Mystery of Love

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Oh, oh woe-oh-woah is me
The first time that you touched me will wonders ever cease?
Blessed be the mystery of love

O celular de Taehyung começou a tocar tão alto que nos afastamos abruptamente e quase caímos da varanda. Ele levantou tão rápido quanto nos afastamos e entrou na janela que dava para o salão, conversando algo que não consegui entender, até voltar e chamar meu nome. Fui em sua direção e ele deu espaço para que passasse por aquela entrada/saída improvisada e voltasse ao salão.

— Yoongi me ligou. — Ele falou sem conseguir me encarar enquanto ia em direção a escada, o segui. — A Sra. Kim ficou preocupada com você e pediu que voltasse pra casa... Acho que deve ser um pouco tarde.

Não tinha noção do horário porque havia deixado meu celular em casa e não estava com um relógio. Também não senti coragem de perguntar as horas ao Taehyung por causa da cena de minutos atrás, queria fingir que não aconteceu (ou quase aconteceu). Passamos pelo matagal num silêncio constrangedor e dessa mesma maneira pulamos o portão e entramos no carro. Taehyung ligou o rádio e acendeu mais um cigarro enquanto dirigia, tentei me manter acordado, mas adormeci na ida até em casa.

Acordei no dia seguinte sentindo um cheiro forte de morango e com alguns flashes da minha chegada na noite anterior. Tive certeza que alguém tinha me carregado até o quarto e me cobrido, mas não lembrava quem. A única coisa forte na minha memória era o cheiro doce de Taehyung, mas queria acreditar que foi por ter passado parte da noite com ele e não que ele era o responsável por isso. Aliás, Taehyung era o tema principal na minha mente, que vez ou outra alternava com Seungho. Eu me forçava a esquecer que quase beijei meu chefe-vizinho-e-talvez-muito-improvável-amigo e que se não fosse pelo celular, sabe-se lá o que teria acontecido. Provavelmente teria perdido meu emprego e arruinado tudo que me esforcei para manter nos últimos meses. No final, a voz do meu pai ecoava dizendo "você é um inútil que estraga tudo que toca".

Levantei da cama e encarei a janela, pensando se a abriria ou não. Preferi deixar fechada, Yoongi não estava tocando piano naquela manhã e não faria a menor diferença se estivesse porque com certeza ele iria me ignorar - e com razão. Me arrumei rapidamente e enquanto descia as escadas me ocorreu que talvez Seungho ainda estivesse em casa, desacelerei meus passos e implorei para que ele estivesse longe daqui.

— Você preocupou todo mundo ontem.

Foi a primeira coisa que ouvi quando desci os últimos degraus. Seungho estava sozinho na sala, tomando uma xícara de café e encarando a tv ligada em algum programa matinal aleatório.

— Bom dia. - Respondi, ainda parado na escada e encarando meus pés.

— Se não fosse pelo contrato, eu aumentaria sua estadia por aqui. Você não mudou nada. — Ele pôs a xícara vazia na mesinha de centro e veio para onde eu estava — Sua avó quase passou mal quando fugiu daquele jeito, sorte que seu vizinho do cabelo esquisito falou que você estava com ele... Não acreditei, óbvio, principalmente depois do neto dos kim trazer você desacordado. Não quero nem imaginar o que aconteceu pra chegar naquele estado, mas não quis comentar nada, o pessoal já tinha aguentado confusão o suficiente e, diferente de você, não quero matar sua avó com preocupações.

Estava de cabeça baixa e com os punhos cerrados, tentando me acalmar, apertava tão forte minha mão que senti a palma ardendo de tanto que cravei minhas unhas. Meu pensamentos começaram a se multiplicar e se sobrepor uns aos outros, e meus olhos marejaram enquanto meu corpo inteiro tremia. Senti uma dor intensa na nuca, como se tivesse com um peso sobre minha cabeça, e no meu estômago também. Meus "problemas" com Taehyung se tornaram inexistentes com as reclamações de Seungho, pois a última coisa que queria era decepcionar as únicas pessoas as quais podia chamar de "família".

Morangos e Cigarros [TAEKOOK]Onde histórias criam vida. Descubra agora