Soprei contra as minhas mãos que, perto da minha boca, estavam reunidas numa concha. As temperaturas de Londres tinham descido um pouco mais na última noite e a respiração que escorregava por entre os meus lábios para se transformar numa fumaça, num rasto temporário, reforçava o que se poderia adivinhar sem consultar um termómetro. Puxei o tecido negro do gorro para baixo, sem me importar com o reajusto do cabelo que voava com o vento. Eu estava surpreendida por não encontrar desconforto ou frio nas minhas pernas. No entanto, as minhas mãos geladas não eram de todo agradáveis enquanto agarrava o telefone e o desbloqueava pacificamente. Não estava pronta para voltar a utilizar lentes de contacto desde o funeral da tia Jay. Os meus olhos irritados e a minha fragilidade emocional tornavam o uso das lentes de contacto impossível. Eu podia sentir o meu corpo cansado mas não me importei demasiado. Não o tinha feito nestas semanas e não o faria agora, certamente. Eu ainda estava de luto.
O ruído citadino era um cântico simpático que soava num burburinho enquanto cortava a rua em direção ao Starbucks. Eu estava ligeiramente curiosa com o agrupamento de pessoas deste lado da rua. As grandes câmaras acompanhavam os esqueletos de microfones profissionais e corriam, sobre o ombro de um alguém, atrás de poucas pessoas. Uma delas elevava a sua voz acima de todas as outras com o auxilio de um megafone. Isso chegou para compreender que estariam a gravar algo em grande escala. Mas isso foi tudo antes dos meus olhos descerem de encontro ao ecrã reluzente. Eu avancei uns novos metros, presa no meu dispositivo móvel. Todavia, a minha atenção foi requerida quando caminhei por entre a pequena confusão de civis que se teriam aglomerado, movidos pela curiosidade.
Não estava espantada quando não consegui continuar o meu percurso. Contudo, fui abalroada pela surpresa que me atingiu ao reconhecer um dos inúmeros elementos do outro lado das grades.
" Ei! " Clamei, elevando o meu braço. A minha mão abanou, quase em urgência, adivinhando que precisaria de soar mais alto para conseguir alguma atenção. " Ei!! " Eu insisti, sabendo que o segurança se aproximava lentamente, talvez pensando que me calaria com a sua presença. Eu continuei.
" O'Brien! " Assobiei e, francamente, o meu assobio assombrou-o certamente.
Eu observei-o enquanto ele procurava, confiando exclusivamente na sua visão. O seu olhar cravou o meu, eventualmente, todavia, a sua expressão carregou-se com confusão. Pendurei a cabeça, sobre o meu ombro esquerdo, ao inclina-la ligeiramente. Eu não compreendi a sua reação por uns segundos antes de desviar o olhar e encontrar o meu próprio reflexo nos óculos que o segurança utilizava.
Claro, eu estava diferente!
Eu franzi os meus lábios e sobrancelhas, ignorando os avisos que o corpo de segurança deixava. Inclinei-me para voltar a encontrar o Dylan mas ele foi mais rápido quando se deslocou na minha direção. Nós estávamos instantaneamente afundados num mar de gritos e hormonas e eu sabia que tinha provocado esta reação. Ainda assim não suprimi a minha gargalhada quando o famoso O'Brien recuou um passo.
" Bárbara?! " Ele perguntou mas a sua voz perdeu-se no entusiasmo forte que se sentia deste lado da barreira.
Eu abri-lhe um sorriso, contente por se recordar. Os seus lábios quebraram-se num sorriso, naquele querido sorriso que tinha marcado a minha mente. Ele aproximou-se para abordar o segurança e em poucos segundos o corpulento homem auxiliou a ultrapassagem das grades.
" Bárbara! " Ele disse antes de embrulhar os seus braços à minha volta.
Eu podia facilmente admitir que o seu toque tinha as mesmas características que outrora desfrutei. Ele estava tão quente. " Dylan! " Eu balbuciei, com a cabeça encostada ao seu peito. A sua gargalhada provocou oscilações sob a minha cabeça e ainda existia aquela beleza aterradora.
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Unreachable ✈
FanfictionPorque talvez se conseguisse perdoar, sabendo que o passado é inalterável e o amor, aparentemente, o ideal inalcançável.