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Sem tempo para garotos como você.
Despertei com o som dos resmungos da Madu e passei as mãos pelo rosto indo até o berço, onde ela segurava nas barras tentando encontrar equilíbrio. "Então a mocinha já sabe ficar em pé ai? Vou ter que pedir para seu pai trocar esse berço". Ela sorriu e eu tive o vislumbre dos seus dentinhos superiores e dos inferiores tao pequenos, meu coração derreteu de amor por minha filha. Olhar seu rosto desperta milhares de emoções em mim, boas e ruins. Eu empurro todas as lembranças e angústias para o fundo da minha mente enquanto carrego o meu mundo nos braços.
A coloco no canguru e levo até o banheiro para tomarmos banho juntas, ligo a torneira e deixo a água morna enchendo a banheira enquanto canto junto com ela suas músicas favoritas. Giro segurando suas costas e dou pulinhos baixos a fazendo gargalhar em meu colo. Esse tipo de amor é único, eu faria tudo pela minha filha. "Minha princesa está se divertindo?" Me viro para a porta do banheiro e avisto Harry vestido um jeans rasgado preto que agarra seus músculos da coxa com perfeição, sua regata também preta coberta por uma camisa com estampa floral dobrada até os cotovelos deixando suas tatuagens expostas, as unhas perfeitamente pintadas em tons de preto e vermelho, seus dedos longos envoltos por anéis, com as iniciais da nossa filha.
Suspiro enquanto a vejo esticar os braços pedindo por ele então me aproximo e deixo ele a puxar do canguru. Me volto para a banheira e desligo a torneira e começo a separar os produtos que vou usar nela e em mim enquanto eles interagem a uns passos atrás de mim. "Isso meu amor, papai hoje vai trabalhar". Ela ri alto das cócegas que ele distribui em sua barriga rechonchuda. "Papa guitarra". Sorrio aproveitando que estou de costas para ele. "Isso meu amor, papai hoje vai tocar guitarra para um monte de gente dançar como você e sua mãe faziam há pouco. Agora volte para sua mãe que eu preciso ir". Ele distribui beijos por todo seu rosto e eu a pego nos braços. "A mama, papa". Eduarda começa a fazer barulhos de beijos e olhando para ele e pra mim.
Merda filha.
Harry sorri de lado me dando um rápido vislumbre da sua covinha e se aproxima de mim roçando seus lábios suavemente nos meus. "Não me espere acordada". A frase pode ser simples porque esses shows costumam terminar tarde mas os arrepios que correm por minha pele estão longe de ser bons. Isso pode significar tantas coisas. Eu não deixo esse medo me dominar quando finalmente me encontro sozinha com meu bebe e entramos na banheira para tomar banho, o que é a última ideia na cabeça da Duda. Quando terminamos o banheiro tem mais água fora do que dentro da banheira, mas o sorriso e a alegria dela não tem preço nesse mundo que eu não pagaria. Depois de vestidas decido pedir fast food e a comida chega no momento que a coloco no cercadinho.
Atendo a porta e me surpreendo com Carla parada segurando os lanches que comprei. "SURPRESAAAAAAA". Ela pula em mim e me agarra com o braço livre. "Não se preocupe já paguei os lanches. Por sinal, tem um exército ai dentro? Quanta comida". Ela entrou e Eduarda imediatamente começou a bater palmas e gritar para sua tia favorita e única. Sorrio com a cena do reencontro entre elas. Sentamos as três no sofá para devorar todos hambúrgueres e batata fritas que comprei e Carla me colocava a par das coisas que fez enquanto estava na América. "Você veio me surpreender ou tem algo mais nessa visita?"
Pego um punhado de batata frita e enfio na boca mastigando enquanto espero ela responder. "Bem, em primeiro lugar eu te amo e em segundo o Harry me ligou avisando do show e pediu que eu ficasse de olho em vocês duas". Passei duas batatas no molho e olhei diretamente para seus grandes olhos cor de mel. "Ele te ama muito Lara, eu não sei que merda está acontecendo mas eu torço que vocês resolvam. Inclusive..." Ela pausou e foi mexer na bolsa e pegou um papel me entregando e só então continuou a falar. "Vai atrás do seu homem, surpreenda ele hoje a noite, eu tenho certeza que ele vai amar te ver". Encarei minha irmã calculando quantos anos eu passaria na cadeia por assassina-la. "Você perdeu a merda da mente".
