Mia CarterAs minhas mãos ainda tremiam quando tentava encaixar as chaves na ranhura da porta e a vibração constante do meu telemóvel só contribuia para as minhas dores de cabeça. Tudo ainda parecia andar à roda enquanto passava pelo grande corredor da entrada.
Os seus olhos verdes curiosos estavam postos na televisão da sala estar que ainda passava notícias do tiroteio. Um close-up da minha cara é mostrado enfatizando a minha expressão de pânico e rímel que corria já pelas minhas bochechas.
" Uau, eles apanham mesmo tudo " Balbucio alcançando as minhas botas para as retirar.
A cabeça de Harry vira-se na minha direção e ele apercebe-se da minha chegada. O seu passo é acelerado e a sua respiração apertada quando me alcança e ambos nos abraçamos.
" Acabei de ouvir o que se passou. Tu estás bem ? " As suas mãos grandes apertavam os meus braços enquanto ele me analisava de cima a baixo vezes sem conta.
" Eu estou bem, Harry " Minto " Só um pouco atordoada "
" As tuas mãos dizem o contrário " Remarca apontando para elas que ainda não tinham parado de tremer. " Senta-te, eu vou fazer-te um chá "
Rapidamente se aprontou na cozinha a preparar o necessário e eu recusei. " Eu preciso só de tomar um banho, tirar esta roupa. Eu volto para o chá " Prometi massajando as minhas têmporas.
Subi as escadas até ao meu quarto e o barulho da porta a bater fez-me estremecer. Decidi respirar fundo e tentar ser racional por uns segundos. Falhei. Mas achava que um banho ia ajudar a acalmar tudo.
Passei uns bons minutos debaixo da água quente apenas a olhar para o vazio e a pensar em Bárbara e em Jack. O abraço conjunto que partilhamos à saída do restaurante tinha sido o momento mais reconfortante de que tinha memória nos últimos tempos. Saber que ele estava bem e que eu e a Bárbara tinhamos saído ilesas ainda me parecia irreal. Deixei uma nota mental a mim própria para lhes ligar enquanto saía do duche.
As toalhas estavam envolvidas no meu corpo e no meu cabelo quando eu me sentei na cama com o meu telemóvel em vez de me secar. A minha mãe tinha-me ligado imensas vezes assim como Amanda e Will e outros amigos próximos. Respondi numa mensagem à maquilhadora e liguei de volta à minha mãe. Assegurei-lhe de que estava bem e resumi os acontecimentos, terminando com uma promessa de que passaria lá por casa nos próximos dias. Tentei soar forte ao telefone e gostava de pensar que tinha conseguido.
No final da chamada, o meu cabelo já não estava encharcado, apesar de continuar húmido, por isso abandonei a toalha que outrora enchugava os meus fios negros. Um bater na porta acorda-me dos meus pensamentos e a sua voz familiar soa do outro lado a chamar o meu nome antes de entrar.
" Oh, eu vinha sugerir planos mas posso voltar mais tarde " Ele olha-me ainda segurando a porta junto ao seu corpo alto.
" Não há problema. O que vinhas sugerir? " Cruzo a minha perna ainda sentada na cama.
" O chá está já à temperatura ideal e estava a pensar, hmm Scrabble? " Ele mostra as suas covinhas antes de elevar a sua sobrancelha para mim.
" Eu não acho que seja uma boa ideia, Harry " Digo, aparentando um tom reprovador. " É que eu vou esmagar-te completamente nesse jogo e a nossa amizade nunca mais será a mesma " A sua expressão séria rapidamente se desfaz num sorriso desafiador. Eu queria que ele lavasse aquele olhar preocupado e protetor que carregava, fazia-me sentir pior apenas.
" Ah isso é verdade ? " Eleva ambas as sobrancelhas " Eu quero ver isso. Veste qualquer coisa para isto ser justo " Ele aponta abandonando o quarto para ir buscar o jogo, assumi.
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Unreachable ✈
FanfictionPorque talvez se conseguisse perdoar, sabendo que o passado é inalterável e o amor, aparentemente, o ideal inalcançável.