Acontece que nós dois somos mentirosos.
Meus olhos estão nas ruas à medida que nos afastamos da nossa casa, olho para trás e vejo que Duda está distraída com seu brinquedo e me volto para frente, a mão em cima da minha barriga e me sinto incrível em imaginar que meu bebê está crescendo ali dentro de mim, logo abaixo da palma da minha mão, isso me ajuda a aguentar um pouco a dor. Vejo Carla intercalar os olhos entre a estrada e meu rosto. "Eu vou ficar bem, mana. Vai ficar tudo bem". Nesse momento eu não sei se estou tentando convencer a mim mesma ou a ela, penso que ambos.
Ver uma mulher em cima do meu marido foi uma das piores coisas que eu já vivi em minha vida, meu Deus a forma como ela rebolava em cima dele. Balanço a cabeça tentando exorcizar as imagens mas isso está além do meu controle. "Espera a gente chegar em minha casa, Lara. Não na frente dela". Aponta com a cabeça para trás e eu aceno que sim, meu peito vai explodir e o resultado disso vão ser muitas lágrimas. Como eu vou explicar isso para minha filha de três anos que é completamente louca pelo pai? Ele é um pai maravilhoso, mesmo com a banda e o sucesso ele nunca deixou Eduarda de escanteio. "Eu... eu não sei como vou fazer isso Carla. Eu não sei como vou fazer isso sem ele". Limpo a lágrima solitária que corre por minha bochecha e inspiro tentando me acalmar, não posso quebrar na frente da minha menina. Eu não posso.
"Não precisa ser sem ele Larinha, não precisa ser eu nunca vi um amor como o de vocês. Não me entenda mal, eu amo meu marido, mas você e o Harry...". Ela solta um suspiro apaixonado e eu seguro um riso sarcástico. "Não estou dizendo que vocês dois são perfeitos, longe disso. Mas vocês tem uma história linda, Lara. Não negue isso". Paramos na garagem da casa dela e seu marido já nos espera, carrego minha filha no colo e o cumprimento com um sorriso pequeno, Carla provavelmente já o atualizou me poupando de falar sobre isso, eu a amo ainda mais. Entrego Duda para ela e sigo até o banheiro, sento no chão e disparo todo o conteúdo do meu estômago no vaso, não me surpreendo quando minha irmã surge e coloca uma toalha úmida na minha nuca. "Ai meu Deus, mana. Vai ficar tudo bem". Eu não saberia explicar porque essa frase tão simples me derrubou completamente. Eu urrei sentido uma dor emocional imensa, tão perto de passar a ser física, lágrimas escorriam sem parar dos meus olhos e eu coloquei as mãos no rosto escondendo enquanto meu corpo inteiro tremia no chão. "Não Lara, por favor".
Ela sentou ao meu lado e me puxou em seus braços. Meu hálito fede a vômito e eu sou uma bagunça grávida e cheia de hormônios. "Você tinha que ver Carla, meu Deus eu gostaria de apagar a imagem daquela mulher montada nele, mas eu não consigo". Eu tremia no chão gelado e ela me segurava forte contra seu corpo esbelto. "Lara, tá na hora de vocês dois conversarem, eu não quero ver você assim e tenha certeza que ele também está sofrendo. Meu celular não para de vibrar com chamadas dele e mensagens. Por favor fale com ele".
Mais vômito. "Por Deus!!! Vou colocar meus órgãos para fora". Ela me olhou com ternura. "Seu bebê já é muito amado, mana. Tenha certeza disso". Fui invadida por um amor sem medidas enquanto as mãos dela descansavam sobre as minhas apoiadas no lugar onde nosso bebê crescia. Comecei a rir da cara boba dela e respirei fundo controlando a onda de náuseas que não passa. "Mana..." Ela toca meu joelho carinhosamente antes de continuar, meus olhos erguendo de encontro aos seus "Ele já ligou várias vezes..." Suspiro sabendo aonde ela quer chegar.
Eu queria tanto uma explicação para essa triste situação.
