CAPÍTULO IV - Por Diego

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Acabei o almoço com certa dificuldade, pois sentia o olhar pesado do meu pai sobre mim, ainda bem que as conversas a mesa ajudaram a diminuir um pouco do desconforto.

Fui salvo pela tagarelice do meu irmão mais novo de dez anos, o Daniel. Sempre agradecia a Deus por sua existência, não que eu fosse o ser mais religioso do mundo, mas nesses momentos de tensão, o Dani sempre desanuviava o ambiente despejando uma enxurrada de informações.

 Ele era a raspa do tacho, como costumava dizer a minha avó Bia.

Quando minha mãe descobriu que estava grávida novamente, eu já tinha quinze anos. Foi uma surpresa para todo mundo, principalmente para mim, pois achava que meus pais já tinham passado da fase de ficar de namoro e saliência. Na boa, fala sério, é muito esquisito pensar que meus pais fazem sexo, prefiro pensar, que só fizeram duas vezes para procriar. Fizeram eu e a mala do meu irmão e pronto! Nunca mais!

Na época da descoberta da gravidez, meus amigos me zoavam, falavam que eu perderia meu posto de príncipe da família, ficaria em segundo plano e tal. Nunca dei bola para isso, na realidade não dimensionava como seria. Só tinha a certeza que não me sentia ameaçado, pensava que seria legal, ter mais alguém em casa. Ser filho único, poderia ser opressivo, afinal de contas tudo sempre só recairia sobre mim, seria bom ter alguém para dividir esse encargo.

No dia do nascimento, fomos para a maternidade super cedo, nem reclamei de levantar. Estava tão ansioso, que mal havia dormido. Curioso para conhecer aquele menininho que eu todo dia sentia mexer na barriga imensa da minha mãe. Depois do que pareceu serem dias sem fim (em torno de umas duas horas), o Dani veio ao mundo. Meu pai parecia um pavão, todo garboso e de peito inflado, quando abriu a porta do quarto trazendo nos braços aquele pequeno embrulho azul, onde o Dani estava.

Não sabia explicar o que estava sentindo, só sei que me bateu um amor tão grande, sabia que a partir daquele dia, aquele pequeno ser tomaria parte do meu coração, eu o amaria e faria de tudo para fazer ele feliz e proteger de qualquer coisa.

Passado o meigo momento de nostalgia, o sentimento continua, lógico que em conjunto com a sapiência de que meu irmão também sabe ser chato e perturbar muito em todos os momentos possíveis. Só que não abriria mão dele por nada, não o trocaria, venderia, doaria, nada disso. Ele era uma cópia muito melhorada de mim nessa fase, muito parecido nos traços, mas tinha uma maturidade inexplicável para alguém de dez anos. Nessa idade eu curtia carrinhos, jogar bola e conversar seriamente sobre desenhos animados e jogos de vídeo game, enquanto o meu irmão gostava de assistir a telejornais, fazer pesquisas sobre experiências de ciências, além de fazer tudo àquilo que eu fazia na minha infância. Quando digo que ele é uma cópia muito melhorada de mim, não estou de brincadeira. O moleque era quase um E.T.

Em meio a minha preocupação, pelo o que viria quando fosse conversar com o meu pai, agradeci muito pela a presença do meu irmão ali, para me distrair e me tranqüilizar um pouco antes do embate.

O pirralho parecia que sabia o que estava fazendo, pois olhou para mim enquanto despejava um trilhão de palavras ao mesmo tempo e piscou um olho, como se dissesse: Relaxa mano, estou por aqui, vou segurando as pontas e vou te ajudar. Você vai tirar de letra o que estiver por vir.

Sorri para ele e acenei com a cabeça em agradecimento.

No embalo do destino (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora