Mais que uma garota! - Klonnie

NOVE

Bonnie

Tem uma mulher miserável na cama, ela não está mais suada e ofegante, como acordou a algumas horas. Mas sua magia e seus pensamentos ainda estão em frangalhos.

Uma coitada que pela primeira vez está lidando com sentimentos viscerais tão conflituosos e tão fora dos padrões aos quais ela está acostumada. Sinto pena dela em certa medida, sempre condicionada a ser perfeita, sempre ensinada a obedecer às regras, instruída a ser humilde e não desejar aquilo que não pode ter. Se ela ao menos soubesse que pode tudo... Batidas na porta despertam a pobre diaba de seus pensamentos e eu me dou conta de que a mulher miseravelmente instável, sou eu.

"Entre." Digo com um fio de voz. Só percebi agora minha boca seca, embora eu não precise me preocupar com o tom de voz, já que os vampiros nesta casa escutam até meu patético coração humano bombear sangue pelo meu corpo.

Elijah fecha a porta atrás de si, ele tem o semblante preocupado, assim como estava ontem. Suas mãos estão em seus bolsos e ele se mantém distante. Às vezes eu odeio seus maneirismos, seu cavalheirismo de 10 séculos não me ajuda em nada e eu me dou conta de que preferia que fosse Niklaus à minha porta, com sua impaciência mercurial me mandando levantar da cama e parar de sentir pena de mim mesma. "Como se sente?" Elijah quer saber.

Eu me sento na cama e ajeito um coque no emaranhado de cabelos que caem pelas minhas costas. "Melhor." Eu minto sem me preocupar com o fato dele ser um polígrafo ambulante.

Elijah suspira, ele percebe que a situação é difícil e sabe que eu não facilitarei nada. "Precisamos conversar." Ele diz me analisando com cuidado. Passo as mãos pelo rosto na tentativa de espantar a confusão que me domina, eu preciso me concentrar nele, e ouvir o que ele tem a dizer. Eu abro a boca para falar, mas Elijah me silencia com um gesto de mão, ele anda até a porta e encontra Divo esperando que ela fosse aberta.

O original abre espaço para que o gatinho preto entre e pule na minha cama em busca de algum carinho. Ele volta a fechar a porta e se aproxima de mim, finalmente.

"Eu ainda não consigo explicar a visão profética que tive." Eu me apresso em esclarecer. "Não é sobre isso que quero falar." Ele responde com sua habitual tranquilidade. Eu engulo em seco sabendo exatamente qual nosso assunto inadiável, mesmo não querendo admitir a urgência disso, eu sinto que preciso logo resolver essa questão.

Elijah tem olhos acolhedores, sempre me passou confiança, mas agora, sinto nele um traço de mágoa. Ainda que sua máscara impávida se faça presente, eu posso ler melhor os sentimentos  contidos nas palavras não ditas. "Eu falava sério quando dizia que não queria dividi-la com ninguém." Ele diz sem mais delongas. Eu não consigo manter seu olhar, é inevitável desviar, não porque eu sinta vergonha, ou algo do tipo, mas sinto que faltei com minha palavra com Elijah, e isso sim me constrange. "Eu não fazia ideia de que as coisas tomariam este rumo. Tudo isso, está para além das minhas escolhas conscientes." Eu explico o melhor que posso.

Elijah pondera minhas palavras e continua. "Se ele for sua escolha eu posso entender, apenas me diga." Ele pressiona. Mil anos de história e Klaus sendo escolhido por mulheres a quem Elijah dedicou afeto, a frustração do homem é visível sob a casca do vampiro.

"Eu não estou escolhendo o Klaus, o que eu disse a você é verdade, eu me apaixonei Elijah, passei meses desejando que você me enxergasse, que me desejasse." Eu disse me aproximando dele e ficando de joelhos na cama para alcançar melhor sua altura. "As coisa com Klaus são tão confusas... Eu não sei." Desabafo minha confusão.