"É filho dele Lara, você escondeu essa gravidez por quanto tempo? Dois meses?" Concordei balançando a cabeça, minha barriga ainda não é visível. "Para onde você tem ido nesses meses Larinha?" Neguei fortemente com a cabeça, mas o movimento me fez enjoar ainda mais. Respirei fundo fechando os olhos e encostei a cabeça na parede. "Você não vai querer ouvir isso Carla e eu também não quero falar".
Ouvi seu suspiro e meus olhos parecem que vão saltar da órbita quando ouço um barulho alto seguindo do choro da Duda, levanto num salto e corro para ver que minha filha conseguiu se libertar do cercado e caiu provavelmente batendo a testa na mesa do centro e eu vejo sangue escorrendo por seu rosto pequeno se misturando as lágrimas. "Meu Deus Carla, você não fechou o cercado direito?". Minha irmã chorava enquanto eu carregava Duda no colo gritando por mim e por seu pai. "Liga pra ele Carla, liga agora e vamos pro hospital". Corremos pro carro dela que soluçava desesperada. "Eu juro que eu fechei Lara, meu Deus". Eu segurava uma pequena toalha em cima do corte tentando estancar o sangue enquanto minha irmã colocava o celular no viva voz ligava para ele que atendeu no segundo toque. "Carla? Isso é a Eduarda? O que aconteceu?" Ele parecia nervoso e escuto o som dos seus passos se afastando do barulho e uma porta fechando, provavelmente ele estava no trabalho.
"A Eduarda abriu o cercado e caiu, eu estava com a Lara no banheiro, eu... meu Deus Harry estamos indo pro hospital, ela está chamando por você por favor você poderia ir nos encontrar?" ele responde imediatamente com um "claro porra" e eu posso ver em minha mente sua expressão de possível agonia. Desço do carro correndo com minha filha nos braços e peço ajuda a uma enfermeira que passa e prontamente vem ao nosso socorro tirando minha menina dos meus braços. E então eu choro, minha blusa tem sangue, eu estou suja de sangue e tremendo quando ouço sua voz falando com minha irmã atrás de mim, me viro imediatamente e não penso duas vezes quando me jogo em seus braços. O abraço forte e sei que o peguei de surpresa porque ele leva pouco mais de um segundo para me apertar forte contra seu corpo grande e me balançar numa tentativa de me acalmar seu sussurro no meu ouvido me dizendo para me acalmar, que ia ficar tudo bem, que nossa menina era forte e para eu pensar em nosso outro bebê. Quando sentamos na recepção para aguardar notícias a enfermeira nos avisa que ela levou quatro pontos na testa e que o médico ia fazer uma tomografia porque a pancada foi na cabeça. Enquanto esperávamos acabei dormindo apoiada em seu ombro, acordei com um beijo no rosto e sua voz me despertando devagar.
Mais algumas horas e Eduarda estaria liberada para ir embora, o médico a deixou na observação esperando o resultado dos exames e os medicamentos agirem. Ficamos os três no quarto enquanto nossa filha dormia tranquila com um curativo na testa. "Vou pegar um café!" Carla quebra o silêncio enquanto joga a alça da bolsa no ombro e sai praticamente correndo do quarto. A mulher é sutil igual batida de trem. Harry ri baixinho percebendo que ela teve total intenção de nos deixar sozinhos. "Ei..." Eu o encaro quando ele fala. "Podemos jantar amanhã? Na nossa casa, nós três?" Seus olhos verdes pareciam cansados, grandes manchas escuras em torno deles um sinal claro do pouco sono que ele vinha tendo. "Eu poderia fazer isso Harry". Ele sorri para mim e eu retribuo, o apoio dele hoje foi de extrema importância para nós duas e precisamos realmente conversar. "Se você precisar ir para algum ensaio nós vamos ficar bem". Ele estica a mão até a minha e entrelaça nossos dedos e eu permito que ele o faça. "Não tenho nenhum lugar mais importante que aqui para estar".
Eu menti quando disse que não me importo.
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Her - (Hes)
FanfictionSua pele. Seu perfume. Seu olhar. Sua devoção. Seu beijo. Seu amor. Seu adeus. Ela. [LIVRO I - COMPLETO] [+16] tw: contém gatilho.