61. Notificação Preferida | Gustavo Cuéllar

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A campainha tocou tarde da noite, mas Marina ainda não estava dormindo. Para ela, entretida nos estudos da faculdade e no projeto de iniciação cientifica, ainda era cedo. Iria madrugada adentro cercada pelos livros e anotações das aulas. No entanto, estranhou a chamada do porteiro. Não tinha pedido comida, e não esperava visitas, e mesmo que esperasse, normalmente o porteiro avisaria com antecedência. Mesmo assim, levantou-se apressada e correu em direção à porta, se surpreendendo com a pessoa do outro lado.

- Oi.

A voz arrepiou até o último fio de cabelo da garota, que travou e não soube nem o que dizer, nem o que fazer. Ali diante dela, a pessoa que ela tentava perdoar há quase 3 meses, quando, sem mais nem menos, ele partira, sem nem dar satisfação alguma a ela.

- O que você está fazendo aqui? - foi a única coisa que ela conseguiu dizer.

- Eu estou bem, Mari. Obrigada por perguntar. - ele disse rindo. - Como você está?

- Eu estava bem até abrir essa porta. O que você está fazendo aqui, Gustavo? - ela repetiu a pergunta.

O jogador pareceu sentir o peso do tom de voz da estudante, e respirou fundo antes de sorrir novamente e responder, com a mesma expressão das respostas anteriores.

- Vim te ver. Eu quase não aguentei de saudades suas. - ele estendeu o braço em direção a Marina, que desviou sem pensar duas vezes. - O que foi, meu amor?

- Não me chama assim. A gente terminou.

- Não. Você quem terminou comigo. Por mim, a gente continua junto. - ele tentou uma aproximação novamente, e pela segunda vez a garota recusou.

- Gustavo, não encosta em mim. - Marina disse com o coração batendo rápido. Quase não se lembrava de que ele era tão bonito assim. As sardinhas completando o cabelo levemente ruivo e a barba fechada tão atraente, que Marina se derretia só em pensar.

- Tudo bem. - ele ergueu as mãos em redenção. - Podemos conversar, por favor? Eu sinto muito a sua falta, Mari.

Marina sorriu, quase se entregando. Aquele era o Cuéllar que ela conhecia: gentil, bonito, calmo, um príncipe encantado, como ela mesma costumava definir.

- Tudo bem. Podemos conversar.

- Eu posso entrar?

- Eu tô bem aqui. - ela disse cruzando os braços. - E então?

Gustavo respirou fundo e Marina se preparou mentalmente para o que viria a seguir.

- Mari, me perdoa. Por tudo. Por ir embora, por não te avisar, por não te chamar pra ir comigo. Eu só... sabia o que você tinha aqui. Não sabia se você deixaria tudo por minha causa. Tive medo de te perder e te perdi mesmo assim.

A estudante controlou as lágrimas. Sentia a mágoa de Gustavo em suas palavras e sabia que ele sentia muito. Passou anos ao lado dele e aprendera a desvendar cada palavra, cada expressão, cada tom de voz do jogador. E podia dizer com toda a certeza do mundo que ele estava sendo sincero, o que só a deixava com mais raiva.

- Você simplesmente foi embora. Sem mais nem menos. Tem ideia do papel de trouxa que eu fiz quando cheguei na sua casa no final de semana, e o porteiro me disse que você foi embora? E que eu, sua namorada, aquela que você chamava de amor da sua vida, não sabia de nada? Foi humilhante.

- Eu sei. E droga, eu me arrependi no momento em que eu pisei naquele aeroporto. Pensei em te ligar, mil vezes. Pensei todos os dias em você. Sonhava contigo, sua voz, seu cheiro.

Marina revirou os olhos em raiva. Sabia que provavelmente era verdade, e sentia raiva disso.

- Eu te odiei por semanas, Gustavo. Chorei mais do que nunca. - ela não tinha vergonha de admitir isso. Pelo contrário, esperava que saber disso tocasse o coração dele. - Já doeu, mas hoje não dói mais. Doeu me importar. Doeu fazer questão de você, e saber que você não fazia. Tanto fiz que agora tanto faz.

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