hat-trick (s.m.)
1. quando um mesmo jogador marca três gols em uma única partida.
2. oportunidade para pedir música no Fantástico.
3. contos sobre os jogadores que amamos.
- O que você está fazendo aqui? Sabe que não deveria estar aqui. As pessoas podem te ver. – Agnès deu um pulo ao perceber a entrada do camisa 4 merengue em seu trailer.
- Ninguém me viu, fique calma. Eu vim te ver. Estava louco de saudades suas.
A mulher suspirou e se rendeu aos braços tatuados do jogador. Era sempre assim, no fim das contas: Agnès resistia, resistia e resistia. Mas quando Sergio Ramos a olhava no fundo dos olhos e sorria discreto, como ele fazia naquele exato momento, em sua frente, ela simplesmente esquecia a palavra "não". No fundo do seu coração, podia ouvir sua mãe dizendo o quanto aquilo era errado e o quando não era aquilo que ela gostaria para sua filha.
Um relacionamento com alguém fora da cultura cigana jamais seria bem aceito pela tradicional família dela. Há anos eles vinham mantendo o costume de se casarem apenas dentro das comunidades onde viveram, juntando famílias e criando novas. Ninguém, em cerca de 50 ou 60 anos fugira à regra.
E por mais que Agnès amasse Sergio com toda a força em seu coração, ela não podia deixar a tradição pra trás. Não poderia mudar seu destino.
Não podia reescrever as estrelas para que eles ficassem juntos.
Ela já tinha conferido as previsões de seu futuro nas cartas. Não tinha o hábito de conferir sobre sua própria vida fazendo uso de elementos da sua cultura. Preferia fazê-lo para terceiros, normalmente pessoas que não seguiam o ciganismo. Gostava de ver os sorrisos admirados e os olhares espantados quando os fazia escolher as cartas, e ditava a eles o futuro. O jovem casal em breve teria um filho, a jovem estudante seria aprovada na universidade de sua escolha, o empresário fecharia negócio com a empresa que desejava no momento. Ela sabia que as cartas não eram 100% certeiras, mas sabia de uma coisa:
As suas cartas e as de Sergio Ramos não estavam na mesma sintonia.
Se lembrava com cuidado e carinho da primeira vez que vira Sergio em toda a sua vida. De quando lera as cartas a ele. A primeira vez que seu olhar se cruzou com o dele. A primeira vez que seus caminhos se cruzaram, quando as estrelas finalmente pareciam se alinhar para os dois.
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Um grande grupo de comunidades ciganas chegara a Madrid há poucas semanas, e no tempo em que ali estiveram, organizaram uma feira, como costumavam fazer em todas as cidades por onde passavam. Moscou, Lisboa, Roma, todos esses lugares receberam visitas do povo cigano. E em todas essas cidades, milhares de pessoas se aglomeravam na rua onde clarividentes se reuniam para ler mãos, o globo da vida ou as cartas.
E era a função de Agnès ler as cartas.
E ela lera milhões de combinações de cartas naquele dia, mas nenhuma parecia tão incrível quanto àquela em sua frente.
Explosivo. Tranquilo. Esforçado.
Algumas das palavras que normalmente eram usadas para definir Sergio Ramos estavam ali, escritas nas cartas e nas estrelas, de uma maneira que apenas Agnès entenderia.
