Pressure

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Some things I'll never know and I had to let them go
I'm sitting all alone, Feeling empty

Desde o dia do restaurante, me aproximei mais dos meninos. Yoongi cada vez mais se tornava o irmão mais velho que nunca tive, com um cuidado excessivo e sempre me dando conselhos que nunca pedi. Ele até implorou para que eu o chamasse de hyung, e só o fiz porque ele prometeu que iria cobrir algum dia meu caso precisasse; Jimin e Namjoon eram minha companhia favorita nas discussões sobre animes, música e receitas de lámen e com Taehyung as coisas eram um pouco estranhas. Ele se afastava, depois agia como se fosse meu amigo mais íntimo, às vezes entrava no modo "sou seu chefe e falarei apenas sobre a fazenda" e então voltava a ficar distante. Era assim todos os dias, mas não necessariamente na mesma ordem.

Pensei até em comentar com Yoongi, mas desisti. Ficava nervoso só de pensar em me abrir sobre meus sentimentos estranhos em relação a meu chefe - que fora do trabalho não agia e muito menos queria ser lembrado como um. Não queria ninguém, além de mim mesmo, me julgando ser um completo maluco por querer agradar tanto uma pessoa que me me deixava ansioso, nervoso, confuso e a ponto de desmaiar somente com o cheiro, só porque uma vez na vida tivemos uma conversa amigável. Pensar isso, pra mim, já era humilhação o suficiente.

Mesmo todos os dias tendo um ataque cardíaco diferente perto de Taehyung, minha vida estava normal até demais e isso me assustava. Tudo mudou para melhor desde que coloquei meus pés em Gwangju, parece que estou vivendo num universo paralelo onde existe um Jungkook que leva uma vida normal, sem família autoritária, com amigos para quem pode contar problemas comuns e que não tem um surto psicótico por causa do pai. Mas uma parte de mim acreditava fielmente que alguma coisa de ruim iria acontecer, porque o universo estava sendo muito bom comigo e em algum momento ele iria entrar em equilíbrio me trazendo um tsunami de desgraças.

Só não imaginava que seria tão de repente.

Acordei com o som do piano elétrico de Yoongi e suas reclamações sobre o cheiro de cigarro do Taehyung chegando em seu quarto. Gargalhava toda vez que sua cara de sono percebia o cheiro, e mais ainda quando ele soltava um "bom dia" todo simpático para mim antes de fechar a janela e gritar pelo Tae. É impossível sentir qualquer tipo de mau humor quando vejo essa cena todos os dias.

Tomei meu banho e vesti as roupas pretas de sempre. Agora tinha um "guarda-roupas de jovem", como vovô nomeou, que na verdade era um armário antigo do Jin que ainda estava em bom estado. Analisei os cabides, já tinha usado quase tudo ali e me perguntei se devia comprar algo novo porque agora saía com mais frequência e talvez as pessoas notassem que estava repetindo roupas. Desisti da ideia quando imaginei a voz do Yoongi me chamando de burguês safado por querer comprar "a mesma blusa preta que ninguém vai notar a menor diferença, apenas você".

Desci as escadas animado, mas tudo se esvaiu quando ouvi uma voz.

— Seu café está muito bom, Sra. Lee.

Não, não, não, não. Repeti como um mantra na minha cabeça, de olhos fechados. Ele não, por favor. Tudo menos ele.

A realidade bateu tão forte quanto um soco, só de saber que assim que descesse os últimos degraus, iria ver o motivo do meu inferno particular tomando café como se fosse uma pessoa normal. Minha barriga revirou e minha cabeça doeu levemente. Massageei as têmporas, enquanto respirava fundo tentando me acalmar.

— Jungkook deve ter acordado - Ouvi a voz da tia Kim, ainda paralisado — Jungkook-ah!

Respirei fundo mais uma vez e contorci meu rosto num sorriso forçado. Quando Tia Kim me puxou, vi que Tio Kim a acompanhava e logo veio ao meu encontro, me cumprimentando com um aperto de mão.

Morangos e Cigarros [TAEKOOK]Onde histórias criam vida. Descubra agora