. Essa situação, esse medo, haviam se tornado uma constante desde aquela sexta-feira, que tornara seus dias nublados e até chuvosos. Passaram-se sete anos desde então, mas o futuro não parecia promissor.
No entanto, Mary não era a única que se encontrava em tal situação. Caminhava pelas ruas, acompanhada de seus dois filhos mais velhos, enquanto carregava a bebê no colo, sem rumo certo. Suas pernas, agora finas, fraquejavam um pouco mais a cada passo, e, a cada esquina, encontrava outros como ela: numa busca dura e constante pela sobrevivência.
Enfim encontraram um lugar para se acomodarem. Claro, não era muito, mas ao menos era coberto. Mary estava cansada, e não apenas fisicamente. Seu estômago gritava depois de ter dado aos filhos as poucas migalhas que conseguiram no caminho. Suas mãos, esqueléticas e agora enrugadas, não deveriam lhe pertencer. Seus ombros permaneciam sempre curvados, como se carregassem o peso do mundo mas costas. Seus olhos tornaram-se fundos, e também, tristes. Tristes porque perderam tudo. Tudo o que mais lhe importava. Seu marido os havia deixado, não suportara a dor: a lembrança do sonho americano era esmagadora. Agora, Mary estava só.
A noite chegara por completo. Passava as mãos pelos cabelos de seus filhos, que, assim como os dela, não eram lavados há tempos. Escorriam-lhe dos olhos lágrimas quentes. Estas, não expressavam apenas tristeza ou dor, representavam tudo que a vida lhe havia tirado, tudo o que nos torna humanos, que, se tomado, nada sobra. Mary já não tinha esperança. Não tinha nada.
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((esse texto foi escrito pra uma proposta de redação, com a ideia de criar uma personagem baseada na foto. os acontecimentos foram baseados no período da Crise de 29/Quebra da Bolsa de Nova Iorque, em que houve muita migração, a miséria aumentou e os casos de suicídio cresceram muito, por várias pessoas terem perdido tudo o que tinham da noite pro dia))
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Alguns contos e crônicas (ou tentativas de escrevê-los)
RandomÉ exatamente o que diz o título, não tem muito segredo... Sou só eu tentando fazer algo com essa minha mania de ver palavras em tudo. //Atualizações semanais//