Morangos e Cigarros [TAEKOOK]

Friday I'm in Love

Dressed up to the eyes It's a wonderful surprise to see your shoes and your spirits rise
Throwing out your frown and just smiling at the sound

Meu primeiro dia de aula em Seul depois da mudança foi um dos dois melhores dias que tive naquele lugar, lembro como se fosse hoje. Eu estava tranquilo lendo Evangelion pela milésima vez, isolado no canto mais distante da sala de aula, quando um Mingyu de 13 anos surgiu na minha frente e perguntou sobre o que era a história que eu estava lendo. Tive duas reações, a primeira foi um susto acompanhado de um grito que chamou atenção da sala inteira; e a segunda foi um choque por conhecer alguém que não sabia o que era Neon Genesis Evangelion, porque na minha mente solitária de pré-adolescente, todas as pessoas conheciam aquele mangá, ou ao menos o anime.

O segundo dia foi aos 16 quando conheci Yugyeom e ele reconheceu a referência a Evangelion que Mingyu fez - porque obviamente a minha obrigação como amigo foi mostrar toda história de Shinji Ikari -, nos aproximamos no mesmo momento e toda noção que tinha sobre o que era amizade, aprendi nas tardes que passamos discutindo sobre as diferenças entre o mangá e o anime.

Porém, ainda que gostasse da presença de Yugyeom e Mingyu e entendesse toda importância que nossa amizade teve em minha vida, não me sentia realmente conectado a eles e em várias de nossas férias escolares, preferia me isolar assistindo séries e filmes ou jogando algo no videogame. Isso facilitou muito minha mudança para Gwangju, me despedir deles foi a coisa mais fácil que fiz em toda a minha vida e atualmente não tenho contato com eles, isso se perdeu tão rápido quanto nossa despedida. Sentia falta, mas logo passava, porque entendi que nossos momentos juntos foi algo que iria deixar de existir de qualquer forma. Seja por causa do tempo, ou porque eles seguiram felizes com suas vidas.

Era tão compreensivo em perder amizades porque minha mente esquisita achava que eu não deveria incomodar ninguém com as minhas conversas malucas e nada a ver, e muito menos que deveria falar sobre meus problemas de família disfuncional. Parecia que Yugyeom e Mingyu não se importavam comigo, mas a verdade é que sempre fui eu quem não fazia questão de me apegar a eles, e saí de Seul com meu lema de nunca falar com alguém a menos que falassem comigo.

Mas as coisas se tornaram diferentes do que esperei que seriam aqui em Gwangju. Desde que encontrei Taehyung, eu sentia uma necessidade absurda de me aproximar e conhecê-lo, mesmo sem trocar mais que uma frase completa. Ele me intimidava, e por várias vezes quis sumir de sua vista a cada encarada que recebi nos dias de trabalho na fazenda, mas isso estranhamente me fazia querer saber mais sobre ele. Tudo relacionado a ele era confuso e perturbador, o que acho esquisito, porque com Yoongi, Jimin e Namjoon funcionou diferente. Eles vieram até mim - como Yugyeom e Mingyu fizeram - e nunca precisei fazer esforço algum para que eles tentassem amizade comigo. Taehyung ter me enfrentado por não falar com ele, saia completamente da minha zona de conforto e agora espero ansioso sua reação.

Foram alguns segundos até ele corresponder minha tentativa de iniciar uma conversa de verdade, com seu sorriso retangular e olhos um pouco espremidos que em qualquer outra pessoa ficariam no mínimo estranho. Seu cheiro parecia mais forte que o normal, e a sensação de estar tudo em câmera lenta a minha volta me atingiu em cheio, como no dia que nos conhecemos.

- Por que eu tenho que obedecer qualquer pessoa superior a mim, somente porque ela tem algum tipo de autoridade em determinado horário do dia? - Continuei - Não faz o menor sentido!

- Sim?! às vezes comento isso com Yoongi, mas até ele discorda e diz que não devemos "questionar nossa cultura". - Ele imitou a voz de Yoongi - Ele fala como se nossa cultura aceitasse o fato dele ser gay!

- Panssexual. - Corrigi quase que automaticamente.

- Até você? - Ele bufou, soltei umas risadas - Acho que tá andando demais com ele, vou ter que te demitir.