"Ei, cuidado com as palavras mocinha, eu ainda sou a mais velha aqui". Ela aponta com a cabeça para Duda que come sua batata distraída com o desenho que rola na TV da sala. Me volto novamente para Carla. "Perdeu sim, perdeu a porra da mente. Eu não vou para lá, é o último lugar que eu gostaria de estar".
Meia hora depois eu estava com a roupa trocada, usando shorts curtos pretos, uma camisa com a estampa da banda, uma maquiagem pesada como costumava usar nos shows que eu ia e meu batom vermelho que levei dentro da minha bolsa, me despedi das duas e entrei no táxi rumo ao local onde ele vai tocar com sua banda. Meu coração bate rápido que posso sentir meu pulso claramente, a medida que o carro avança vejo a multidão esperando, mas eu me desloco para o portão da produção, onde entro facilmente por ser esposa de um dos integrantes da banda.
Me arrependo imediatamente de ter ido sozinha quando meu rosto atinge um peitoral forte e olho para cima para encontrar os olhos castanhos de Ed me encarando. Ele deixa as mãos que seguraram meus braços para impedir um impacto maior caírem do lado do corpo e quando ele começa a falar disparo para longe dele, mas ele me alcança e me puxa para um canto mais silencioso, onde não tem tanto barulho e começa a falar.
"Lara, por favor só me ouve". Minha cabeça balançava em negação, meus cabelos pendendo para o lado. "Não me toque porra".
"Lara, eu estava fora de mim aquele dia, eu.. por favor Lara, eu conheço você desde sempre. Eu não devia ter feito aquilo. Nunca". Meus lábios tremiam de medo e com o choro preso, mas eu não me atreveria a chorar na frente dele. "O Harry tá no camarim, penúltima porta a direita. Mas Lara, você não pode fugir por muito tempo, a gente precisa conversar".
"A gente não tem nada para conversar, Ed. Nada, aceite isso".
"Ele sabe Lara?"
Paro de piscar diante da sua audácia. "Ele não sabe não é?"
"Não se mete nisso Ed ou eu juro que eu acabo com sua maldita existência. Você já causou dor demais".
Passo por ele indo à direção do camarim do Harry, o caminho não é longo mas se torna demorado a medida que eu tenho que pular fios, caixas com equipamentos e desviar de pessoas. Muitos me reconhecem e falam comigo felizes ou reagem com surpresa em me ver por ali. Cumprimento todos e alcanço a porta, giro a fechadura e me deparo com os outros integrantes da banda reunidos.
Puxo o ar com força quando me dou conta do que está acontecendo. A sala está abarrotada de mulheres, pode-se deduzir pelo menos duas para cada um deles. David tem uma loira ajoelhada batendo um boquete para ele, Mike está transando com outra no sofá e Harry tem uma morena fazendo um lap dance enquanto uma loira dança em pé ao seu lado. A mão dela deslizando por suas pernas sensualmente e eles só me notam ali quando eu solto um gemido de horror. Seus olhos verdes estão vermelhos quando ele vira em minha direção.
David e Mike focam em colocar seus pênis dentro das calças e Harry tenta empurrar a morena do seu colo mas não a tempo de me alcançar. Disparo no corredor o mais rápido que eu posso e quando chego perto da saída sou bruscamente puxada para trás. Me viro para encontrar Ed com um brilho vitorioso no olhar. "Você sabia, você sabia o que eles estavam fazendo lá, você queria que eu visse". Minhas lágrimas já corriam por meu rosto sem controle. "Eu queria que você visse que você escolheu o cara errado. Aquilo acontece malditamente em todos os shows Lara. E eu sou o único que não está lá dentro agora". Só percebi que tinha dado um tapa forte em seu rosto quando ele levantou a mão para massagear a bochecha. Sobre seu ombro eu vi Harry tentar se aproximar e ser impedido pelo produtor, eu aproveitei e corri na direção oposta.
Sai do local puxando o ar mas fiquei tonta de repente e toda comida que estava no meu estômago voltou. Vomitei me apoiando na parede dos fundos da arena onde o show ia acontecer. Estava suando frio e com a mão trêmula quando peguei meu celular e mandei uma mensagem para Carla.
Cuida da Duda hoje, eu não vou voltar para casa.
Desliguei o celular e guardei na bolsa, andei um pouco mais e sinalizei para o táxi dando meu destino, o mesmo de todas as noites que eu fujo daquela casa.
Por favor não perca seu tempo, eu não quero mais nada de você.
