CAPÍTULO I - Por Alexandra Poltz

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É engraçado como não damos o devido valor e importância para o que nossos pais nos dizem e ficam batendo na tecla, como coisas que não devemos fazer ou coisas que devemos repensar antes de fazer.

São em momentos como o que estou passando agora, que paro para pensar nessas coisas. Droga! Eu não devia fazer isso agora! Não na hora em que estou prestes a entrar para mais uma das minhas entrevistas de emprego. Depois de mais de um ano tentando vaga na minha área de formação e não conseguir nada, me rendi a arrumar qualquer coisa, em qualquer ramo que surgisse e se transformar-se em oportunidade.

Não aguentava mais, o fato de esperar parada, o emprego dos meus sonhos cair do céu! Sei que não aconteceria como ocorre em alguns filmes, livros, novelas, onde a mocinha esbarra num homem, na maioria das vezes, lindo demais para ser de verdade. Trata-se esse homem daquele que será o seu grande amor e esse lhe oferecerá uma chance irrecusável ou de um trabalho, ou de um casamento arranjado para receber uma herança, ou de uma única noite de sexo sem compromisso e depois se apaixona perdidamente por ela. Ah, e claro! Depois vivem felizes para sempre!

           

Como a maioria dos adolescentes, a dúvida sobre qual carreira seguir me pegou de jeito e me amarrou em sua teia, como se eu tivesse perdido a total capacidade de raciocinar, não conseguindo nem chegar nas três mais, onde uma teria a chance de ser a escolhida.

Não queria seguir a ideia dada pelas minhas tias paternas, que apregoavam as maravilhas sobre o magistério, como era gratificante tirar um indivíduo da ignorância e trazer para a luz da sabedoria. Juro, que às vezes pensava nas minhas tias sentadas num círculo, em algum clube ou sociedade secreta, discutindo sobre um pouco de tudo, fumando orégano. E quando me davam ideias como essa de seguir o magistério, estavam ainda sob o efeito da fumaça. Eu poderia não saber o que queria ser, mas tinha certeza de que magistério não seria, porque pessoa mais impaciente do que eu, ainda estava para nascer!

Meus pais falavam para eu escolher bem, pois isso definiria toda a minha vida (como se eu não pudesse mudar mais para frente, mas...). Também não queria a carreira que estava na moda na minha cidade, engenharia de produção, por morar em uma cidade petrolífera.

Medicina ou área de saúde, também estava fora de cogitação, mal suportava ver meu próprio sangue, quem dirá ter contato com o de outras pessoas. Sim, eu sou nojenta para muitas coisas.

Então, baseada na ideia de que arrumaria um excelente emprego e teria muito sucesso, fui cursar administração de empresas. O mais sem noção é o ponto de sempre ter considerado uma loucura, as pessoas escolherem esse curso na minha cidade, por se tratar de uma cidade pequena. Pensava: o que as pessoas iriam administrar? Tudo bem, que eu não entendia os conceitos profundos responsáveis por reger essa área, mas nada me demovia desse pensamento.

Meus pais, não me aplaudiram na escolha desse curso, mas também não me diminuíram e muito menos deixaram de me apoiar. Só falaram para eu pensar bem e ver o mercado de trabalho. Eles defendiam o principio de apoiar as idéias dos filhos e se errarem que fosse por suas próprias escolhas. Eles fiscalizavam meio de longe, só interferindo quando as escolhas fossem totalmente sem noção. E minha escolha não entrava no caso (pelo menos, eu pensava assim).

No início do curso, estava mais perdida do que cego em tiroteio, mas aos poucos e com o passar dos períodos fui tomando gosto pela área e me apaixonando pela profissão. Apesar de todo esse fascínio não ter diminuído o meu medo do que viria após eu estar formada, quando eu me encontrasse do lado de fora dos muros da universidade, disputando vagas de emprego com mais milhões de formados.

No embalo do destino (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora