O galo do mar cantou às cinco da manhã daquele dia. O garoto levantou resmungando, com os olhos pesados que mal se aguentavam abertos. Quando olhou o calendário mágico que tinha criado, desistiu de matar a pobre criatura por dois motivos: o primeiro era que o calendário se atualizava através do canto daquele ser desengonçado; e o segundo era que enfim o dia do Torneio de Fotia havia chegado.
"Hoje é o dia em que me poderei me redimir com papai. Tenho que dar meu melhor para que ele possa se orgulhar de mim e me perdoar."
Esse pensamento o fez se apressar em sua rotina e partir rapidamente para o refeitório. O mais rápido que sua perna manca permitia. Como sempre, encontrou mestre Arges se servindo.
- Pequeno Hefesto. Como está sua animação para hoje? Diga-me que está pelo menos um pouco empolgado.
- Bom dia, tio. Estou muito animado.
Arges ergueu sua única sobrancelha para o garoto.
- Sabe filho, nós ciclopes podemos ter apenas um olho. Porém, não se engane: conseguimos ver uma pessoa desanimada de longe. Se você está animado, eu sou um fada caolha dos Bosques de Pã.
Hefesto suspirou.
- Passei a noite revisando as teorias de seu livro: O ferro, a forja e a técnica. Só estou cansado. Estou pronto para utilizar o que aprendi nesse último ano. Quero vencer, tio.
Arges sorriu para o garoto.
- Isso é ótimo, filho. Venha, sente-se comigo. Os outros garotos ainda vão demorar uma eternidade para levantar.
- Será um prazer - sorriu de volta para o tio-avô.
Comeram em silêncio por um tempo.
- Me diga pequeno Hefesto, o que pretende fazer quando terminar os estudos aqui na forja?
Hefesto parou a colher na metade do caminho até a boca.
"Essa talvez seja a pergunta mais fácil que responderei hoje."
- Quero voltar para o Monte Olimpo e criar as melhores armas para meu pai e meus tios.
Arges ergueu a sobrancelha novamente, o que deixava Hefesto intrigado, pois mesmo tendo um olho a mais que seu tio ele mal conseguia erguer a grossa e ruiva monicelha de sua testa. Quem diria levantar apenas uma.
- E depois disso?
- Como assim depois?
- Depois, garoto. Vai ficar para sempre no Olimpo? Vai se casar? Ter filhos? Abrir sua própria forja? Quais seus sonhos, filho?
O garoto, com apenas 17 anos, descobriu naquele momento que só um sonho tomava seu coração. E ele não sabia o que fazer para torná-lo realidade.
- Acho que quero cuidar do meu filho, mestre Arges. Talvez... bem, se eu me tornar forte o suficiente e um bom ferreiro, talvez a mãe dele me aceite.
O ciclope ancião se se mexeu na cadeira. Rugas surgiram em sua testa.
- Isso pode ser complicado.
Um suspiro resignado foi toda a resposta que Hefesto pôde dar. Arges lhe deu alguns tapinhas nas costas.
- Uma coisa de cada vez. Seu pai confirmou que viria hoje, certo?
Os olhos de Hefesto brilharam.
- Sim. Mamãe e ele assistirão o concurso. Quero impressioná-los hoje. Vou vencer.
- Talvez não seja tão fácil, príncipe dos mancos - respondeu uma terceira voz.
Um garoto veio na direção deles com sua bandeja e sentou-se ao lado de Arges.
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A Forja de Sangue
FantasyPara moldar um bom ferreiro é preciso suor, sangue e lágrimas. Hefesto, príncipe do Olimpo passará por tudo isso. Contando com ajuda de elfos e anões da mitologia nórdica. Hefesto sempre foi um patinho feio no Olimpo. Rejeitado como guerreiro pela f...